A grande sacada de Michel
Temer e seus “brilhantes” assessores, foi argumentar na imprensa
que, na conversa com Joesley Batista, não há literalidade de aval
para comprar o silêncio de Eduardo Cunha. Por motivos óbvios, a
literalidade do restante da conversa não está sendo comentada pelo
governo, da mesma forma como, na Operação Carne Fraca, houve uma
campanha nos meios de comunicação, onde a compra e venda de
certificados foi simplesmente retirada da pauta. Pretendo neste
artigo, mostrar que a literalidade do aval existe.
A nota do governo, após
conhecer o conteúdo completo da polêmica gravação, diz que houve
uma situação de alívio. No dia seguinte, parte significativa do
jornalismo e da população, abraçaram a ideia de “aliviar” a
situação do Temer. Então vejamos, trata-se de duas situações
distintas, uma jurídica, onde o benefício da dúvida age em favor
de Michel Temer, e outra política, onde o benefício da dúvida age
justamente no sentido contrário. Caso alguém não tenha entendido,
o judiciário não deve condenar em caso de dúvida, ao mesmo tempo
que ninguém deve exercer cargo público quando há dúvidas sobre
sua honestidade.
Mais
uma vez, temos uma situação onde jornalismo e opinião pública
atuam
como agente judiciário e esperam que o judiciário atue
como agente político. Vou analisar a transcrição da conversa, que
está disponível aqui.
A literalidade do Temer consiste no seguinte: Temer disse, “tem
que manter isso, viu?”,
logo após Joesley ter dito, “eu
estou de bem com o Eduardo”,
ou seja, Temer disse para manter ISSO,
o bom relacionamento com Eduardo Cunha. Mas tem outra parte na fala
de Joesley, onde ele diz estar de bem com o Eduardo, é o seguinte:
“que eu
mais ou menos dei conta de fazer até agora”.
Portanto,
o ISSO,
de Michel Temer, é manter aquilo que estava sendo feito, que tinha
sido feito até aquele momento. Então vejamos o que Joesley disse
ter feito: “Joesley:
Eu,
dentro do possível, o máximo que deu ali, zerei tudo. O que tinha
de alguma pendência daqui para ali. Zerou. Ele foi firme, foi em
cima, já estava lá, veio, cobrou, tal. Pronto. Acelerei o passo e
tirei da frente. O outro menino, o companheiro dele que está aqui
[inaudível]. Geddel sempre estava [inaudível]. Geddel é que sempre
andava ali. Mas o Geddel com esse negócio eu perdi o contato porque
ele virou investigado, agora eu não posso encontrar ele”.
Esta
fala será identificada de agora em diante como “Fala-1”.
Temer
comentou a Fala-1 da seguinte forma: “Temer:
É
complicado. [inaudível] obstrução de Justiça.”
(Fala-2).
A parte inaudível, certamente será devidamente compreendida pelos
peritos, que dispõem de tecnologia adequada para analisar a
gravação, mas isso é irrelevante, pois seja qual for o conteúdo
inaudível, não resta dúvida de que Temer identificou obstrução
de justiça no conteúdo da Fala-1. Joesley continua: “Joesley:
Negócio
dos vazamentos. O telefone lá do Eduardo com o Geddel volta e meia
citavam alguma coisa meio tangenciando a nós, a não sei o que. Eu
tô lá me defendendo.”
(Fala-3); “Joesley:
[inaudível].
Como é que eu... Que que eu mais ou menos dei conta de fazer até
agora. Eu tô de bem com o Eduardo...”
(Fala-4).
É
depois disso tudo que Temer diz: “Temer:
Tem
que manter isso, viu?”
(Fala-5).
Então vamos deixar esclarecido que, dizer algo literalmente, não
significa necessariamente dizer com as palavras literais, pode ser
dito com uma confirmação. Por exemplo, alguém diz que vai matar o
vizinho e você diz “faça isso”, neste caso, você está dizendo
literalmente para o cara matar o vizinho, sem pronunciar a palavra
matar.
A
questão da literalidade na frase do Temer, em Fala-5, não pode ser
relacionada apenas com a parte final da Fala-4. Mesmo
forçando a barra para relacionar a fala-5 apenas com a parte final
da Fala-4, é necessário explicar por que o Joesley TEM
que se manter “de bem com o Eduardo”, inclusive enfatizando com
um “VIU?”.
A Fala-5 não foi apenas um comentário, foi literalmente uma ordem e
uma cobrança.
Em
Fala-4, Joesley diz que “que
eu mais
ou menos dei conta de fazer”,
que implica a obstrução de justiça identificada por Temer em
Fala-2 e “[…]
alguma
coisa meio tangenciando a nós [...]”,
mencionado por Joesley em Fala-3, então vou deixar o leitor decidir,
se o ISSO
do Temer está,
literalmente ligado ao “mais
ou menos dei conta de fazer”,
ou ao “Eu
tô de bem com o Eduardo”.
(Milton Valdameri, maio de
2017).
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