sábado, 13 de agosto de 2016

A Questão do Islamismo

O islamismo se tornou, no mundo, o tema mais discutido do momento, o próprio terrorismo ficou em segundo plano. Esta postagem não pretende fazer a defesa do islamismo, mas uma análise criteriosa de uma circunstância histórica, cujo desenvolvimento poderá resultar num conflito que envolverá BILHÕES de pessoas. É sobre pessoas que esta postagem pretende se pronunciar.
Inicialmente vou citar um vídeo (aqui) postado no blog Toma Mais Uma, do meu amigo Ricardo Froes e um documentário (aqui) no Youtube, que mostra o quanto o islamismo é desconhecido, inclusive pelos islâmicos.

O convívio do islamismo com a humanidade se tornou problemático, isso é incontestável, a quantidade de islâmicos que estão buscando refúgio em países que não adotam o islamismo como lei civil, dispensa qualquer outra argumentação. A primeira questão é: devemos olhar para esses refugiados como islâmicos ou como pessoas? A segunda questão é: por que o mundo está se sentindo ameaçado pelo islamismo?

A primeira questão não deveria nem existir, só existe porque o problema ultrapassa as fronteiras do islamismo. A segunda questão mostra o caminho para entender por que existe a primeira questão e também para o caminho para uma solução menos violenta e traumática para a humanidade. Para analisar a segunda questão, é necessário saber que existem duas vertentes de mórmons, que são extremamente diferentes e uma delas citada.

Uma argumentação recorrente, para disseminar o repúdio ao islamismo, é o tratamento que as mulheres recebem nos países que adotam o islamismo como lei civil, mulheres não podem estudar ou dirigir, entre outras coisas. Mas nos EUA existe uma vertente dos mórmons, que trata a mulher de forma muito mais cruel. Por que não vemos manifestações de repúdio contra o comportamento desses mórmons, que privam seus membros e principalmente suas mulheres dos direitos civis do país onde vivem?

A questão é muito simples, essa vertente de mórmons talvez não tenha um milhão de membros, mas o islamismo tem mais de um bilhão e meio. Um terço da população de Londres pratica o islamismo, mas Londres continua sendo Londres. Como ficaria Nova Iorque com um terço da população praticando a vertente mórmon em questão? Nos EUA, o direito da mulher estudar é reconhecido pelos membros do islamismo, que seguem a lei civil do país onde vivem, mas não é reconhecido pelos mórmons em questão, por que não há manifestações de repúdio a esses mórmons, que também formam uma facção do cristianismo?

O cristianismo já perseguiu judeus, já queimou pessoas em fogueiras e já exterminou grupos de cristãos, como no caso dos cátaros. Práticas que hoje são consideras inaceitáveis, foram abandonadas pelo cristianismo, conforme a sociedade civil foi desenvolvendo seu conhecimento, mas principalmente, conforme esse conhecimento foi sendo compartilhado.

A própria bíblia foi um livro que só podia ser interpretado por autoridades eclesiásticas, da mesma forma como acontece com corão atualmente, aliás, muitas igrejas impõem interpretações da Bíblia até hoje. Não foi necessário extinguir o cristianismo para abolir as práticas inaceitáveis, que motivo existe para alguém defender a extinção do islamismo?

É incontestável que você se sentirá incomodado se, estando em um restaurante, enxergar um indivíduo que pode ser identificado como islâmico entrando, isso acontecerá mesmo que você mesmo seja islâmico, pois não saberá se aquele indivíduo está entrando para fazer uma refeição ou um atentado. Essa circunstância se tornou muito mais acentuada com os atentados praticados pelos denominados “lobos solitários”, pois nem as famílias podem saber o que o outro membro vai fazer quando sai de casa.

Em outra postagem, eu disse que o ISIS (Estado Islâmico) está derrotado e os soldados iraquianos, que também são islâmicos, muito colaboraram para essa derrota. Mas derrotar o terrorismo não implica em derrotar apenas os grupos terroristas, implica em derrotar a essência do terrorismo, é essa essência que produz os “lobos solitários”, então é necessário entender por que alguém se torna um “lobo solitário”.

Nos EUA já aconteceram vários casos de “lobos solitários” atacando escolas, mas nenhum deles se declarou identificado com alguma causa, os “lobos solitários” islâmicos estão se declarando simpatizantes do ISIS, mesmo não existindo nada que os coloque em contato direto com essa organização, então existe uma ligação indireta, que está sendo entendida como islamismo. Mas será que não há também uma ligação indireta entre os “lobos solitários” islâmicos e não islâmicos?

Não é segredo que o ISIS recrutou jovens não islâmicos como membros, mas também não é segredo que esses jovens não se converteram ao islamismo, mas sim ao terrorismo. Esses jovens não começaram a frequentar mesquitas, não começaram a ler o corão, começaram apenas a aprender como praticar atentados terroristas.

O que leva jovens não islâmicos ocidentais a sentir interesse em praticar atentados terroristas? Não seriam as mesmas razões que levaram “lobos solitários” não islâmicos ocidentais a atacarem escolas? Não seriam as mesmas razões dos “lobos solitários” islâmicos? É necessário considerar que os “lobos solitários” islâmicos, tiveram a mesma oportunidade de se envolverem com o ISIS que os jovens não islâmicos recrutados, mas esse envolvimento nunca foi identificado, senão pelo próprio atentado cometido.

Se o ISIS está tecnicamente derrotado no conflito bélico, também está tecnicamente vitorioso no conflito existencial. O ISIS nunca representou o islamismo, nunca foi aceito nem mesmo por outros grupos terroristas islâmicos, mas representa o ódio à humanidade, que existe em pessoas perturbadas e psicóticas de todas as crenças, religiosas ou não, isso faz do ISIS o representante de todos que desejam agredir a humanidade.

Agora, o ISIS não possui mais estrutura para organizar atentados, mas qualquer mentecapto que decidir atacar uma escola sem motivos, poderá fazer em nome do ISIS e dizer que não está sozinho, assim, além do terror causado pelo ato, também causará o terror pelo convívio entre islâmicos e não islâmicos. Esse é o problema a ser resolvido, o convívio entre as pessoas, e o extermínio de grupos a partir de suas crenças não se mostra uma solução aceitável.

Daniel Dennett, em uma de suas palestras, disse que os cristãos deveriam conversar com os islâmicos, explicar que já cometeram os mesmos erros e mostrar que eles podem ser superados. Eu digo que isso não é responsabilidade apenas dos cristãos, mas de toda a humanidade, mostrar que os erros podem ser superados. Mas a responsabilidade maior é dos governos, que possuem estruturas diplomáticas eficientes para realizarem acordos comerciais, mas estão sendo inúteis para dialogar com governos que adotam religião como lei civil.

Mais de um bilhão e meio de pessoas tem o islamismo como referência para dar um sentido à suas vidas, extinguir o islamismo é extinguir essa quantidade de pessoas, isolar o islamismo em uma região do mundo, é isolar essa quantidade de pessoas. Quem defende essas propostas, não está considerando o quanto terror causará no mundo, um bilhão de pessoas, com paus e pedras, podem matar outro bilhão de pessoas, principalmente se sentirem acuadas, se um “lobo solitário” representa um perigo, imagem um bilhão deles.

Não há como extinguir ou isolar o islamismo possa ser uma solução aceitável, isso é deixar de reconhecer que mais de um bilhão de pessoas são tão pessoas como cristãos, judeus, hindus ou ateus, é também retirar dessas pessoas a possibilidade de deixarem de serem islâmicos. A única solução aceitável, é aprender como conviver com religiões diferentes, enquanto não aparece sugestão melhor de como fazer, sugiro uma palestra de Daniel Dennett (aqui).


(Milton Valdameri, agosto de 2016).

Um comentário:

  1. (argento) ... o filśofo Taoísta Lin Yutang oferece um "pensanento" que se encaixa bem nesta questão: "quando um general medíocre encontra uma espada perfeita, ... FUDEU!!!"

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