Este blog não pretendia
comentar sobre as eleições americanas de 2016, uma vez encerrado o
pleito, o importante é analisar o que acontecerá depois, como foi
feito em outra postagem (aqui). Mas como surgiram muitas análises
sobre os motivos da vitória do Trump, e todas que eu vi são muito
simplórias, decidi colocar meu garfo nessa sopa.
A vitória de Trump foi mais
apertada do que parece. Em quatro estados decisivos, a diferença foi
a seguinte: Flórida: Trump (49,06% x 47,79%) 119.770 votos de
diferença, 29 delegados. Pensilvânia: Trump (48,79% x 47,65%)
68.236 votos de diferença, 20 delegados. Wisconsin: Trump (47,87% x
46,74%) 27.257 votos de diferença, 10 delegados. Michigan: Trump
(47,59% x 47,34%), 11.837 votos de diferença, 16 delegados.
Para vencer o pleito nos EUA, é
necessário obter 270 delegados, Trump obteve 305 e Hilary 233. Para
vencer as eleições, Hilary precisaria de mais 37 delegados,
portanto teria que vencer na Flórida e Pensilvânia, ou Flórida e
os outros dois, ou ter perdido apenas na Flórida. A grande questão,
é como a divulgação de que Hilary teria mais de 80% de chances de
vencer as eleições, influenciaram os eleitores.
No Brasil, estar na frente nas
pesquisas, ajuda o candidato porque o eleitor brasileiro vota em quem
vai vencer para “não perder o voto”, ou mesmo para evitar que
haja segundo turno. Mas no Brasil, o comparecimento às urnas é
obrigatório, embora nem tanto assim. Nos EUA, o eleitor vota se
quiser, desta forma, a divulgação de que um candidato está
praticamente eleito, pode causar o efeito de afastar eleitores desse
candidato das urnas.
Digo isso porque na França,
Jacques Chirac concorreu à reeleição sob graves acusações de
corrupção, tinha uma rejeição enorme. O candidato do Partido
Socialista tinha uma grande vantagem e seus eleitores não foram
votar no primeiro turno, seguros de que outros o fariam. O candidato
que estava com grande vantagem nas pesquisas, ficou fora do segundo
turno e seus eleitores acabaram votando em Chirac, para não correr o
risco do Le Pen, praticamente um nazista, vencer a eleição.
A eleição de 2016 apresentou o
maior índice de abstenção na história das eleições americanas,
é difícil dizer o quanto a divulgação de suposta vitória
antecipada da Hilary contribuiu para afastar o eleitor da urna, pois
a eleição foi marcada pela alta rejeição ao dois candidatos. Mas
no episódio da França, os dois candidatos do segundo turno, também
tinham enorme rejeição, maior que a dos candidatos americanos, no
entanto, o segundo turno teve um índice de abstenção menor que o
de costume.
Usando como referência o
episódio da França,é legítimo dizer que a rejeição ao candidato
é estímulo para votar, tão grande quanto a simpatia, ou maior,
enquanto que, sentir-se seguro da vitória do candidato pelo qual o
indivíduo simpatiza, diminui o ímpeto de comparecer à urna. Mas a
eleição na França é decidido por voto nominal, ou seja, cada
eleitor um voto. Sob esse critério, as pesquisas sempre indicaram a
vitória de Hilary por um pequena margem e... ACERTARAM. Hilary teria
vencido a eleição se cada eleitor contasse um voto direto.
Outra questão importante, é
que o Partido Democrata aumentou o número de Senadores e de
Deputados, embora o controle do Congresso tenha continuado nas mãos
do Partido Republicano. Obama venceu a eleição anterior, mas o
partido conquistou com ele, menos cadeiras no Congresso do que com a
Hilary. O Partido Republicano perdeu 3 cadeira no Senado, e 10 na
Câmara dos Deputados. Isso mostra como, analisar as eleições
americanas, é mais complexo do que imaginam os analistas de plantão.
Hilary recebeu mais votos de
eleitores populares do que Trump, sempre que o candidato derrotado
recebe mais votos que o vencedor, o modelo eleitoral dos EUA é
colocado em questionamento, em verdade, colocam em questionamento
depois de todas as eleições, pois ficam discutindo como teria sido,
se não fosse como é. Essa é uma discussão inútil, pois as
estratégias de campanha também mudariam completamente. Mas nesse
pleito bizarro, é interessante analisar como algumas mudanças
teriam afetado o resultado.
A eleição para presidente é
decidida pela conquista de delegados, o candidato que obtém maior
número de votos, conquista TODOS os delegados do estado, com exceção
de Nebraska e outro estado que u não lembro. O Nebraska tem 5
delegados, e três distritos eleitorais. O vencedor em cada distrito
conquista um delegado e o vencedor no estado conquista 2, Trump
conquistou os 5. O outro estado segue o mesmo modelo, mas não lembro
quantos são os delegados, nem quantos são os distritos, mas se não
me engano, Trump levou todos
PS: No estado do Maine, com 4 delegados, Hilary levou três e Trump um.
PS: No estado do Maine, com 4 delegados, Hilary levou três e Trump um.
Seria inviável, e impraticável
para o autor do ensaio, apresentar aqui um estudo de como teria sido
a eleição, se os distritos elegessem delegados, como no caso do
Nebraska. Mas eu fiz um rápido levantamento de como seria se os
delegados de cada estado fossem proporcionais aos votos dos
candidatos. Vou apresentar o levantamento juntamente com outras
informações relevantes.
Trump conquistou 306 delegados (57%) e Hilary 232 (43%), o P. Rep. Conquistou 239 (55%) deputados e o P. Dem. 193 (44%), foram eleitos dois deputados independentes. Isso mostra uma votação relacionada diretamente com a fidelidade partidária do eleitor, ao contrário da eleição anterior, onde o Obama venceu em quantidade de delegados, mas o P. Dem. Perdeu em quantidade de deputados. Em verdade, isso mostra que a grande abstenção ocorreu justamente com os eleitores sem vínculo partidário, que votam em presidente, mas não votam em deputado ou senador.
Mas se a eleição previsse a
conquista de delegados, proporcionalmente aos votos de cada candidato
no estado, o resultado seria o seguinte: Trump 275 (51%) e Hilary 263
(49%). Esta informação mostra que um modelo com delegados
proporcionais está mais próximo de uma eleição direta, ao mesmo
tempo que mantém a representatividade dos estados no pleito. Mas o
mais importante, neste ensaio, é que a informação diz que, se o
voto direto contraria o resultado oficial, a proporcionalidade dos
delegados confirma. E ponto final.
As informações aqui
apresentadas, mostram que a estratégia de Trump foi vitoriosa, o
julgamento moral de cada candidato é de responsabilidade individual
e não há lugar para isso neste ensaio. Dizer que Trump venceu a
mídia, mostra-se sem sentido, ao contrário, Trump pode ter sido o
grande beneficiado pela divulgação de suposta vitória antecipada
da Hilary, esta é a hipótese apresentada aqui, por mais plausível
que ela seja, é apenas uma hipótese. É direito do leitor, e
aconselhável, que cada indivíduo tire suas próprias conclusões.
Milton Valdameri (novembro de
2016).
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