terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Universo Diante da Lógica

Este ensaio não pretende analisar as questões da astronomia ou da física teórica, não pretende desvendar o que existia antes do Big Bang, mas pretende mostrar de forma simples, duas condições necessárias para que o universo seja como é hoje. Dentro do padrão científico, as palavras Universo, Cosmos ou Cosmo, possuem o mesmo significado, neste ensaio, será considerado que o Cosmo é parte do Universo, está dentro dele, e Cosmos é plural de Cosmo.
A lógica tem como princípios, os lógicos absolutos, ou seja, os argumentos que estão comprovados logicamente em si mesmos. Um lógico absoluto é o argumento que não é possível algo se originar do nada, ou criar a si mesmo. O simples fato do universo existir, implica na conclusão inequívoca e incontestável, que algo sempre existiu, que existe algo eterno.

Neste momento, suponho que muitos leitores, ou pelo menos alguns, farão a observação de que pode ser algo, ou alguém, sugerindo a existência de Deus. Essa questão será abordada neste ensaio, mas no momento oportuno, e se faz necessário porque o segundo ponto do ensaio diz respeito a um argumento de Tomás de Aquino, que é basicamente o seguinte: o Universo deve ter tido um início, pois se não houver um início, não existiria o presente, haveriam infinitos eventos anteriores que impediram o presente de existir.

O argumento de Tomás de Aquino não tem por objetivo, ser um argumento para a existência de Deus, embora muitos apologistas o utilizem com essa finalidade, assim como utilizam o Big Bang no mesmo sentido. É justamente no argumento de Tomás de Aquino que este ensaio se originou, é esse argumento que o ensaio está refutando. Em princípio, o lógico absoluto já apresentado, é suficiente para refutar o argumento, mas o argumento também faz referência à existência do presente, com uma linha de raciocínio extremamente convincente.

Para entender o raciocínio de Tomás de Aquino, é necessário perceber que ele se refere ao presente como um evento, que para ocorrer, necessita de um primeiro evento, se os eventos anteriores fossem infinitos, seriam necessários infinitos eventos para que o evento atual ocorresse, como aquilo que é infinito não termina, então o evento atual não teria como acontecer. Isso está totalmente correto, é inquestionável e incontestável, ou seja, tem o mesmo valor de um lógico absoluto.

Mas a falha no raciocínio, não está na análise do presente, mas sim, em confundir a existência do universo com a existência de eventos. Tomás de Aquino comete o equívoco de colocar a existência do universo como um evento, quando a existência do universo está condicionada unicamente ao verdadeiro ou falso, existe ou não existe, conforme mostra o lógico absoluto apresentado no ensaio.

Reunindo o lógico absoluto apresentado, com o raciocínio de Tomás de Aquino, em relação ao presente, que possui o mesmo valor do lógico absoluto, temos dois axiomas:

1) O Universo sempre existiu, ou melhor, algo sempre existiu e desse algo é feito o universo.
2) Existiu um primeiro evento, ou seja, um evento sem causa.

Mas não é aceitável apelar para a autoridade de axiomas ou lógicos absolutos, para que uma afirmação seja aceita passivamente por outras pessoas, pois axiomas e lógicos absolutos não possuem autoridade, possuem compreensibilidade, devem ser entendidos e não simplesmente aceitos. Então é necessário que este ensaio proporcione ao leitor o entendimento daquilo que está sendo afirmado.

Existe uma afirmação de Stephen Hawking, brilhante físico teórico, pelo qual nutro grande admiração, que diz o seguinte: antes do Big Bang o tempo não existia, portanto Deus também não poderia existir. Apologistas também usam essa afirmação para dizer que, se o tempo não existia antes do Big Bang, então foi criado por Deus, que sempre existiu.

A afirmação de Hawking pode ser expressa da seguinte forma: houve um tempo em que o tempo não existia. É uma afirmação contraditória em si mesma, portanto não é necessário apresentar argumentos para refutá-la, o mesmo lógico absoluto que sustenta o axioma de que o Universo sempre existiu, também sustenta que o tempo sempre existiu.

Ocorre que o tempo é medido através de eventos repetitivos, se houve um primeiro evento, então o tempo não podia ser medido antes disso, mas ele existia. Existindo um tempo infinito antes de ocorrer o primeiro evento, leva tudo ao raciocínio de Tomás de Aquino, ou seja, quanto tempo foi necessário para ocorrer o primeiro evento? Se existisse um tempo infinito, antes do primeiro evento, o evento nunca ocorreria.

Mas também voltamos ao lógico absoluto deste ensaio. Se não é possível algo se originar do nada, e nada acontecia antes do primeiro evento, também podemos afirmar, com o mesmo valor do lógico absoluto, que não é possível o nada ser infinito, o nada não pode ser alguma coisa, muito menos infinito. Se não estou enganado, quando não tem mais nada, é porque terminou, se terminou, não é infinito, logo, nada de eventos antes do primeiro evento, não pode ser considerado como medição infinita do tempo.

Mas já existe uma tecnologia que permite mostrar como o tempo infinito, antes do primeiro evento, é indiferente para que o primeiro evento aconteça, chama-se relógio. Quanto um indivíduo olha para um relógio de sol, saberá a hora certa, não importa há quanto tempo o Sol existe, nem quantas vezes o relógio já marcou aquela hora.

Em resumo, quantidade de tempo não é condição necessária para algo acontecer, é possível percorrer uma mesma distância em quantidades diferentes de tempo, portanto, não é cabível a relação da quantidade de tempo existente antes do primeiro evento, com a ocorrência do primeiro evento. Não é cabível a colocação do tempo como agente ativo de alguma coisa.

Agora vou abordar a questão de Deus. Tudo o que foi apresentado neste ensaio, sobre a existência do Universo, aplica-se à existência de Deus, supondo que ele exista e tenha criado o Universo. Deus não poderia ter criado o tempo, caso contrário, haveria um tempo em que o tempo não existia. Deus não poderia criar o Universo do nada, conforme diz o lógico absoluto deste ensaio. Como a única coisa que existia, desde sempre, era o próprio Deus, então Deus teria que criar o Universo a partir de si mesmo. Deus teria que se transformar no próprio Universo para criá-lo. Desta forma, o Universo não seria uma criação de Deus, mas o próprio Deus.

Por não existir uma definição de Deus, não é possível usar a lógica para dizer se Deus existe ou não, mas este ensaio mostra através da lógica, que Deus não criou o universo, pode existir, sendo o próprio universo, jamais criando-o. É previsível que alguns leitores, ou muitos, digam que este ensaio tem o objetivo de mostrar que Deus não existe, pois é totalmente incompatível com a teologia judaica, cristã e islâmica, porém o ensaio é totalmente compatível com a teologia hindu, portanto este ensaio não pode ser considerado um argumento ateísta. Como este ensaio não tem pretensão teológica, a questão da existência de Deus ficará limitada a este breve raciocínio.

A lógica diz que existiu um evento sem causa, portanto é plausível que outros eventos sem causa ocorram, pois a lógica não exclui essa possibilidade, tanto para eventos diferentes que ocorram dentro do Cosmo, como para outras ocorrências do mesmo evento, que pode gerar múltiplos Cosmos dentro do Universo.

A possibilidade de múltiplos Cosmos tem sido muito divulgada em documentários, por isso é necessário mencionar essa possibilidade neste ensaio, além de ser algo interessante. Lembrando que foi dito no início deste ensaio, que aqui, Cosmo e Universo são diferentes, que o Cosmo estaria dentro do Universo, a questão agora é se existe apenas um, ou múltiplos Cosmos. O primeiro ponto a observar, é a expansão do Cosmo.

Se o Cosmo está se expandindo, então existem duas possibilidades, a primeira é que não existe nada além do Cosmo, portanto o Universo é do tamanho do Cosmo e a expansão significa que o Cosmo e o Universo seriam a mesma coisa, a expansão significa que o Universo está se esticando, como um elástico. Essa é possibilidade adotada no modelo padrão da física.

Mas existe a possibilidade de que a expansão do Cosmo, seja um desdobramento do primeiro evento, em um Universo infinito, ou pelo menos maior que o Cosmo, com o Cosmo se expandindo da mesma forma como uma onda se expande em um lago. O Cosmo seria aquilo que existe dentro do perímetro da onda. Eu mesmo tenho um ensaio onde defendo essa ideia, considero mais plausível um Cosmo que se expande como uma onda, que um Cosmo que se estica como um elástico. Inclusive porque não existe no modelo padrão da física, uma força que explique o esticamento do Cosmo.

Considerando a primeira hipótese, onde o Cosmo está se esticando e não existe nada além do Cosmo, a possibilidade de existirem múltiplos Cosmos torna-se impossível, pois se existissem múltiplos Cosmos, sem nada entre eles, o Cosmo onde vivemos não conseguiria se expandir sem colidir com outro Cosmo. Nesse caso, Cosmo e Universo seriam inevitavelmente a mesma coisa, não haveria possibilidade lógica de existir mais de um.

Mas a hipótese de que o Cosmo está se esticando como um elástico, não significa necessariamente que não exista algo além do Cosmo, separando o nosso Cosmo de outro Cosmo. Porém, esse algo deve ter uma constituição que não interaja com o nosso Cosmo, caso contrário já teria sido detectado. Podemos fazer a seguinte analogia, para essa hipótese, o Cosmo é uma gota de óleo num Universo de água, essa gota de óleo está se esticando e existem outras gotas de óleo (Cosmos) na água (Universo).

A analogia com água e óleo, requer um terceiro conceito, além de Cosmo e Universo, pois o Universo seria constituído de Cosmos (óleo) e Algo (água). Este ensaio considera três possibilidades para o Universo, mas poderia considerar outras que não acrescentariam nada ao raciocínio. O objetivo do ensaio foi mostrar, através da lógica, o seguinte: algo sempre existiu e houve um evento sem causa como primeiro evento.

Para encerrar, de forma muito pretensiosa, este ensaio espera ter mostrado que, a famosa pergunta impossível de responder, “por que existe alguma coisa, em vez de nada?”, não precisa ser respondida, se o ensaio conseguiu demonstrar que existiu um evento sem a necessidade de uma causa, então também ficou demonstrado uma existência sem a necessidade de um “por que?”.


(Milton Valdameri, setembro de 2016).

6 comentários:

  1. Gostei muito, eu estava ficando perturbado com o fato de que alguma coisa existe quando me deu conta de que "nada deveria existir" para mim ainda é difícil pensar em um evento sem necessidade de uma causa talvez por um jeito pequeno ou sem imaginação de pensar, mas esse foi o único "artigo" que me ajudou a entender melhor isso, eu só pensei que ou algo sempre existiu e ou simplesmente foi surgiu do nada, por que para mim é difícil pensar que antes do Big bang o universo era só digamos aquela ponta de agulha em um "tempo infinito" para o passado, pelo meu jeito de pensar aquilo surgiu de algo e algo não pode surgir de nada e talvez mesmo se descobrissemos de onde surgiu, so continuariamos perguntando e então de uma forma ou de outra algo tem que "sempre ter existido" meu comentário foi meio contraditório, me desculpe pelos erros que eu posso ter cometido, eu não entendo muito ainda tenho apenas 14 anos e me desculpe pelo transtorno caso eu tenha causado.

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    1. Foi uma grande satisfação receber seu comentário em meu blog. Até aonde eu seu, esta é a primeira vez que alguém aborda essa questão com esse ponto de vista, embora muitos pensadores famosos tenham abordado esse tema. Eu procurei uma forma de entender a questão através de uma explicação simples, enquanto que os outros partiam do princípio que era uma questão complexa e buscavam uma explicação complexa. Parece que o problema está na dificuldade com que o ser humano tem para lidar com algo infinito.

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    2. Talvez nunca encontremos a resposta que queremos pois pela nossa lógica algo sempre vem de algo, "sempre ha alguma coisa antes" é assim que pelo menos eu penso porém por essa lógica nunca encontraremos uma resposta concreta o suficiente, sempre irá haver mais perguntas, talvez eu esteja errado mas precisamos conseguir entender a resposta que temos, tentar entender pelo menos, ainda é perturbador lembrar que nada deveria existir, mas talvez o início do universo seja realmente mais uma questão filosófica, ou pelo menos ela nos ajudará a entender ou pelo menos entender que não há oque buscar. Novamente desculpe pelos erros e pelo transtorno caso tenha causado gostei muito do seu blog, e a satisfação É minha por poder ler ler esse "artigo" pode não parecer mas me ajudou mais do que você imagina, é difícil falar sobre isso com alguém próximo a mim, porque falar para minha mãe ou um amigo, "nada deveria existir" soa diferente do que eu realmente quero dizer. Obrigado por publicar isso em seu blog.

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    3. Veja que a questão do tempo é científica e não filosófica, a questão do primeiro evento é igualmente científica. Ocorre que em ciência, só é possível estudar o evento descoberto, para depois descreve-lo e depois, se possível, explicá-lo. No caso do primeiro evento, ele é científico porque a lógica é a base da ciência, no entanto, para descobrir o evento primário, é necessário descobrir os eventos posteriores.

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    4. Tudo bem muito obrigado por esclarecer eu acho que entendi.

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    5. Obrigado eu acho que entendi, compreendi o conceito de um primeiro evento sem um motivo eu acho, porém talvez eu só não consiga aceitalo ou só não tenha entendido como devia e tenha apelado para a questão filosófica. Obrigado e desculpe pelos erros.

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