Alguém
disse certa vez, muito antigamente, que enquanto os cães latem, a
caravana passa. Tenho a impressão que esta frase sucumbiu ao tempo e
deve ser substituída pela seguinte frase: “Enquanto a caravana
passa, os cães assistem em silêncio”. Aparentemente, as pessoas
não estão percebendo que a disciplina de história está sendo
retirada das escolas, ou não estão se importando. Até o momento,
não vi nenhum questionamento, sobre as consequências dessa atitude,
seja mostrando os benefícios ou prejuízos.
Segundo
notícia que li semanas atrás, o Japão estuda a possibilidade de
extinguir todos os cursos de ciências humanas. Suponho que direito,
administração e economia não sejam considerados ciências humanas
no Japão, como acontece no Brasil, que divide os cursos acadêmicos
em Ciências Humanas e Desumanas, ou Exata e Inexatas. Ou algo
parecido com isso. A Austrália substituiu, ou vai substituir, a
disciplina de história pela disciplina de programação de
computadores. O Brasil tem um projeto que pretende substituir as
disciplinas de história, geografia e filosofia por “Educação
Moral e Cívica”.
Em
primeiro lugar, é necessário lembrar que a finalidade da
disciplina, ou do curso de história, é proporcionar ao ser humano o
conhecimento daquilo já foi feito ou deixado de fazer pela
humanidade, ou seja, apresentar paras as pessoas o retrato do
passado. Infelizmente não é isso que tem ocorrido nas aulas de
história, lamentavelmente, em vez de apresentar o retrato da
história, estão apresentando narrativas que a atendem aos
interesses de grupos. A narrativa marxista é diferente da narrativa
cristã, a narrativa dos católicos é diferente da narrativa
dos protestantes, dos evangélicos, pentecostais e assim por diante.
Considerando
que o objetivo da disciplina está sendo deturpado, é mais ético
eliminar a disciplina do que usá-la indevidamente, mas isso é o
mesmo que culpar o sofá pela traição da mulher. O correto seria
começar a praticar o verdadeiro objetivo da disciplina, substituindo
as narrativas pelo retrato, mas isso implicaria em um problema
político enorme, se não existe uma narrativa capaz de agradar a
todos, com certeza o retrato da história vai desagradar todas as
narrativas.
A
melhor maneira de entender por que a disciplina está sendo
eliminada, em vez de corrigida, é analisando o projeto brasileiro,
que substitui história por educação moral e cívica. Como mostrar
na aula de história, que os militares inventaram a disciplina de
educação moral e cívica, mas após o período militar a disciplina
foi considerada inadequada para um país democrático, ou melhor,
como mostrar que a disciplina de educação moral e cívica fez parte
do currículo dos políticos que institucionalizaram a corrupção no
país?
Se
existe uma utilidade para o estudo da história, é justamente
conhecer os erros do passado para não repeti-los, a única
utilidade para a eliminação da disciplina, é justamente poder
repetir os erros do passado sem que as pessoas percebam. Como a
tendência de eliminar a disciplina de história parece ser mundial,
seria conveniente que as pessoas do mundo inteiro começassem a se
perguntar: qual parte da história o mundo pretende repetir?
No
caso do Brasil, parece que o objetivo é restabelecer o modelo
político do período militar, onde havia uma hegemonia política com
uma oposição impotente. Esse quadro já está devidamente
estabelecido desde a chegada do PT ao poder, aliás, o projeto que
substitui a disciplina de história por educação moral e cívica é
projeto do PT. Agora o público está sendo convencido de que o
Brasil passa por grande mudança, onde os partidos que compartilharam
o poder, e a corrupção, com o PT, continuam no poder e a oposição
que antes era impotente, agora é praticamente inexistente, uma vez
que o PT e seus aliados, que seriam a oposição, não conseguem mais
nem reunir pessoas para distribuir sanduíche de mortadela.
Será
essa a repetição da história, em âmbito mundial, uma hegemonia
política? Até o momento, não houve na história uma hegemonia
política mundial, então, supostamente, não seria necessário
eliminar a disciplina de história para implantar essa hegemonia, mas
existe na história, vários exemplos de hegemonia política
localizada. Um exemplo típico é a URSS, mas o exemplo mais
importante, é a hegemonia política do cristianismo na Europa, onde
não importava quem era o Rei governante, nem quem era o Rei inimigo,
ambos atendiam aos interesses de uma mesma instituição, a Igreja
Romana.
Não
pretendo sugerir que exista uma instituição que estará presente em
todos os governos, mesmo aqueles que estejam em guerra, como
aconteceu com a Igreja Romana, não compartilho com as teorias
conspiratórias de que uma sociedade secreta vai implantar um governo
mundial, mas a possibilidade de que todos os governos, e
consequentemente as populações, sigam uma mesma forma política de
pensar, parece muito evidente.
(Milton Valdameri, outubro de
2016).
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