sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O Fim do Estado Islâmico e a Nova Ordem Mundial

Devido à existência de muitos vídeos e textos produzidos por mistificadores e enganadores de várias espécies, que circulam na internet com grande quantidade de visualização e repercussão, torna-se indispensável iniciar este ensaio explicando o verdadeiro significado da expressão nova ordem mundial. A ideia de sociedades secretas conspirando para implantar uma nova ordem mundial, inclusive conspirando umas contra as outras, é ridícula por vários motivos, mas o principal motivo é, sem dúvida, o fato de que, se essas sociedades secretas existem, então elas não podem ser secretas, pois são mais famosas na internet que as empresas que fazem publicidade e seus atos e objetivos são mais conhecidos que qualquer outra instituição. Este será um ensaio muito longo.

 Pela própria natureza do mundo, sempre existiu uma ordem vigente, que mais dias ou menos dias, acabam sendo substituídas por uma nova ordem, foi assim com a conquista do fogo, com invenção de armas e ferramentas, com o surgimento da agricultura e da domesticação de animais, mudanças climáticas como o fim da era glacial, todas essas coisas estabeleceram novas ordens mundiais. É possível dizer com grande segurança, que a base da ordem mundial vigente é a vitória de Roma sobre Cartago, desse evento histórico emergiu o Império Romano, sendo a base principal de influência para a ordem mundial vigente atualmente, inclusive a globalização econômica e cultural.

Alguns eventos históricos são especialmente determinantes para entender a ordem mundial vigente na atualidade, são eles: 1) O cristianismo se tornar religião oficial de Roma; 2) O Império Huno dominar a maior parte da Europa; 3) A colaboração dos Godos com o Império Romano, inclusive recuperando a Itália e a península Ibérica do domínio da colisão de bárbaros que derrubaram o império romano do oriente; 4) O domínio da península Ibérica pelos árabes, que por sinal é responsável pelo uso dos algarismos hindus pelos ocidentais (costumam dizer que são arábicos, mas não são) e reintroduziu na Europa o conhecimento sobre os filósofos gregos, além de construírem muitas bibliotecas, ao mesmo tempo em que o cristianismo tinha destruído todo o modelo de conhecimento secular; 5) O surgimento do mercantilismo, a revolução industrial e a teoria do livre mercado de Adam Smith; 6) O padrão ouro como moeda global; 7) O surgimento da URSS, criada por Stálin, Lênin criou a República Soviética e isso não tem muita relevância para a ordem mundial vigente hoje; 8) A segunda guerra mundial; 9) A guerra fria entre o bloco ocidental liberalista e o bloco oriental marxista; 10) A derrota da URSS na corrida armamentista; 11) A revolução dos Aiatolás no Irã; 12) O fim da URSS; 13) O ataque aos EUA em 11/09/2001; 13) A guerra ao terrorismo; 14) O surgimento do Estado Islâmico; 15) A derrota do Estado Islâmico.

Evidentemente que o desenvolvimento da tecnologia é um fator muito importante para a ordem mundial vigente, mas isso não pode ser identificado em momentos históricos, é algo que ocorre constantemente, inclusive porque as invenções mais significativas demoram em influenciar a ordem vigente, então não é viável incluir o desenvolvimento da tecnologia neste ensaio. A ordem mundial vigente, assim como a ordem mundial que se mostra mais evidente como nova ordem mundial, podem ser entendida com razoável profundidade, entendendo a conjuntura a partir da guerra fria e o desenrolar desse confronto.

A guerra fria era baseada em duas disputas, uma era a disputa pela hegemonia do modelo econômico liberal, baseado no livre mercado e praticado pela Europa ocidental, EUA e seus aliados, contra a hegemonia do modelo marxista de economia planificada, praticada pela URSS, por países dominados pela URSS na Europa oriental e alguns países da Ásia, como por exemplo a China. O bloco do modelo de economia liberal era denominado de primeiro mundo e o bloco do modelo de economia marxista era denominado de segundo mundo, os países que não se enquadravam em nenhum desses modelos eram denominados de terceiro mundo, sendo que alguns eram considerados subdesenvolvidos e outros em desenvolvimento (agora denominados emergentes). A outra disputa era a corrida armamentista, onde EUA e URSS disputavam a hegemonia do poder bélico no mundo.

A URSS tinha perdido a disputa do modelo econômico antes mesmo da disputa começar, basta observar que Lênin, após o fim da guerra civil na Rússia, abandonou o modelo econômico marxista e adotou o modelo liberal, conseguindo proporcionar o maior desenvolvimento que já existiu na história da Rússia. Se Lênin tivesse vivido por mais dez anos, a história da humanidade seria totalmente diferente e o marxismo teria desaparecido há décadas, mas o modelo adotado por Lênin durou apenas seis anos e foi substituído pelo modelo marxista dois anos após sua morte, por determinação de Stalin, que fundou a URSS. Por esse motivo a Revolução Russa (revolução de outubro) não pode ser considerada um fator determinante para a ordem mundial vigente, ela abandonou o marxismo por conta própria.

Por aproximadamente sessenta anos, a URSS viveu com um modelo econômico fictício, embora a Rússia fosse (e ainda é) riquíssima em minério, inclusive petróleo, jamais conseguiu proporcionar desenvolvimento para sua população, no entanto conseguiu financiar a Alemanha nazista na segunda guerra mundial (até ser atacada por Hitler) e desenvolver poder bélico para rivalizar com os EUA. Quando Stálin morreu, seu substituto, Nikita Khrushchev revelou ao mundo os crimes de Stálin, causando fraturas nos partidos comunistas do mundo, mas também revelou que a URSS estava quebrada desde sempre. Portanto a derrota do modelo econômico marxista foi admitida em 1954, com a posse de Nikita Khrushchev.

A principal missão do sucessor de Stálin era resolver os problemas da economia, mas a oligarquia política da URSS não cogitava mudar o modelo econômico, evidentemente Nikita Khrushchev fracassou em fazer o modelo marxista funcionar e foi substituído por Leonid Brejnev em 1964. Com o novo presidente, o modelo marxista continuou sem apresentar algum resultado positivo, e a única opção para vencer a disputa dos modelos de economia era um fracasso maior no modelo liberal.

A primeira crise do petróleo, em 1973, colocou o modelo liberal sob provação. A versão oficial para a causa da crise é uma retaliação da OPEP aos EUA, por ter apoiado Israel na Guerra do Yom Kippur, quando Egito e Síria romperam o acordo de cessar fogo e atacaram Israel no dia do feriado que deu nome à guerra. O apoio dado pelos EUA a Israel foi apenas fornecendo petróleo, esse seria o motivo de fazer uma retaliação aumentando o preço do petróleo.

Mas existem questões obscuras em relação à essa versão oficial. Países como Arábia Saudita, Iraque e Kwait tinham bom relacionamento com os EUA, o Irã tinha inclusive bom relacionamento com Israel, não faz sentido esses países iniciarem um conflito com um aliado tão poderoso, principalmente porque esses países dependiam dos EUA e de outros países aliados dos EUA para a maioria dos produtos, que obviamente teriam seus preços aumentados como consequência do aumento no preço do petróleo, é como atirar na vidraça do vizinho para quebrar o vidro e ser atingido no próprio pé, pelo ricochete do projétil.

O único agente político que seria beneficiado com a crise do petróleo seria a URSS, inclusive na economia, pois era grande produtora de petróleo, abalaria a credibilidade do modelo liberal e como não fazia parte da OPEP, abriria portas para vender seu petróleo, inclusive mais barato. É importante lembrar que, com o fim da URSS, vieram à tona vários documentos mostrando que a segunda guerra mundial foi um projeto do Stálin, esse documentos mostram que Hitler, o Nazismo e a Alemanha foram os instrumentos usados por Stálin. Então não deveria ser difícil usar a Síria e o Egito, que eram alinhados com a URSS, para provocar uma guerra com Israel e provocar um crise no bloco da economia liberal. Mas também não devemos esquecer que políticos são peritos em fazer besteiras, a primeira guerra mundial só aconteceu devido a idiotice do imperador alemão. Então, é aconselhável não descartar nenhuma das hipóteses.

Independentemente de quem causou a primeira crise do petróleo, a imagem apresentada para o mundo durante esse período era de um bloco liberal em crise e de um bloco marxista estável, pois a crise no bloco marxista sempre foi acobertada. Mas o modelo liberal saiu vitorioso, o livre mercado superou a crise e os grandes prejudicados foram os países do terceiro mundo, que não enfrentaram a crise com o livre mercado, mas com intervenções do estado na economia, o resultado foi um processo inflacionário que saiu do controle e levou aproximadamente duas décadas para ser controlado.

Ao contrário do que a crise do petróleo poderia oferecer à URSS, que seria a ruína do modelo liberal, a situação mostrou que o modelo liberal tem grande capacidade de superar crises, mas o modelo marxista não é capaz de sair da estagnação. A disputa entre os modelos econômicos estava mais que decidia em favor do modelo liberal, restava à URSS apenas a disputa na corrida armamentista. Mas é necessário entender que as armas atômicas não tinham relevância na corrida armamentista, por um motivo simples, os dois lados possuíam armas atômicas suficientes para destruir o inimigo, então, iniciar uma guerra com armas atômicas significava iniciar a própria destruição, não importava quem seria destruído primeiro, o outro lado sempre conseguiria reagir a tempo de destruir o lado que atirou primeiro.

A guerra fria ficou restrita à corrida armamentista de armas convencionais, mas durante o governo de Jimmy Carter (20/01/1977 à 20/01/1981), os EUA desenvolveram doze projetos militares que estabeleceram a superioridade bélica em favor dos EUA, a corrida armamentista também estava decidida em favor do bloco liberal. É oportuno lembrar que, embora financiados pelo governo Carter, o governo americano não tem a atribuição de desenvolver armas, essa é uma atribuição das forças armadas, que são instituições de estado e não instituições de governo, portanto não deve ser entendido como um mérito do governo Carter, deve ser entendido apenas como um fato acontecido durante seu governo.

Essa informação sobre a supremacia americana ter sido atingida durante o governo Carter só foi tornada pública pelo filho de Nikita Khrushchev no documentário “Comunismo Uma Ilusão” e até hoje permanece desconhecida pela maioria das pessoas. No entanto, existia um problema político, os EUA não podiam anunciar a supremacia bélica, pois seria vista como mera estratégia política, além do mais poderia ser interpretada pela URSS como uma provocação e iniciar um conflito bélico. Por outro lado, a URSS não podia anunciar sua inferioridade, pois perderia sua influência política e o controle sobre os países que dominava ou estavam alinhados politicamente com a URSS.

Oportunamente, em janeiro de 1978 ocorreu a revolução dos Aiatolás no Irã, que acabou com a deposição do Xá Reza Pahlev. É necessária lembrar que o Irã era um país alinhado com o modelo liberal e tinha bom relacionamento até mesmo com Israel, mas não havia sinais de descontentamento da população com a política externa do país. O descontentamento da população estava relacionado com a excessiva influência dos costumes ocidentais em sua cultura, mas é questionável se esse descontentamento foi espontâneo ou disseminado deliberadamente por motivos políticos.

Tentar descartar a ingerência política por parte da URSS é tapar o sol com a peneira, pois o Xá Reza Pahlev concentrou sua reação justamente combatendo o comunismo, porém o combate ao comunismo prendeu muitos adversários políticos e fortaleceu a insatisfação do povo com o governo, fortalecendo também o apoio aos Aiatolás. É possível dizer com segurança que a revolução no Irã foi uma experiência bem-sucedida no sentido de usar a religião como arma para destruir o liberalismo, os costumes ocidentais e seculares.

A revolução no Irã causou uma segunda crise do petróleo, mas a resposta do governo Carter à ingerência da URSS no Irã foi um tapa de luvas com o poder de uma martelada. Jimmy Carter reduziu drasticamente o orçamento militar, fortalecendo as finanças públicas e minimizando os efeitos inflacionários da segunda crise do petróleo. Reduzir drasticamente o orçamento militar em plena guerra fria significava apenas uma coisa, a URSS não representava mais uma ameaça militar.

Em novembro de 1979, nove meses após os aiatolás implantarem a teocracia islâmica no Irã, a embaixada dos EUA foi invadida e 52 americanos foram feitos reféns. A invasão na embaixada dos EUA não faz sentido para os interesses dos aiatolás, pois eles poderiam simplesmente expulsá-los do país e romper relações diplomáticas. Mais uma vez a única beneficiada pela crise política causada aos EUA seria a URSS. Depois de seis meses de tentativas fracassadas nas negociações para libertar os reféns, foi realizada uma operação militar, que resultou num retumbante fracasso e agravou a crise.

O fracasso da operação militar no resgate dos reféns foi amplamente utilizado nas eleições americanas de 1980, pela campanha do adversário de Jimmy Carter, o republicano Ronald Reagan, que atribui o fracasso da operação militar ao governo Carter sem responsabilizar os verdadeiros responsáveis pela operação, que eram os próprios militares. A campanha de Reagan atribuiu o fracasso da operação militar no Irã ao corte no orçamento das forças armadas, mas os militares americanos nunca mostraram insatisfação com o corte no orçamento, além do mais, uma operação militar possui orçamento separado do orçamento padrão.

Reagan venceu as eleições, um acordo com o Irã foi assinado na véspera da posse e os reféns foram libertados poucos minutos após a posse de Reagan. Precisa dizer mais? Entre as primeiras medidas adotadas por Reagam, estava o aumento no orçamento militar, que resultou no aumento imediato da inflação nos EUA, por desequilibrar o orçamento. Mas a medida mais importante foi o anúncio do projeto “Guerra nas Estrelas”, que consistia em satélites capazes de interceptar mísseis intercontinentais com raio laser. Esse projeto serviu de pretexto para a URSS admitir a supremacia bélica dos EUA e iniciar reformas estruturais como a glasnost e perestroika, que resultariam no fim da URSS, decretando oficialmente o fim da Guerra Fria.

Ocorre que o projeto “Guerra nas Estrelas” é inexequível, ou seja, uma farsa que relacionou o fim da URSS com a corrida armamentista de armas atômicas e não com a corrida armamentista de armas convencionais. No entanto, a Rússia nunca deixou de ter capacidade de destruir os EUA com armas atômicas, tampouco a Rússia adotou um modelo democrático para a política ou um modelo ocidental para a economia, muito pelo contrário, a Rússia sempre combateu a globalização do modelo econômico ocidental.

Para aqueles que consideram absurdo dizer que o projeto “Gerra nas Estrelas” foi uma farsa, eu pergunto apenas o seguinte: por que ele não está sendo executado agora que a Coreia do Norte representa uma ameaça iminente de ataque atômico? Mas quero deixar claro que a farsa do projeto “Guerra nas Estrelas” não deve ser considerada uma conspiração contra o mundo ou contra os EUA, foi uma solução diplomática bilateral que evitou o prolongamento e um possível agravamento da Guerra Fria.

Mas no meu entendimento, a Guerra Fria só acabou no papel, o combate ao modelo econômico ocidental continuou sendo praticado, porém com novas armas, a religião e o conservadorismo. Mas é necessário entender a diferença entre conservadorismo e pensamento conservador. A democracia é baseada em duas linhas de pensamento, o conservador e o liberal, que são divergentes nas ideias, mas não são inimigos que desejam destruir um ao outro, inclusive as duas linhas de pensamento possuem divergências internas que resultam em convergências externas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, parte do Partido Republicano e parte do Partido Democrata eram contra a entrada na guerra, enquanto que as outras partes de ambos os partidos eram a favor. No Partido Democrata, John Kennedy era a favor da entrada na guerra, mas seu pai era contra. Outro exemplo significativo de convergência entre as duas linhas de pensamento é o atual governo de Donald Trump, onde em determinadas ocasiões o próprio partido manifesta oposição. No caso do governo Trump aconteceu uma situação inédita, pela primeira vez uma chefe de governo conservadora do Reino Unido se manifestou contra um chefe de governo conservador dos EUA.

O conservadorismo não possui relação com a democracia, é baseado em autoritarismo com estreita relação entre estado e religião, como acontece nos países islâmicos, o exemplo mais significativo de conservadorismo relacionado com o cristianismo vem justamente da Rússia com o regime czarista, que por sinal não era muito diferente do regime stalinista. É oportuno lembrar que a Igreja Ortodoxa Russa sempre foi uma instituição controlada pelo Estado, tanto no período czarista como no período stalinista, e o serviço da igreja ao Estado permanece até hoje.

Coincidentemente, mas eu não diria que foi por mera coincidência, na década de 1980 começou uma monstruosa proliferação de denominações de igrejas cristãs, a estimativa atual é de mais de 50 mil denominações diferentes de igrejas cristãs. A maioria dessas denominações são explicitamente inimigas dos valores ocidentais seculares e da ciência, mas também são explicitamente inimigas da igreja católica e das igrejas protestantes tradicionais. Não há como negar a semelhança entre a revolução no Irã e a influência dessas novas igrejas na política dos países ocidentais.

Uma palestra apresentada em 1983, na Summit University de Los Angeles (aqui), um suposto desertor da KGB mostrou como a URSS praticava a subversão nos países inimigos e também mostrou como se proteger dessa subversão. Segundo o suposto desertor, a base da defesa contra a subversão é promover a religião, mas também é necessário restringir liberdades, restringir direitos civis e controlar os meios de comunicação, ou seja, rasgar a constituição americana.

O suposto desertor apresentou os meios de comunicação como subversivos com base no fato de que os jornalistas não são eleitos, mas não usou o mesmo critério para considerar a religião subversiva, por acaso os aiatolás, os pastores evangélicos, os padres, os bispos e os cardeais são eleitos por alguém? O papa é eleito, mas quem o elege são os cardeais que não são eleitos por ninguém, em verdade, são nomeados pelo papa anterior e seguem o viés de eleger o próximo papa para prosseguir com o pensamento do papa anterior, embora isso nem sempre aconteça.

A palestra do suposto desertor necessita de uma análise criteriosa, que não pode ser apresentada integralmente neste ensaio, mas resta algo que não posso deixar de mencionar. Em nenhum momento o suposto desertor menciona a revolução no Irã, pois seria um exemplo contundente de uma situação onde a religião derrubou um governo e transformou o aliado dos EUA em aliado da URSS, no entanto, foi citada a guerra civil no Líbano, dizendo de forma subliminar que a guerra civil no Líbano foi consequência da subversão praticada pela URSS promovendo liberdades civis como o feminismo e direitos aos homossexuais, que ele havia mencionado anteriormente como liberdades a serem restringidas. Ocorre que a guera civil no Líbano foi mais uma revolução promovida através da religião e que derrubou outro governo alinhado com os EUA e se tornou alinhado com a URSS.

Outra questão de extrema relevância é a guerra no Afeganistão, que acabou sendo apresentada ao público como o Vietnã da URSS. Mas existe um final muito peculiar com a derrota da URSS no Afeganistão, o governo do Afeganistão ficou nas mãos do Talibã, que colocou o Afeganistão como base territorial para a Al-Qaeda treinar terroristas. A parte mais interessante é que o Osama Bin Laden foi arregimentado pelos EUA para liderar um grupo treinado pela CIA para combater os soviéticos no Afeganistão, foi exatamente esse grupo o responsável pelo surgimento da Al-Qaeda, que se transformou no principal inimigo dos EUA após o fim da URSS. Concluindo, o suposto desertor mostrou em sua palestra em 1983 o modelo que corresponde ao adotado pela Rússia após o fim da URSS.

Embora existam outros eventos históricos que podem ser mencionados, não vou mencioná-los pois o ensaio já está muito longo e considero que os eventos mencionados são suficientes para a construção do raciocínio. Então vou pular uma parte da história e ir diretamente para o ponto central deste ensaio, que é o fim do Estado Islâmico e a Nova Ordem Mundial. Mas antes é oportuno lembrar que, em julho de 2016, publiquei um ensaio sobre o Estado Islâmico (aqui) onde disse que ele já estava derrotado mas a guerra não tinha acabado e não havia previsão de quanto tempo duraria. Posso dizer com segurança que acertei plenamente em minha análise sobre a derrota do do Estado Islâmico, inclusive com a guerra terminando antes do que eu imaginava.

Também devo mencionar que publiquei em abril de 2017, um ensaio sobre o bombardeio dos EUA à Síria (aqui), destruindo uma pista da força aérea síria, devido ao uso de armas químicas contra os rebeldes sírios. Nesse ensaio eu mencionei a possibilidade de um acordo entre Trump e Pútin, no sentido de derrubarem o governo da Síria e saírem os dois como vencedores, o Trump por derrubar o governo da Síria e o Pútin por conseguir a simpatia dos americanos e europeus. Desta vez errei feio e o Trump se mostrou mais serviçal do Pútin do que nunca.

Num encontro entre Trump e Pútin, ocorrido na Rússia, o resultado diplomático foi o seguinte: concessões feitas por Trump, TODAS; concessões feitas por Pútin, NENHUMA. Os EUA pararam de apoiar os rebeldes sírios e o governo que Trump disse que ia derrubar se consolidou no poder. No entanto, Trump disparou pesado contra o Irã, não com o uso de armas bélicas, mas armas diplomáticas. Trump revogou o acordo como Irã sobre armas atômicas, colocando um fim na reaproximação que o Irã estava fazendo com os EUA, contrariou a ONU e todos seus aliados tradicionais que apoiavam o acordo, com exceção de Israel, que atualmente possui o pior governo de sua breve existência.

O atual governo do Irã conta com grande apoio da população, mas grande oposição do fundamentalismo religioso, a reaproximação com os EUA e o ocidente significava um enfraquecimento da influência da Rússia no Oriente Médio, mas também significava um enfraquecimento do fundamentalismo islâmico e do terrorismo. Agora o governo do Irã ficou isolado e terá que fortalecer novamente seu relacionamento com a Rússia, a possibilidade de ser derrubado e substituído por um governo fundamentalista é significativa.

Outro país que estava se aproximando veladamente da Rússia há algum tempo é a Turquia, com a política externa do Trump essa aproximação ficou explícita e está se consolidando cada vez mais. Mas as consequências não param aqui, com a derrota do Estado Islâmico a Arábia Saudita também se aproximou da Rússia, inclusive comprando armas, porém o mais impressionante foi a aproximação de Israel com a Rússia. Esse é o saldo no Oriente Médio após um ano de governo Trump, não derrubou o governo da Síria, não trouxe o Irã para o seu lado, perdeu a Turquia e os dois principais aliados se aproximaram da Rússia, Arábia Saudita e Israel.

Não posso deixar de mencionar que há poucos dias, Donald Trump decidiu transferir a embaixada dos EUA de Telaviv para Jerusalém, como demostração do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. Essa decisão foi tomada sem nenhum pedido por parte de Israel, foi recebida pela ONU e pela comunidade internacional como uma afronta, mas para os países islâmicos foi recebida como uma agressão. Trump conseguiu se afasta muito mais do Oriente Médio e acendeu as brasas de uma fogueira que estava latente.

Não encontrei nenhuma manifestação de Israel sobre o ocorrido, se alguém tem informações sobre isso, por favor apresente nos comentários. É muito difícil entender o que se passa na cabeça do Trump, é possível que ele próprio não saiba, mas os indícios mostram que Trump não desejava agradar Israel, mas os fundamentalistas cristãos que entendem que com o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, será construído o terceiro tempo, condição necessária para a vinda de Jesus, para que os fanáticos cristãos sejam arrebatados aos paraíso e o resto do mundo mandado para o quinto dos infernos.

Para não ferir a honestidade intelectual, indico três vídeos (aqui, aqui e aqui) que apresentam outra análise sobre a situação da Rússia. No terceiro vídeo fica explícita a ingerência da Rússia na OPEP, mas os dois primeiros podem ser considerados como contrapontos ao ensaio. Mas no meu entendimento, a Nova Ordem Mundial se caracteriza pelo domínio do Oriente Médio, pelo controle do mercado de Petróleo pela Rússia e o conflito religioso será a arma de desestruturação da cultura secular ocidental. É oportuno lembrar que o conflito de religião já foi usada pelo Nazismo e que a Segunda Guerra Mundial foi uma estratégia do Stálin para dominar a Europa. Se desta vez a cultura secular ocidental será derrotada, vai depender da própria população que deseja continuar vivendo de acordo com essa cultura.

Como ficará a situação da Europa e do continente americano ao sul dos EUA é algo ainda indefinido, mas é necessário observar que Trump retirou os EUA do Tratado do Pacífico, que tinha uma cláusula de permitir a participação da China justamente para satisfazer os EUA, com a saída do tratado, a cláusula perdeu sentido e o espaço ficou vago para a participação da China. No caso da Europa, a aproximação comercial com a China está em pleno andamento e cada vez mais consolidada, a possibilidade de a China servir de canal entre a Europa e o Tratado do Pacífico é significativa. Mas por enquanto é apenas especulativo.

Para finalizar, é importante dizer que a velha luta de classes não foi substituída pelo conflito de religiões, embora a luta de classes não funcione mais em países desenvolvidos, ela continua sendo eficiente em países subdesenvolvidos como o Brasil, a Venezuela é o exemplo mais contundente da eficiência da luta de classes na atualidade. Mas é legítimo dizer que a luta de religiões se tornou a principal estratégia do marxismo, mesmo onde a luta de classes ainda está sendo usada. Não deve ser esquecido que um dos aforismos centrais do marxismo é “a religião é o ópio do povo”, nada melhor do que o ópio para destruir uma sociedade, não é mesmo?


Milton Valdameri, dezembro de 2017.

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