sábado, 1 de julho de 2017

Janot, Temer e a Falência Intelectual dos Brasileiros

Escrevo este artigo por consequência do que estou vendo nas redes sociais e também no jornalismo. Em resumo, vejo uma campanha contra o atual Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, cujo mandato está encerrando e o nome de sua substituição já foi anunciada. O significado dessa campanha deve ser analisado criteriosamente, pois poderá influenciar no rumo do país.

O Procurador do Mensalão, Roberto Gurgel, em nenhum momento colocou o Lula sob investigação e as condenações mais severas foram para o publicitário Marcos Valério e a ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo. Tirando os quatro procuradores mencionados, os restantes são lembrados como “engavetadores”. Trocando em miúdos, por pior que tenha sido o Janot, ele foi o melhor Procurador Geral da República que o Brasil já teve, simplesmente por ter denunciado o presidente em exercício.

Michel Temer, por sua vez, foi a principal liderança do PMDB nos acordos com o PT. Foi um acordo entre PMDB e PT que salvou Lula de um pedido de impeachment no escândalo do mensalão, foi esse acordo que deu início ao petrolão e foi Temer quem liderou a oficialização do PMDB como parte do segundo governo do Lula, conquistando também a vaga de vice da Dilma. Tentar separar Temer e o PMDB da corrupção do Lula e do PT, é simplesmente insanidade intelectual.

Diante do exposto, já é possível perceber que a campanha contra o Janot significa a falência intelectual dos brasileiros, mas o objetivo deste artigo é mostrar o grande risco que isso representa para o Brasil. Não há dúvidas que a campanha contra o Janot está sendo financiada pelo governo Temer e a parte mais ilustre de sua base aliada. Evidentemente isso tudo não está sendo financiado dentro dos padrões republicanos e o custo dessa campanha pode jamais ser conhecido.

Para entender as consequências dessa campanha, é necessário lembrar de uma campanha anterior, direcionada contra a Operação Carne Fraca. Naquela campanha, a operação foi desqualifica na imprensa e nenhuma atitude para melhorar a fiscalização nos frigoríficos foi tomada, o resultado foi uma investigação no exterior, que interrompeu a importação de carne bovina nos EUA e restrições também na Europa. Os bestas que combateram a Operação Carne Fraca, sob o pretexto de defender empregos, agora podem comemorar o resultado, mas parecem que estão comemorando em silêncio.

Essa campanha contra o Janot segue na mesma direção, ou seja, vai ajudar a manter o problema usando uma desculpa esfarrapada, porém a desculpa desta vez não é o emprego, mas a volta do Lula. Ocorre que o que mais beneficia o Lula, eleitoralmente, é justamente a impunidade do Temer. Para melhorar a situação do Lula, Temer já nomeou uma pessoa de confiança para substituir Janot, o que significa que a operação Lava Jato será significativamente enfraquecida em Brasília, ficando restrita aos trabalhos feitos pela equipe de Curitiba.

Então vejamos, por mais que Lula apareça em primeiro lugar nas pesquisas para o primeiro turno, ele não aparece em condições de vencer no segundo turno, portanto o discurso de “diretas já” é apenas um discurso para ser apresentado em 2018, como o candidato que defendeu “as diretas” enfrentando os que defenderam as “indiretas”, se as eleições realmente acontecessem ele sabe muito bem que sairia derrotado.

Mas a parte mais interessante, é o direcionamento do foco das atenções para o desejo de prisão do Joesley Batista, da J&F (JBS/Friboi). O motivo desse direcionamento é simples, Joesley será o Marcos Valério da vez, ou seja, desejam que Joesley seja condenado severamente, enquanto que os políticos receberão penas amenas, como aconteceu no mensalão, Temer será apenas o “não sabia” da vez e, como aconteceu com o mensalão, a corrupção não vai diminuir, muito pelo contrário, vai se remodelar e provavelmente se fortalecer.

Para encerrar, vale a pena lembrar que Marcos Valério tentou fazer um acordo de colaboração, mas o procurador da época não aceitou. Se tivessem feito acordo com Marcos Valério, como fizeram com Joesley Batista, todo o esquema teria aparecido muito antes da Lava Jato. Por hoje é só, mas não ficarei surpreso se essa tal direita começar a gritar “Eduardo Cunha, guerreiro do povo brasileiro”.

(Milton Valdameri, julho de 2017).

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