A
expressão Escola Sem Partido,
surgiu há vários anos, expressando o desejo de grande parte da
sociedade brasileira, de retirar das escolas as atividades
partidárias. Surgiu então o Movimento Escola Sem Partido
e três projetos de lei relacionados com o tema: PL 7180/2014, PL
867/2015, apensado ao anterior, e o PL 193/2016.
O
grande problema com essa questão, é que a maioria, praticamente a
totalidade, das pessoas que apoiam o Escola Sem Partido,
apoiam a retirada das atividades partidárias nas escolas, mas
ignoram que estão, sub liminarmente, apoiando um projeto de lei cujo
conteúdo é desconhecido, muito nem sabem que estão apoiando um
projeto de lei.
O
projeto de lei que determina o debate neste momento, é o PL
193/2016, o que aconteceu, ou está acontecendo, com os dois
anteriores é uma incógnita. Mas também foi apresentado um projeto
de lei denominado Escola Livre, pelo deputado Jean Wyllys, que
defende basicamente o seguinte: “Uma
escola
para a democracia não é uma escola
“sem partido”, mas com muitos partidos, com muitas ideias, com
muito debate”.
Embora
o Escola Sem
Partido
seja uma proposta identificada com aqueles que apresentam como
direita,
não faltam representantes da direita se opondo ao referido projeto.
Entre as manifestações contrárias ao Escola
Sem Partido,
nas redes sociais, está um vídeo onde o professor não consegue
falar sobre a teoria da evolução, para não infringir a lei. Mas o
fato que me levou a escrever esse artigo, foi uma entrevista com Luís
Felipe Pondè, programa Roda Viva de 08/08/2016 (vídeo), onde foi
abordado o Escola Sem Parido entre os minutos, 7'00” e 12'30”.
Pondè
segue a linha de raciocínio, que o Escola
Sem Partido
seja utilizado por pais, para alegar que, por ensinarem a teoria da
evolução, estão ensinando ateísmo na escola. Embora a
possibilidade de ocorrer aquilo que Pondè receia, seria uma situação
juridicamente muito frágil, onde seria possível obter uma liminar
que seria cassada em menos de dois dias, como já aconteceu com o
Whatsapp. No entanto, Pondè deveria estar mais preocupado com o
Art. 4º
do PL 193/2016:
“As
escolas confessionais e também as particulares, cujas práticas
educativas sejam
orientadas por concepções, princípios e valores morais, religiosos
ou ideológicos, deverão obter dos pais ou responsáveis pelos
estudantes, no ato da matrícula, autorização expressa para a
veiculação de conteúdos identificados com os referidos princípios,
valores e concepções”.
O
artigo quatro cria a possibilidade jurídica de fazer proselitismo
religioso e ideológico em escolas particulares, inclusive permitindo
que a escola adote o criacionismo como disciplina em seu currículo.
No primeiro momento, as escolas ligadas a instituições religiosas,
poderão imediatamente, tornarem-se escolas COM partido, baseando-se
no PL Escola SEM Partido. A integra do PL 193/2016 está aqui.
Mas
isso não significa que a proposta Escola
Livre,
seja uma proposta mais aceitável, pois uma escola com muitos
partidos pode ser tudo, menos livre. É necessário entender que a
escola tem uma finalidade, que é o ensino, proporcionar aos alunos o
acesso ao conhecimento científico, a sala de aula não é lugar para
debater crenças de nenhuma natureza.
Pondè
disse algo muito importante em sua entrevista: “Uma
das maiores mentiras do mundo, é que exista debate nas
universidades”.
Sem dúvida, as escolas superiores, assim como as escolas do ensino
médio, deveria ter como uma de suas atribuições, promover debates,
mas sala de aula não é lugar para debates, é o lugar onde as
pessoas são preparadas para o debate.
Mas
existe outro problema sobre a questão dos debates, eles não podem
ser atribuição apenas das escolas, os meios de comunicação
desfrutam de extraordinários recursos de tecnologia para promoverem
debates. Televisões, rádios, jornais, revistas e instituições de
classes, como associações comerciais, conselhos profissionais e
associações diversas, deveriam assumir a responsabilidade de
promover debates sobre os mais diversos temas. O debate não deve
ficar restrito às escolas, muito menos às universidades.
Aliás,
os partidos políticos, são justamente as instituições que mais
deveriam promover debates, principalmente pelo fato de receberem
dinheiro de impostos para sobreviverem. Alguém já viu um partido
político brasileiro promover um debate? Defendo a proposta da
“escola escola”, onde as escolas não tenham que servir de
instrumento de divulgação de crenças de qualquer natureza, mas
proporcionar conhecimento aos seus alunos.
Para
refletir um pouco sobre debates, sugiro o filme O
Grande Desafio
(aqui).
(Milton Valdameri, agosto de
2016).
"Sala de aula não é lugar para debates, é o lugar onde as pessoas são preparadas para o debate."
ResponderExcluirVocê disse tudo. No meu tempo escola era lugar de adquirir conhecimento e não de chacrinha. Eu fico imaginando como serão esses tais "debates" hoje. Um professor e 40 alunos debaterem em 40 minutos de aula só pode dar em pandemônio.
Quanto à Escola Sem Partido, eu li o PL há algum tempo e acho que a ideia é boa, só que o projeto em si foi feito nas coxas e sem embasamento jurídico, o que suscita percalços sem os prever.
Quanto à religião, isso sempre vai ser um problema enquanto houverem escolas confessionais ensinando que fé e razão se equivalem.