domingo, 13 de novembro de 2016

Porque Trump Venceu Hilary


Este blog não pretendia comentar sobre as eleições americanas de 2016, uma vez encerrado o pleito, o importante é analisar o que acontecerá depois, como foi feito em outra postagem (aqui). Mas como surgiram muitas análises sobre os motivos da vitória do Trump, e todas que eu vi são muito simplórias, decidi colocar meu garfo nessa sopa.
A vitória de Trump foi mais apertada do que parece. Em quatro estados decisivos, a diferença foi a seguinte: Flórida: Trump (49,06% x 47,79%) 119.770 votos de diferença, 29 delegados. Pensilvânia: Trump (48,79% x 47,65%) 68.236 votos de diferença, 20 delegados. Wisconsin: Trump (47,87% x 46,74%) 27.257 votos de diferença, 10 delegados. Michigan: Trump (47,59% x 47,34%), 11.837 votos de diferença, 16 delegados.

Para vencer o pleito nos EUA, é necessário obter 270 delegados, Trump obteve 305 e Hilary 233. Para vencer as eleições, Hilary precisaria de mais 37 delegados, portanto teria que vencer na Flórida e Pensilvânia, ou Flórida e os outros dois, ou ter perdido apenas na Flórida. A grande questão, é como a divulgação de que Hilary teria mais de 80% de chances de vencer as eleições, influenciaram os eleitores.

No Brasil, estar na frente nas pesquisas, ajuda o candidato porque o eleitor brasileiro vota em quem vai vencer para “não perder o voto”, ou mesmo para evitar que haja segundo turno. Mas no Brasil, o comparecimento às urnas é obrigatório, embora nem tanto assim. Nos EUA, o eleitor vota se quiser, desta forma, a divulgação de que um candidato está praticamente eleito, pode causar o efeito de afastar eleitores desse candidato das urnas.

Digo isso porque na França, Jacques Chirac concorreu à reeleição sob graves acusações de corrupção, tinha uma rejeição enorme. O candidato do Partido Socialista tinha uma grande vantagem e seus eleitores não foram votar no primeiro turno, seguros de que outros o fariam. O candidato que estava com grande vantagem nas pesquisas, ficou fora do segundo turno e seus eleitores acabaram votando em Chirac, para não correr o risco do Le Pen, praticamente um nazista, vencer a eleição.

A eleição de 2016 apresentou o maior índice de abstenção na história das eleições americanas, é difícil dizer o quanto a divulgação de suposta vitória antecipada da Hilary contribuiu para afastar o eleitor da urna, pois a eleição foi marcada pela alta rejeição ao dois candidatos. Mas no episódio da França, os dois candidatos do segundo turno, também tinham enorme rejeição, maior que a dos candidatos americanos, no entanto, o segundo turno teve um índice de abstenção menor que o de costume.

Usando como referência o episódio da França,é legítimo dizer que a rejeição ao candidato é estímulo para votar, tão grande quanto a simpatia, ou maior, enquanto que, sentir-se seguro da vitória do candidato pelo qual o indivíduo simpatiza, diminui o ímpeto de comparecer à urna. Mas a eleição na França é decidido por voto nominal, ou seja, cada eleitor um voto. Sob esse critério, as pesquisas sempre indicaram a vitória de Hilary por um pequena margem e... ACERTARAM. Hilary teria vencido a eleição se cada eleitor contasse um voto direto.

Outra questão importante, é que o Partido Democrata aumentou o número de Senadores e de Deputados, embora o controle do Congresso tenha continuado nas mãos do Partido Republicano. Obama venceu a eleição anterior, mas o partido conquistou com ele, menos cadeiras no Congresso do que com a Hilary. O Partido Republicano perdeu 3 cadeira no Senado, e 10 na Câmara dos Deputados. Isso mostra como, analisar as eleições americanas, é mais complexo do que imaginam os analistas de plantão.

Hilary recebeu mais votos de eleitores populares do que Trump, sempre que o candidato derrotado recebe mais votos que o vencedor, o modelo eleitoral dos EUA é colocado em questionamento, em verdade, colocam em questionamento depois de todas as eleições, pois ficam discutindo como teria sido, se não fosse como é. Essa é uma discussão inútil, pois as estratégias de campanha também mudariam completamente. Mas nesse pleito bizarro, é interessante analisar como algumas mudanças teriam afetado o resultado.

A eleição para presidente é decidida pela conquista de delegados, o candidato que obtém maior número de votos, conquista TODOS os delegados do estado, com exceção de Nebraska e outro estado que u não lembro. O Nebraska tem 5 delegados, e três distritos eleitorais. O vencedor em cada distrito conquista um delegado e o vencedor no estado conquista 2, Trump conquistou os 5. O outro estado segue o mesmo modelo, mas não lembro quantos são os delegados, nem quantos são os distritos, mas se não me engano, Trump levou todos

PS: No estado do Maine, com 4 delegados, Hilary levou três e Trump um.

Seria inviável, e impraticável para o autor do ensaio, apresentar aqui um estudo de como teria sido a eleição, se os distritos elegessem delegados, como no caso do Nebraska. Mas eu fiz um rápido levantamento de como seria se os delegados de cada estado fossem proporcionais aos votos dos candidatos. Vou apresentar o levantamento juntamente com outras informações relevantes.

Trump conquistou 306 delegados (57%) e Hilary 232 (43%), o P. Rep. Conquistou 239 (55%) deputados e o P. Dem. 193 (44%), foram eleitos dois deputados independentes. Isso mostra uma votação relacionada diretamente com a fidelidade partidária do eleitor, ao contrário da eleição anterior, onde o Obama venceu em quantidade de delegados, mas o P. Dem. Perdeu em quantidade de deputados. Em verdade, isso mostra que a grande abstenção ocorreu justamente com os eleitores sem vínculo partidário, que votam em presidente, mas não votam em deputado ou senador.

Mas se a eleição previsse a conquista de delegados, proporcionalmente aos votos de cada candidato no estado, o resultado seria o seguinte: Trump 275 (51%) e Hilary 263 (49%). Esta informação mostra que um modelo com delegados proporcionais está mais próximo de uma eleição direta, ao mesmo tempo que mantém a representatividade dos estados no pleito. Mas o mais importante, neste ensaio, é que a informação diz que, se o voto direto contraria o resultado oficial, a proporcionalidade dos delegados confirma. E ponto final.

As informações aqui apresentadas, mostram que a estratégia de Trump foi vitoriosa, o julgamento moral de cada candidato é de responsabilidade individual e não há lugar para isso neste ensaio. Dizer que Trump venceu a mídia, mostra-se sem sentido, ao contrário, Trump pode ter sido o grande beneficiado pela divulgação de suposta vitória antecipada da Hilary, esta é a hipótese apresentada aqui, por mais plausível que ela seja, é apenas uma hipótese. É direito do leitor, e aconselhável, que cada indivíduo tire suas próprias conclusões.


Milton Valdameri (novembro de 2016).

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