domingo, 23 de outubro de 2016

A Extinção da Disciplina de História

Alguém disse certa vez, muito antigamente, que enquanto os cães latem, a caravana passa. Tenho a impressão que esta frase sucumbiu ao tempo e deve ser substituída pela seguinte frase: “Enquanto a caravana passa, os cães assistem em silêncio”. Aparentemente, as pessoas não estão percebendo que a disciplina de história está sendo retirada das escolas, ou não estão se importando. Até o momento, não vi nenhum questionamento, sobre as consequências dessa atitude, seja mostrando os benefícios ou prejuízos.
Segundo notícia que li semanas atrás, o Japão estuda a possibilidade de extinguir todos os cursos de ciências humanas. Suponho que direito, administração e economia não sejam considerados ciências humanas no Japão, como acontece no Brasil, que divide os cursos acadêmicos em Ciências Humanas e Desumanas, ou Exata e Inexatas. Ou algo parecido com isso. A Austrália substituiu, ou vai substituir, a disciplina de história pela disciplina de programação de computadores. O Brasil tem um projeto que pretende substituir as disciplinas de história, geografia e filosofia por “Educação Moral e Cívica”.

Em primeiro lugar, é necessário lembrar que a finalidade da disciplina, ou do curso de história, é proporcionar ao ser humano o conhecimento daquilo já foi feito ou deixado de fazer pela humanidade, ou seja, apresentar paras as pessoas o retrato do passado. Infelizmente não é isso que tem ocorrido nas aulas de história, lamentavelmente, em vez de apresentar o retrato da história, estão apresentando narrativas que a atendem aos interesses de grupos. A narrativa marxista é diferente da narrativa cristã, a narrativa dos católicos é diferente da narrativa dos protestantes, dos evangélicos, pentecostais e assim por diante.

Considerando que o objetivo da disciplina está sendo deturpado, é mais ético eliminar a disciplina do que usá-la indevidamente, mas isso é o mesmo que culpar o sofá pela traição da mulher. O correto seria começar a praticar o verdadeiro objetivo da disciplina, substituindo as narrativas pelo retrato, mas isso implicaria em um problema político enorme, se não existe uma narrativa capaz de agradar a todos, com certeza o retrato da história vai desagradar todas as narrativas.

A melhor maneira de entender por que a disciplina está sendo eliminada, em vez de corrigida, é analisando o projeto brasileiro, que substitui história por educação moral e cívica. Como mostrar na aula de história, que os militares inventaram a disciplina de educação moral e cívica, mas após o período militar a disciplina foi considerada inadequada para um país democrático, ou melhor, como mostrar que a disciplina de educação moral e cívica fez parte do currículo dos políticos que institucionalizaram a corrupção no país?

Se existe uma utilidade para o estudo da história, é justamente conhecer os erros do passado para não repeti-los, a única utilidade para a eliminação da disciplina, é justamente poder repetir os erros do passado sem que as pessoas percebam. Como a tendência de eliminar a disciplina de história parece ser mundial, seria conveniente que as pessoas do mundo inteiro começassem a se perguntar: qual parte da história o mundo pretende repetir?

No caso do Brasil, parece que o objetivo é restabelecer o modelo político do período militar, onde havia uma hegemonia política com uma oposição impotente. Esse quadro já está devidamente estabelecido desde a chegada do PT ao poder, aliás, o projeto que substitui a disciplina de história por educação moral e cívica é projeto do PT. Agora o público está sendo convencido de que o Brasil passa por grande mudança, onde os partidos que compartilharam o poder, e a corrupção, com o PT, continuam no poder e a oposição que antes era impotente, agora é praticamente inexistente, uma vez que o PT e seus aliados, que seriam a oposição, não conseguem mais nem reunir pessoas para distribuir sanduíche de mortadela.

Será essa a repetição da história, em âmbito mundial, uma hegemonia política? Até o momento, não houve na história uma hegemonia política mundial, então, supostamente, não seria necessário eliminar a disciplina de história para implantar essa hegemonia, mas existe na história, vários exemplos de hegemonia política localizada. Um exemplo típico é a URSS, mas o exemplo mais importante, é a hegemonia política do cristianismo na Europa, onde não importava quem era o Rei governante, nem quem era o Rei inimigo, ambos atendiam aos interesses de uma mesma instituição, a Igreja Romana.

Não pretendo sugerir que exista uma instituição que estará presente em todos os governos, mesmo aqueles que estejam em guerra, como aconteceu com a Igreja Romana, não compartilho com as teorias conspiratórias de que uma sociedade secreta vai implantar um governo mundial, mas a possibilidade de que todos os governos, e consequentemente as populações, sigam uma mesma forma política de pensar, parece muito evidente.


(Milton Valdameri, outubro de 2016).

Nenhum comentário:

Postar um comentário