sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Buraco Negro Desaparecido

 



De acordo com a Revista Galileu de 20 de dezembro de 2020, foi encontrada uma galáxia que não tem um buraco negro em seu centro (aqui). Isso contraria o entendimento padrão das galáxias, que não existiriam sem um buraco negro no centro (aqui). Esta postagem se prepõe a explicar o desaparecimento desse buraco negro.

É importante mencionar que o modelo padrão da física se tornou refém da Hipótese do Átomo Primordial (Teoria do Big Bang) e a comunidade científica tem ignorado solenemente as hipóteses ou teorias que não satisfaçam à crença na “Teoria do Big Bang”. Esse comportamento é eclesiástico e não científico, transforma a comunidade científica em um “novo clero” que trata a “Teoria do Big Bang” da mesma forma como o clero tratou o geocentrismo por mais de mil anos.

De minha parte, eu refuto com veemência e categoricamente a “Teoria do Big Bang”, pois não existe nenhuma evidência que sustente essa hipótese, muito pelo contrário, as supostas evidências são raciocínio falhos e normalmente baseados em petição de princípio (raciocínio circular). Minha explicação para o desaparecimento do referido buraco negro se baseia na Teoria do Universo Eterno e Infinito (aqui), de minha autoria. Desta forma, aqueles que são devotos da “Teoria do Big Bang” podem ficar à vontade para interromper aqui a leitura deste artigo.

Antes de iniciar a explicação para o desaparecimento do referido buraco negro, eu vou fazer um questionamento que considero indispensável: se não é possível existir uma galáxia sem um buraco negro no centro, como esse buraco negro se formou e por que a matéria que formou a galáxia não caiu dentro dele antes de formar a estrelas? A resposta para essa pergunta seria: porque as estrelas se formaram fora do horizonte de eventos. Mas então eu pergunto: porque as estrelas se transformaram em estrelas em vez de se transformarem em novos buracos negros? Será que me fiz entender?

Na Teoria do Universo Eterno e Infinito, as primeiras partículas da matéria são formadas pela concentração de uma energia primordial. Essa concentração de energia curva o “tecido espaço-tempo” causando a gravidade e a gravidade é a responsável pela formação de todos os objetos do universo. Essa curvatura do “tecido espaço-tempo” possui um limite, que é de noventa graus, se esse limite for ultrapassado a matéria vai colapsar e “virar do avesso”, se transformando em antimatéria, a massa se torna negativa e causa a antigravidade. A massa negativa (antigravidade) faz a matéria se mover no sentido oposto ao movimento causado pela gravidade, ao mesmo tempo que a matéria e a antimatéria vão se desintegrando conforme vão entrando em contato.

É necessário entender que a massa no centro do buraco negro não diminui com a desintegração da matéria e da antimatéria, essa desintegração resulta em um vácuo quântico cuja massa é a mesma de antes do centro do buraco negro colapsar (virar do avesso). Desta forma, a gravidade concentra novamente a energia do vácuo quântico, recompõe a matéria e o centro do buraco negro retorna à condição anterior ao colapso, o processo se repete até que a quantidade de matéria colapsada seja igual à quantidade de matéria não colapsada.

No momento em que a quantidade de matéria colapsada for igual à quantidade de matéria não colapsada, o horizonte de eventos será preenchido pelo vácuo quântico resultante da desintegração da matéria e antimatéria que entraram em contato uma com a outra. Desta forma o buraco negro vai evaporando de dentro para fora até chegar ao ponto em que começa a liberar energia em forma de vácuo quântico.

Desta forma a curvatura do “tecido espaço-tempo” no centro da galáxia atingirá um ângulo que concentrará uma quantidade de matéria inferior ao necessário para a existência de um buraco negro e a galáxia em questão não terá um buraco negro em seu centro, no entanto, um novo buraco negro começará a ser formado e futuramente a galáxia voltará a ter um buraco negro em seu centro.

Para entender o que significa “virar do avesso” o “tecido espaço-tempo”, ou “virar do avesso” a matéria e causar a antigravidade, é recomentada a leitura da Teoria do Universo Eterno e Infinito para entender a concepção de gravidade usada neste artigo, que nada mais é que a concepção de gravidade do Einstein. Um bom exercício de imaginação para entender a gravidade aqui mencionada é imaginar uma esfera curvando uma cama elástica e com um espelho no teto, a imagem do espelho mostra como seria um universo com o “tecido espaço-tempo” curvado no sentido contrário ao que é curvado em nosso mundo (bolha cósmica).

Na bolha cósmica representada pela imagem no espelho tudo está invertido, o elétron é positivo e o próton é negativo (antimatéria). No espelho a esfera cai para cima, pois a cama elástica está curvada no sentido contrário, como se a esfera tivesse curvado a cama elástica até a curvatura ultrapassar os noventa graus e a cama tivesse “virado do avesso”, fazendo o mesmo com as propriedades da matéria.

Essa explicação não se aplica apenas ao buraco negro em questão, mas a todos os buracos negros, essa é a dinâmica de existência dos buracos negros e também explica o que ocorre dentro de um buraco negro. Não obstante, é relevante mencionar que os buracos negros não existem apenas no centro das galáxias e cada galáxia pode ter muitos buracos negros, é evidente que essa dinâmica deve ter ocorrido muitas vezes durante os 13,8 bilhões de anos atribuídos ao universo visível. Considerando que os buracos negros emitem radiação e o desaparecimento de um buraco negro deve emitir uma quantidade muito maior de radiação, é legítimo dizer que os buracos negros são uma explicação plausível para a existência da radiação cósmica de fundo que atribuem ao “big bang”. Aliás, eu gostaria de saber como seria possível a expansão emitir radiação para dentro do universo, o universo emitiu radiação para dentro dele mesmo?

Milton Valdameri (Outubro de 2021)









sábado, 20 de março de 2021

A Dialética de Hegel

 

Em meu livro, As Veias Abertas do Marxismo, eu dedico um capítulo à explicação do que é dialética. Durante a pesquisa que originou o livro (2012) eu tentei encontrar uma descrição ou definição do suposto “método dialético” que o marxismo diz ter sido descoberto por Hegel, ou por Marx baseando-se em Hegel, mas nunca encontrei nada que indicasse que o suposto método existisse.


Dois anos após a publicação do livro, que é um estrondoso fracasso de vendas, não apareceu nenhuma contestação aos argumentos apresentados, mas apareceram depreciações ao autor (falácia ad hominem) e uma delas foi justamente tentando me depreciar depois que eu disse que escrevi o livro sobre Marx sem ler a obra de Hegel.

Não importa o quanto Hegel teria influenciado Marx, para analisar a obra de Marx é necessário considerar o que Marx afirmou ou deixou de afirmar, não importa se afirmou por influência desse ou daquele autor. Inclusive a afirmação de que Marx foi influenciado por Hegel é descabida, é um delírio marxista que tenta dar consistência à obra de Marx estabelecendo um vínculo com a obra de Hegel, ou seja, usam a falácia do apelo à autoridade para dar credibilidade ao Marx.

Mas como eu costumo rever e ou retomar minhas pesquisas, eu fiz nova busca por descrições ou definições do suposto “método dialético” e desta vez encontrei vários vídeos abordando essa questão, todos marxistas e todos tratando a questão como se o suposto “método dialético” existisse. Ocorre que nenhum dos vídeos encontrados atendeu ao critério científico do necessário e suficiente, que eu utilizo em minhas pesquisas e em meus livros.

Em verdade, os vídeos não apresentaram nada do que é necessário para identificar um suposto “método dialético”, obviamente que se não apresentaram nada do que é necessário também não apresentaram o suficiente. No entanto, os vídeos permitiram que eu entendesse a origem desse delírio e também conhecesse um pouco da obra de Hegel. Desta forma eu vou construir aqui um raciocínio que mostra como Hegel se relacionou com a dialética. Ressalto que uso fontes marxistas, portanto não há como dizer que estou sendo influenciado pelo capitalismo.

Hegel é conhecido por ter definido que a história segue uma trajetória dialética que se divide em três momentos, a tese, a antítese e a síntese. Ocorre que Hegel nunca fez tal afirmação, essa afirmação é uma interpretação dos estudiosos de Hegel. Na obra propriamente dita é afirmado o seguinte: “A lógica tem, segundo a forma, três lados: a) o lado abstrato ou do entendimento (interpretado como tese); b) o dialético ou negativamente racional (antítese); c) o especulativo ou positivamente racional (síntese)”. A fonte utilizada foi um vídeo disponível na internet (aqui).

Observa-se que Hegel usou o termo lógica de uma forma inapropriada, pois não tem relação com a lógica apresentada ao mundo por Aristóteles, que é a lógica propriamente dita. Em verdade, o termo “lógica” utilizado por Hegel significa raciocínio, portanto é o raciocínio que em sua forma tem três lados, ou três momentos. Outro ponto crítico é que o termo dialético aparece no segundo momento do raciocínio, então constata-se que Hegel nem mesmo usou o termo dialética para estabelecer os parâmetros usados em suas obras.

Senão vejamos, no suposto “método dialético” o dialético é o segundo momento de um raciocínio, logo o método não pode ser dialético sob pena de tornar o método parte de si mesmo, ou seja, no segundo momento o método reiniciaria o método infinitamente.

A obra de Hegel é toda baseada na história, na tentativa de entender a história. Um dos argumentos marxistas sobre a dialética de Hegel, é que nessa dialética não existe contraditório externo e por isso seria uma dialética diferente daquela definida por Sócrates, Platão e Aristóteles. Ocorre que o objeto do raciocínio do Hegel é a própria história e não há possibilidade de apresentar um fato de fora da história para se contrapor a um fato de dentro da história, todos os fatos históricos são necessariamente internos à história.

Francis Fukuyama, um renomado estudioso de Hegel, publicou um livro em 1989 intitulado O Fim da História e o Último Homem, “Em seu estudo, Fukuyama toma como referência não só a noção de Hegel, mas também a de Marx. Para ambos, diz o autor, a evolução das sociedades humanas não era ilimitada, mas terminaria quando a humanidade alcançasse uma forma de sociedade que pudesse satisfazer suas aspirações mais profundas e fundamentais. Neste sentido, os dois pensadores previram um ‘fim da história’. Para Hegel, tal fim seria o Estado liberal; para Marx a sociedade comunista”.

O estudo de Fukuyama apresenta dois finais para a história um idealizado por Hegel e outro idealizado por Marx. Não vem ao caso analisar os finais da história idealizados, mas é imprescindível observar que, se a dialética é um método, então esse método se propõe a prever o fim da história, porém o método apresenta um resultado para Hegel e outro para Marx, logo, ou o método é falho ou foram usados dois métodos diferentes, ambos denominados de “método dialético”. Desta forma conclui-se que cada indivíduo pode ter seu próprio “método dialético” e obter o resultado que mais lhe agradar. Em minha humilde arrogância, atrevo-me a dizer que isso denomina-se achismo e não método.

Mas eu não devo apresentar meu entendimento da obra de Hegel sem antes mencionar o meu vídeo preferido, seria privar o leitor da parte mais divertida. O vídeo está disponível aqui e citarei algumas “pérolas” dignas de destaque e na ordem em que aparecem no vídeo.

Aos cinco minutos, aproximadamente, o termo idealismo foi usado com o significado de ideologia, inclusive mencionando que as pessoas relacionam idealismo com ideias, no entanto, idealismo está relacionado com ideal e não ideia, aliás, Marx escreveu a Ideologia Alemã e não o Idealismo Alemão, usando a palavra ideologia  da mesma forma como Napoleão Bonaparte a usou, depreciando o termo ideologia. Ressalte-se que Napoleão depreciou o termo porque os ideólogos defendia a república e não a monarquia, enquanto que Marx usou o termo ideologia para identificar um grupo que não se identificava como ideólogos.

Aos seis minutos e vinte e seis segundos foi afirmado: “Marx diz que o método dialético foi, não somente descoberto por Hegel mas foi também mistificado por ele”. Então vejamos, Hegel nunca fez referência a um suposto “método dialético”, nenhum estudioso de Hegel identificou um suposto “método dialético” em sua obra, somente Marx afirma que Hegel descobriu esse suposto método e a única aplicação que foi encontrada para o suposto método é a satisfação da crença marxista, ou seja, Hegel não mistificou nenhum método e Marx fantasiou a descoberta de um suposto método que só existe numa mistificação denominada marxismo.

Aos seis minutos e quarenta e sete segundos foi afirmado: “A gente não pode, toda via, achar que a dialética é somente um método, uma coisa certinha, uma receita pronta que você aplica na realidade e consegue interpretá-la e ter acesso ao real. Isso na verdade é uma coisa extremamente anti dialética, tornar a dialética simplesmente um método”.

Então vejamos, tornar o suposto “método dialético” em apenas um método é anti dialético, logo é necessário que alguém diga como é possível tornar um método algo que não seja apenas um método, além do mais, se o método for “apenas um método” será anti dialético, então dialética não pode ser um método, pois um método não pode ser mais nem menos que um método. Também merece destaque a parte que fala em interpretar a realidade e ter acesso ao real, com ênfase em duas perguntinhas básicas: 1) o real é uma interpretação da realidade? 2) Como é possível interpretar a realidade sem ter acesso ao real?

Aos vinte minutos foi afirmado: “É preciso tomar muito cuidado quando a gente ouve ‘qualquer um’ falando sobre Hegel porque tem muita gente que vai falar sobre Hegel e reproduz o senso comum e não tem nada a ver com o que o próprio Hegel dizia ou escreveu”. Suponho que eu esteja enquadrado na categoria “qualquer um”, da mesma forma como qualquer um que não satisfaça a crença marxista será enquadrado nessa mesma categoria. Quanto ao “tomar muito cuidado”, eu também recomendo, porém esse cuidado deve ser tomado examinando o conteúdo, a veracidade das premissas e a consistência lógica daquilo que foi afirmado.

Agora chegou o momento deste “qualquer um” apresentar sua própria compreensão sobre a obra de Hegel, mas antes é necessário ressaltar que eu não sou um estudioso de Hegel e realizei apenas uma pesquisa superficial, utilizando o critério do necessário e suficiente para esclarecer a questão do suposto “método dialético”. Não obstante, posso afirmar com segurança que restou comprovado que o tal “método dialético” não existe, é uma mistificação marxista, um retumbante delírio.

Mas a pesquisa, embora superficial, permitiu construir uma boa compreensão da obra de Hegel, não restaram dúvidas sobre a obra de Hegel se propor à compreensão da história, identificar a dinâmica através da qual a história se desenvolve e construir o raciocínio que permite compreender o momento que está sendo vivido ou foi vivido.

A dinâmica através da qual a história se desenvolve é a dialética, mas não apenas a dialética da argumentação, onde um argumento supera o outro, na trajetória da história existe a dialética da imposição, onde o mais forte impõe a sua vontade. A antiguidade foi vivida praticamente apenas com a dialética da imposição, a idade média e a idade moderna já apresentam a dialética da argumentação, com o cristianismo e o iluminismo, mas a imposição ainda está presente.

O raciocínio construído por Hegel era constituído por três momentos, antiguidade como primeiro momento ou tese, o cristianismo como segundo momento ou antítese (representando idade média e idade moderna) e a revolução francesa como terceiro momento ou síntese, que era o momento vivido por Hegel. Com todo o respeito que o Fukuyama merece, atrevo-me a dizer que Hegel não idealizou um fim para a história, o liberalismo não representava um fim para a história, representava apenas o terceiro momento de um raciocínio, o raciocínio que tentava compreender e explicar a história até então vivida pela humanidade.

As revoluções de 1848 sustentam minha argumentação de forma extremamente significativa, pois após essas revoluções Hegel foi perdendo importância de forma vertiginosa, evidentemente porque as revoluções colocaram mais um momento no raciocínio necessário para a compreensão da história. Mas isso não significa que o raciocínio passou a ter quatro momentos, significa que um novo raciocínio deve ser construído, onde o momento vivido após as revoluções de 1848 é o terceiro momento (síntese), a revolução francesa é o segundo momento (antítese) e as idades, moderna e medieval passam a constituir o primeiro momento (tese) junto com a antiguidade.

Para o raciocínio de Hegel a história terminou com as revoluções de 1848, mas a história não encerrou sua trajetória dialética, pois novos momentos dialéticos surgiram, não apenas as revoluções de 1848, mas a Primeira Guerra mundial encerrando a Confederação Alemã, a Segunda Guerra Mundial iniciando e encerrando a Alemanha nazista, a Guerra Fria, o fim da URSS e os 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil.

Hegel teve grande importância para sua época, mas deixou de ser relevante após as revoluções de 1848 porque sua obra não abordava e nem tinha como abordar aquele momento da história. Hoje continua sendo importante, mas apenas para entender o período da história que ele viveu, a tendência do pensamento da sua época. Quanto à importância de Hegel para o marxismo, posso apenas dizer que o marxismo não tem nada para acrescentar ao conhecimento humano, muito pelo contrário, é uma mistificação que impede o desenvolvimento do conhecimento.

Milton Valdameri (Março de 2021)



quinta-feira, 28 de janeiro de 2021


Marx Não Leu Hegel!

A narrativa marxista afirma de modo peremptório que Marx foi um filósofo hegeliano, ou seja, seguidor das ideias de Hegel. Em minha pesquisa sobre a vida e obra de Marx, nunca encontrei evidência ou indício de que Marx tivesse lido as obras de Hegel, ao contrário, encontrei fortes indícios de que Marx não leu Hegel, ou, se leu não compreendeu. Neste artigo vou apresentar esses indícios.

Marx ingressou no curso de direito da Universidade de Bonn, seu medíocre desempenho levou seu pai a transferi-lo para a Universidade de Berlim, onde o ensino era mais rígido. Não obtendo rendimento razoável, foi necessário mudar para o curso de filosofia, supostamente mais fácil que o curso de direito. Mas mudar de curso não resolveu o problema, Marx não conseguiu se formar na Universidade de Berlim.

A narrativa marxista alegou, até 2018, que Marx entregou sua monografia na Universidade de Jena, onde recebeu o diploma de Doutor em Filosofia, no entanto, esse diploma equivaleria ao atual diploma de bacharel/licenciatura e não ao atual diploma de doutorado. Uma biografia publicada em 2018, por um escritor marxista, revelou que Marx jubilou no curso de filosofia da Universidade de Berlim, ou seja, o prazo para concluir o curso havia se esgotado e não havia mais como concluir o curso de filosofia em Berlim nem como ser transferido para outra universidade.

Nessa nova biografia, o diploma de Doutor em Filosofia é realmente de doutor, mas a maneira como Marx o conseguiu é tão estranha quanto a narrativa anterior. Segundo a nova narrativa, na época, era permitido obter um diploma de doutorado sem ter cursado o bacharelado, bastando apresentar uma tese e, obviamente, pagando um determinado valor. A narrativa diz que Marx poderia ter feito isso na Universidade de Berlim, mas preferiu fazer na Universidade de Jena porque nesta universidade não era necessário defender a tese perante uma banca, como era exigido na Universidade de Berlim.

A tese apresentada por Marx teria o seguinte título: Onde Demócrito e Epicuro Discordavam Sobre a Filosofia da Natureza. O título da suposta tese serve apenas para lista de divergências, jamais poderia ser considerado uma monografia e muito menos uma tese de doutorado. Quanto à possibilidade de ser permitido fazer doutorado sem bacharelado, deixo por conta do leitor decidir se é ou não plausível, uma vez que não se tem conhecimento de nenhum outro caso de doutorado sem bacharelado na história. Mas a nova narrativa deixou bem claro uma questão, o diploma de Marx foi comprado.

A narrativa marxista diz que Marx trocou o curso de direito pelo curso de filosofia porque estava extremamente influenciado pelas ideias de Hegel, mas o desempenho medíocre refuta essa narrativa. Também alegam os prosélitos marxistas que, após obter o diploma, Marx não conseguiu emprego como professor universitário porque as universidades não estavam mais aceitando professores simpatizantes de Hegel, mas a ausência de formação em bacharelado/licenciatura e o diploma comprado refutam essa narrativa.

A narrativa marxista não menciona nenhum fato que indique a relação de Marx com Hegel até 1843, quando Marx escreve, mas não publica, a primeira crítica ao Hegel. A narrativa marxista alega que foi por influência de Feuerbach que Marx escreveu a primeira crítica, mas também não menciona algum fato que indique Marx sendo influenciado por Feuerbach, apenas supõe que Feuerbach influenciou Marx da mesma forma como influenciou muito estudiosos alemães.

Na primeira crítica a Hegel, que não foi publicada, Marx não aponta nenhum encaminhamento e nenhuma conclusão. Mas em julho de 1844 Marx publicou uma segunda crítica a Hegel, Crítica a Filosofia do Direito, onde o entendimento que Marx apresenta das ideias de Hegel estão explicitamente influenciados pelas ideias de Feuerbach. No entanto, isso não significa que Marx tenha lido Hegel ou Feuerbach, apenas indica que Marx teve acesso às ideias de Feuerbach que contestam Hegel.

Em 1843, Marx mudou-se para Paris, onde se aproximou de Karl Grünn, professor alemão que estava exilado em Paris e era um dos maiores peritos na obra de Feruerbach. Foi através de Karl Grünn que Marx conheceu Proudhon e foi no apartamento de Proudhon que Marx conheceu Bakunin, este sim um estudioso de Hegel. Ressalte-se que a crítica ao Hegel não encontrou nenhum respaldo jundo aos simpatizantes de Feuerbach, em verdade, Karl Grünn se tornou um desafeto de Marx e através de uma carta, Marx tentou colocar Proudhon contra Karl Grünn, mas não teve êxito.

Em 1845, ano em que foi expulso da França, Marx escreveu uma crítica ao Feuerbach, Teses de Feuerbach, que só foi publicada em 1888 por Engels. Depois de ter usado Feuerbach para criticar (depreciar) Hegel, Marx usou Hegel para depreciar Feuerbach. Em 1846, Proudhon publicou a magnífica obra, A Filosofia da Miséria e Marx tornou-se desafeto de Proudhon publicando a obra A Miséria da Filosofia, destilando ódio contra Proudhon. Marx também tentou comprometer a divulgação do livro de Proudhon na Prússia (atual Alemanha), mas foi justamente na Prússia onde Proudhon obteve maior público.

Teria Marx lido Hegel para produzir uma crítica ao Feuerbach? A resposta para esta pergunta está em uma carta de Marx para Engels (1858), onde Marx menciona que foleou o livro A Ciência da Lógica, de Hegel e isso teria sido de grande ajuda para o projeto que ele estava executando. O projeto em questão é O Capital, ou Crítica à Política Econômica. Na carta Marx menciona que o livro pertencia ao Bakunin e chegou às suas mãos através de um amigo em comum. O amigo é ninguém menos que Proudhon, que Marx tinha atacado ferozmente em seu livro A Miséria da Filosofia. Marx publicou O Capital em 1866 e demonstraria sua gratidão ao Bakunin expulsando-o da Internacional Socialista em 1872.

Os leitores podem ficar à vontade para apresentarem indícios ou evidências de que Marx leu Hegel em algum momento de sua vida, eu terei prazer em reconhecer que errei, mas narrativas marxistas e suposições não são indícios nem evidências.

(Milton Valdameri, janeiro de 2021).


domingo, 21 de junho de 2020

Explicando o Tempo e o Espaço


 O senso comum sabe muito bem o que é o tempo e sabe melhor ainda o que é o espaço, inclusive as pessoas estão frequentemente perdendo ou ganhando espaço ou tempo. No entanto, perante a ciência não existe uma definição aceita como conclusiva, principalmente para o tempo, uma vez que o espaço parece ser algo óbvio e todos conseguem compreender, transitar por ele e até mesmo visualizá-lo, enquanto que o tempo é mais compreendido como algo que passa por nós e não nós por ele. Este ensaio se atreve a tentar resolver a questão sobre o que é o tempo, e também sobre o que é o espaço.

O espaço, que é tão bem compreendido pelas pessoas, nem mesmo existe fisicamente, o espaço é uma existência metafísica, assim como as cores, ou seja, nós enxergamos cores onde o que realmente existe são vibrações (frequências), as cores propriamente ditas não existem fisicamente. O mesmo acontece com o espaço, aquilo que identificamos como espaço, é na verdade a energia/matéria que está preenchendo o espaço.

Se retirarmos a energia/matéria que preenche o espaço, o espaço deixara de existir, pois estará preenchido por uma energia/matéria com dimensões iguais zero centímetros de altura, zero de largura e zero de comprimento, ou seja, um objeto de volume igual a zero. Como o zero representa a ausência de alguma coisa, obviamente o espaço sem energia/matéria estará preenchido por algo que não está ali, ou melhor dizendo, não está preenchido.

Então vejamos, se nós temos um espaço com volume zero, obviamente esse espaço não está ali, ou seja, não existe. Agora vamos aplicar este raciocínio para todo o universo, ou seja, vamos eliminar toda a energia/matéria existente, não havendo mais nada preenchendo o espaço do universo, o próprio universo deixará de existir, ou não. Se eliminarmos toda a energia/matéria do universo, o espaço deixará de existir, mas o universo é composto de espaço e tempo, portando o tempo continuará existindo.

Desta forma, observa-se que, dentro de um raciocínio logicamente consistente, o espaço pode deixar de existir, mas não o tempo. Então é necessário questionar: o que faz o tempo existir, sendo que a existência do espaço depende da energia/matéria para preenchê-lo? Para responder a esta pergunta é necessário perguntar primeiro o que aconteceria se o tempo não existisse e toda a energia/matéria fosse eliminada do universo? A resposta para esta segunda pergunta é: o tempo passaria a existir, o espaço colapsaria e se transformaria em tempo.

Desta forma, o universo é constituído de dois ambientes entrelaçados, o espaço, que só existe se houver algo que o preencha (energia/matéria), e o tempo, que é um ambiente vazio onde ocorrem os movimentos e que não pode ser preenchido, pois se o tempo for preenchido, colapsará no sentido contrário ao colapso do espaço e o tempo se transformará em espaço. Isso só é possível porque tanto espaço como tempo são infinitos e sempre existiram (não tiveram um início), sendo o espaço o ambiente onde os objetos se localizam e o tempo o ambiente onde os objetos se movem.

Para entender a dinâmica que envolve o entrelaçamento espaço/tempo, é adequado fazer uma analogia com um hotel lotado e com quantidade infinita de quartos. O que aconteceria se chegasse mais um hóspede nesse hotel? Não haveria vaga num hotel com infinitos quartos ou haveria vaga em um hotel lotado? Na verdade seria possível criar mais uma vaga, ou mesmo infinitas vagas, da seguinte forma: hospedar o novo cliente no quarto um, retirando o hóspede anterior e realocando-o no quarto dois, retirando o hóspede do quarto dois e realocando-o no quarto três, e assim sucessivamente.

O tempo é como o quarto que hospeda um novo hóspede num hotel lotado. É relevante mencionar que o tempo é como um espaço colapsado que se transformou em tempo, desta forma, o movimento nada mais é que um objeto preenchendo e colapsando o tempo transformando-o em espaço, ao mesmo tempo em que o espaço antes preenchido fica vazio colapsando o espaço e transformando-o em tempo, assim como a energia se transforma em matéria e vice-versa.

O leitor deve (deveria) estar questionando o que eu quero dizer com “colapso do espaço tornando-se tempo” e vice-versa. Ocorre que, ao ficar vazio, um espaço passa a ter as seguintes dimensões: zero de comprimento, zero de largura e zero de altura, ou seja, as medições torna-se imensuráveis através da medição de distâncias, no entanto, é possível medir sua existência através dos ciclos de movimento, como nos relógios, na rotação e na translação do planeta Terra, e assim por diante.

A velocidade com que o movimento dos objetos colapsa o espaço e o tempo ao se movimentarem, é infinita, fazendo com que espaço e tempo sejam percebidos como se nunca tivessem colapsado e como se fossem dois ambientes eternos e estáticos, que estão entrelaçados. Desta forma, é legítimo dizer que o tempo é tridimensional, tanto quanto o espaço, mas as três dimensões só podem ser medidas simultaneamente o que proporciona ao tempo a propriedade de se comportar como se fosse unidimensional.

Concluímos então, que o espaço é o ambiente onde os objetos (energia/matéria) se localizam e o tempo é o ambiente onde os objetos se movimentam, os dois ambientes são tridimensionais e estão entrelaçados. Espero que os leitores sintam-se à vontade para comentar, contestar ou apoiar a hipótese apresentada. Ressalte-se que isto é um ensaio apresentando uma hipótese e não uma tese defendendo uma teoria. Grato!


(Milton Valdameri, junho de 2020).


terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Brasil, Um Pais Dominado Pelo Terrorismo

Quando se fala em terrorismo as pessoas relacionam imediatamente com atentados realizados com bombas, atiradores em restaurantes ou aviões atingindo prédios, atualmente a palavra terrorismo costuma ser relacionada imediatamente com o islamismo, como se os atentados terroristas praticados por cristãos contra cristãos na Irlanda nunca tivessem ocorrido. Este ensaio pretende abordar a questão do terrorismo de forma muito mais ampla e profunda, então aqueles que temem ter suas crenças questionadas devem parar de ler o ensaio imediatamente.

Terrorismo é a prática de causar terror nas pessoas para obter poder sobre elas ou simplesmente subjugá-las por algum tempo. O terrorismo foi usado desde os tempos mais primórdios, no entanto era praticado para vencer guerras e depois de decididos os conflitos a prática não se mostrava mais necessária, mas num determinado momento da história o terrorismo passou a ser usado como poder político e não apenas como poder bélico, no entanto esse terrorismo só funciona se as pessoas não o identificarem como terrorismo.

O uso do terrorismo como prática constante para manter um grupo de pessoas subjugadas pode ser identificado pela primeira vez na história com a invenção do conceito de inferno, onde as pessoas passaram a viver sob a ameça constante de serem enviadas para um lugar terrível, caso não seguissem as determinações dos líderes que pregavam, e ainda pregam, a existência do inferno. Esse método foi usado inicialmente de forma isolada e por indivíduos que não detinham nenhum poder político e nunca chegaram a constituir um poder político institucionalizado, muito pelo contrário, foi combatido pelos poderes políticos institucionalizados durante dois séculos.

Mas no século IV o imperador Constantino oficializou esse método no Império Romano. Ironicamente, após oficializar o método de aterrorizar as pessoas com a ideia do inferno, o próprio Império Romano foi vítima de outra prática de terrorismo aplicada pelos hunos. O povo huno, originário da ásia, viveu durante séculos praticando saques, mas na segunda metade do século IV eles dominaram a maior parte da Europa e constituíram um império, que substituiu os saques pela extorsão e os outros povos pagam impostos para os hunos em troca de não serem saqueados, o poderoso Império Romano era um desses povos, era o principal mantenedor do Império Huno.

A história dos hunos mostra que, por mais eficiente e poderoso que o terrorismo explícito pode ser, ele sempre será combatido e mais dias ou menos dias ele será derrotado, mesmo que apenas para ser substituído. No livro A Arte da Guerra, escrito pelo chinês Sun Tzu no século IV antes da era comum, que até hoje é estudado pelos mais elevados membros das forças armadas dos países mais poderosos, está escrito mais ou menos o seguinte: “Quando apenas um lado sabe que está em guerra, o outro lado não tem a menor chance de sair vitorioso”. Hitler estava em guerra contra o mundo, mas o mundo só foi perceber depois que ele já tinha construído a maior máquina de guerra já conhecida até aquela época e as consequências são conhecidas.

Mas o que me fez escrever este ensaio foi um episódio recente, que se tornou um dos principais focos de polêmica na internet brasileira durante aproximadamente uma semana. A Rádio Jovem Pan abordou o tema em alguns de seus programas e não sei se outros meios de comunicação tradicionais o fizeram, mas suponho que sim. A polêmica envolve uma futura ministra e Jesus num pé de goiabeira.

Na segunda semana de dezembro de 2018 começou a circular no Youtube um vídeo mostrando a pastora Damares Alves, futura ministra do governo Bolsonaro, dando um depoimento na Igreja que ela comanda. O vídeo que causou a polêmica não mostrava o depoimento inteiro, foi editado para focar na parte onde ela disse ter visto Jesus subir num pé de goiaba. O episódio se transformou em piada e surgiu uma charge com o Chico Bento e Jesus em cima de um pé de goiaba. Mas os defensores do Bolsonaro reagiram transformando o episódio em ofensa a uma pessoa e a fé da pessoa em questão.

O ponto principal dos defensores do Bolsonaro para acusar os piadistas é o fato dessa pastora ter sido vítima de abuso sexual na infância e que o depoimento está relacionado com esse abuso. Começaram acusar os piadistas de debocharem da pastora por ela ter sofrido abuso, quando o vídeo que causou a piada teve cuidado de desvincular o caso de abuso da piada. Para acusar os piadistas, o vídeo com o depoimento inteiro começou a ser divulgado, como se fosse aquele o vídeo que originou a piada.

No programa Os Pingos nos Is (https://www.youtube.com/watch?v=frrufInZENk&t=671s), da Rádio Jovem Pan, o respeitado jornalista Augusto Nunes mencionou que só soube do abuso após ver o outro vídeo e reprimindo a atitude dos piadistas por esse motivo, deixando óbvio que no primeiro momento, com o vídeo focando apenas na goiabeira, o respeitado jornalista não viu nenhum desrespeito ou ofensa. Portanto a tal ofensa não passa de uma intenção que os defensores do Bolsonaro atribuíram aos piadistas. Quando digo defensores do Bolsonaro, o faço porque não estão defendendo a Damares e sim a futura ministra do governo Bolsonaro, se ela não estivesse indicada para assumir o ministério não haveria a reação que houve.

Mas a defesa que os conservadoristas fizeram mostra que a situação é muito mais grave do que parece, se tem alguém que debochou do abuso sexual sofrido na infância, foi a própria Damares Alves. A própria Damares revelou em entrevista que foi abusada por dois anos por um pastor evangélico, dos seis aos oito anos, mas o pastor evangélico foi omitido no depoimento do vídeo e os defensores do Bolsonaro também omitem quando mencionam o abuso.

Um segundo pastor também abusou dela, mas não teria chegado à vias de fato e ela se recorda de quatro episódios, mas ela não diz que idade tinha quando o segundo pastor abusou dela, diz apenas que foi depois que o abuso do primeiro pastor tinha encerrado. Até o momento não é possível saber se o episódio da goiabeira, que teria ocorrido quando ela tinha dez anos, ocorreu enquanto os abusos do segundo pastor estavam ocorrendo ou se já haviam deixado de ocorrer, mas ninguém mostrou interesse em tal informação.

O episódio do pé de goiaba está diretamente relacionado com o desejo de se suicidar, Damares teria subido no pé de goiaba com algum tipo de veneno e desistido do suicídio após ver Jesus. É fácil deduzir que ela pensou em suicídio por causa dos abusos, mas sem saber se os abusos já haviam parado e há quanto tempo não ocorriam mais, essa dedução é equivocada, pois uma tentativa de suicídio requer algo que provoque a iniciativa, ou seja, é necessário a gota d’água que faça o copo transbordar. Evidentemente o abuso é causa principal da depressão que a levou a tentar suicídio, mas até o momento fica a dúvida sobre haver ou não algo que desencadeou a tentativa.

Mas a questão neste ensaio não é questionar detalhes sobre a história da Damares, muito pelo contrário, a Damares nem é a questão principal neste ensaio, mas sim o episódio completo, onde os protagonistas viraram meros coadjuvantes a serem esquecidos no contexto. A própria Damares se referiu a Jesus como seu amigo imaginário e disse que é comu crianças dizerem que viram fadas ou duendes e isso é fato determinante para encerar a polêmica da piada, pois se ela tivesse falado que viu uma fada no pé de goiaba, ninguém se sentiria ofendido com a piada feita na internet.

É necessário entender que ninguém faria piada com uma criança dizendo que viu uma fada, mas não se trata de uma criança e sim de uma pessoa adulta que está prestes a assumir um ministério no governo brasileiro. Você confiaria num ministro que diz ter visto uma fada quando criança? Se a Damares tivesse mencionado uma fada, alguém teria saído em sua defesa? Alguém aceitaria como verdadeiro o testemunho de alguém que desistiu de se suicidar por ter visto uma fada? Se alguém disser que Jesus apareceu para ele e contou que a história da Damares não é verdadeira, alguém acreditaria nesse testemunho?

O testemunho da Damares pode ser resumido da seguinte forma: “Sofri abuso sexual quando criança, mas agora está tudo bem”. O problema é que não está tudo bem. Primeiro, porque ela usou o episódio para fazer seus seguidores acreditarem naquilo que ela prega. Segundo, porque muitas pessoas que foram vítimas de abuso sexual ficam traumatizadas por toda a vida, eu poderia citar o exemplo de uma atriz que já fez muito sucesso, mas o sucesso nunca foi capaz de apagar o trauma, como ocorre no caso da Damares. Terceiro, porque não há indícios de que a Damares tivesse mencionado o ocorrido em outra ocasião e não há como saber o motivo de ter mencionado agora.

Mas a parte mais grave e que faz com que a própria Damares esteja debochando do abuso sexual, é que ela não se preocupou em denunciar os abusadores. Aqueles que se sentiram ofendidos pela piada deveriam sentir-se agradecidos, pois foi revelado que pastores evangélicos praticam pedofilia e ninguém faz nada. A ministra Damares assumirá o ministério com a responsabilidade de dizer à população se, no exercício de sua função como pastora evangélica, ela orientou seus seguidores sobre os riscos que as crianças correm de sofrer abuso sexual por pastores e se orientou como agir caso isso ocorra.

Infelizmente ninguém se sentiu ofendido pelos pastores que abusaram da Damares, só se sentiram ofendidos por uma piada que usou a figura de Jesus em vez de usar uma fada. Se transformar uma piada em algo mais grave que o abuso sexual de uma criança não é terrorismo, então este ensaio deve ser severamente criticado. Quanto ao efeito que esse terrorismo causou, é fácil entender, qualquer crítica à ministra será considerado como desrespeito a uma criança que sofreu abuso sexual e ou ofensa à crença que ela defende.

É esse tipo de terrorismo que tem pautado a vida dos brasileiros, a campanha que elegeu Collor presidente foi a mesma que levou o Lula para o segundo turno, como estratégia para não enfrentar o Brisola e, ironicamente, o ponto central do segundo turno foi deixar a população com medo de o Lula confiscar a poupança. A campanha de José Serra usou a atriz Regina Duarte para criar o medo da volta da inflação, enquanto que Lula usava a seu favor o medo das privatizações, depois o medo que o Bolsa Família acabasse. Dilma aterrorizou os eleitores fazendo pratos de comida sumirem, mas nenhuma eleição foi mais marcada pelo medo do que a última, onde as pessoas votaram no Bolsonaro por medo do PT e no PT por medo do Bolsonaro.

Mas não vou deixar a eleição de FHC de fora, embora o Plano Real tenha sido o fator determinante, o medo do PT já existia naquela eleição e só foi superado por outro medo propagado pelo próprio PT, que está relacionado com as privatizações de certas empresas, ironicamente uma das empresas que as pessoas tinham medo que fosse privatizada é a Petrobras, que foi depredada. As pessoas estão acostumadas a ver como terrorismo o ato de uma ou de poucas pessoas causando terror em muitas, mas quando muitas causam o terror o conceito de terrorismo desaparece.


(Milton Valdameri, dezembro de 2018).