A trajetória de Donald Trump
até a Casa Branca é repleta de esquisitices, mas o mais estranho
nessa história, é que ele conseguiu ser uma unanimidade em um
ponto: ninguém faz a menor ideia do que ele vai fazer. Até mesmo os
jornalistas paranoicos do Brasil, que enxergam no Partido Democrata
um Partido Comunista, justificavam a simpatia por Trump exatamente
com a incerteza, diziam que era melhor uma proposta desconhecida à
uma proposta da qual eles discordam. Mas agora, os rumos do governo
Trump podem ser analisados.
O
primeiro ponto que deve ser observado, é a trajetória de Trump como
empresário. Ele herdou o negócio milionário de seu pai, que fez
fortuna na construção civil, atuando basicamente nas classes
econômicas mais baixas. Donald redirecionou as atividades para
construções de luxo, mas foi construindo cassinos que ficou
bilionário. Trump construiu quatro cassinos, com empréstimos
astronômicos. Os empréstimos pagaram a construtora, cujo
proprietário era ele mesmo, depois os cassinos foram vendidos para
investidores. Todos os cassinos faliram, Trump ficou com o dinheiro e
os investidores com o prejuízo.
No Brasil, Trump também tem
empreendimentos fracassados, envolvendo inclusive fraudes nos fundos
de pensões. Essa parte da vida do Trump simplesmente não foi
explorada na campanha por seus adversários, mas não pode ser
ignorada na hora de analisar o que um governo Trump pode ou não
fazer. O segundo ponto a ser observado, é a trajetória do
candidato. Trump disputou as prévias do Partido Republicano,
iniciando com boa aceitação nos meios de comunicação, conforme
foi avançando na conquista de delegados do partido, também foi
criando conflito com a imprensa.
Iniciada a campanha à
presidência, Trump adotou a estratégia de gerar conflitos de forma
muito mais severa, dividiu o próprio partido e alimentou rancores na
população e nos órgãos de comunicação, não apenas nos EUA, mas
no mundo inteiro. Depois de eleito, simulou a intenção de apaziguar
os ânimos, unir as pessoas e administrar os conflitos, mas a
estratégia de gerar conflitos prosseguiu de todas as formas. O único
país que ficou imune aos conflitos gerados por Trump, durante o
tempo todo, foi a Rússia, esse é o ponto determinante para entender
o que será o governo Trump.
Esse relacionamento pacífico e
harmonioso com a Rússia, não é por acaso, Trump tem elevados
investimentos na Rússia. Se ainda existe alguma dúvida sobre os
interesses do governo russo estarem diretamente relacionados com o
governo Trump, basta verificar quem foi indicado para ser o
Secretário de Estado dos EUA, o presidente da maior companhia de
petróleo americana, que é um dos maiores investidores na Rússia. O
Presidente dos EUA não tem nenhuma experiência política, o
Secretário de Estado dos EUA não tem nenhuma experiência política,
mas ambos estão diretamente ligados aos interesses da Rússia.
Como nenhum dos dois
responsáveis pela política de estado possui experiência política,
fica óbvio que eles precisarão de um modelo para seguir. Como Trump
sempre atacou frontalmente as políticas de estado dos governos
anteriores, tanto democratas como republicanos, fica óbvio que o
modelo a ser seguido será de um governo não americano, sendo também
óbvio que o governo em questão é o da Rússia. Portanto, basta
conhecer a política de estado da Rússia, para saber como será a
política de estado que governo Trump pretende implantar nos EUA.
A Rússia abandonou o modelo
soviético, mas nunca adotou o modelo ocidental, muito pelo
contrário, sempre tentou impedir os países que foram dominados pela
URSS de adotarem o modelo ocidental. A política de estado da Rússia
é constituída de dois projetos, um denominado Eurasiano e outro
denominado Conservadorismo. O projeto Eurasiano consiste no domínio
político direto da Europa pela Rússia, enquanto que o
Conservadorismo consiste no domínio político indireto do mundo. Na
prática, são os projetos de Stalin, com nomes diferentes e
fantasiados de não marxistas. O vídeo a seguir mostra como são
esses projetos, por quem mais entende do assunto, o idealizador
político dos projetos, Alecsander Dugin.
Resumindo, a política de estado
do governo Trump será voltada para a destruição do modelo político
econômico ocidental. As três medidas principais, para a efetivação
dessa política, já foram anunciadas. A primeira, é o
descumprimento de acordos comerciais feitos por governos anteriores,
isso causará problemas em todo o modelo atual, em âmbito mundial. A
segunda, é reativar os instrumentos que causaram a crise de 2008,
isso afetará apenas a economia interna dos EUA, uma vez que os
outros países não deverão repetir o mesmo erro.
A terceira, é o subsídio às
empresas americanas, evitando que fechem unidades nos EUA para
abrirem em outros países. Junto com o subsídio, haverá retaliações
às empresas americanas que se instalaram em outros países, fechando
unidades nos EUA. Isso vai tirar competitividade das empresas
americanas, perderão qualidade, mas produzirão produtos baratos
para uma economia em especial, a Rússia.
É desta forma, que o modelo
russo será beneficiado, aparecendo como o modelo que prosperou,
enquanto que o modelo ocidental fracassava. Mas não será tão
fácil, o Partido Republicano tem a maioria no congresso, mas Trump
não tem a maioria no Partido Republicano. O que Trump tentará fazer
já não é segredo, resta saber até aonde ele conseguirá ir. Eu
não apostaria nesse cavalo, com o perdão do trocadilho.
As últimas notícias sobre o
futuro governo Donald Trump não são muito diferentes. Embora Trump
tenha mostrado uma posição firme contra a China, o embaixador
indicado para a China é, nada mais nada menos que, um americano com
enormes relações financeiras com o governo chinês. Outra notícia
que não pode deixar de ser mencionada, é a nomeação do embaixador
em Israel. Logo após a ONU rejeitar o pedido de Israel em ampliar os
assentamentos na Cisjordânica, Trump divulgou que o embaixador em
Israel será um advogado que sempre defendeu a ampliação dos
assentamentos.
O presidente dos EUA tem menos
autonomia para fazer mudanças internas como imaginam seus
deslumbrados simpatizantes brasileiros, mesmo sendo do partido com
maioria no congresso, substituir políticas de estado por políticas
de governo não recebe apoio, a não ser que hajam argumentos muito
consistentes para que o projeto seja transformado em política de
estado,, ou seja, a identidade do país é defendida pelos dois
partidos majoritários com a mesma veemência, ambos estão a serviço
do país e não do governo.
Mas na política externa, o
presidente dos EUA tem muito mais independência, é nesse ponto que
a América torna-se vulnerável. O presidente eleito não tem
compromisso com a política de estado, o Secretário de Estado não
tem compromisso com a política de estado, o embaixador da China não
tem compromisso com a política de estado, o embaixador de Israel não
tem compromisso com a política de estado. Todos eles estão
comprometidos com interesses financeiros e/ou políticos pessoais.
Falar do governo Donald Trump
(futuro), não é falar do governo dos EUA, é falar do governo do
mundo, Trump não age como alguém que assumiu a presidência de um
país, mas como alguém que assumiu a o governo do mundo, o país
onde ele foi eleito é apenas o lugar onde fica o trono. As
consequências, sejam elas quais forem, custarão muito caro para o
mundo, o quanto será doloroso e para quem será doloroso, é algo
que vamos descobrir, queiramos ou não.
Milton Valdameri (janeiro de
2017).
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