terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Desvendando Donald Trump

A trajetória de Donald Trump até a Casa Branca é repleta de esquisitices, mas o mais estranho nessa história, é que ele conseguiu ser uma unanimidade em um ponto: ninguém faz a menor ideia do que ele vai fazer. Até mesmo os jornalistas paranoicos do Brasil, que enxergam no Partido Democrata um Partido Comunista, justificavam a simpatia por Trump exatamente com a incerteza, diziam que era melhor uma proposta desconhecida à uma proposta da qual eles discordam. Mas agora, os rumos do governo Trump podem ser analisados.
O primeiro ponto que deve ser observado, é a trajetória de Trump como empresário. Ele herdou o negócio milionário de seu pai, que fez fortuna na construção civil, atuando basicamente nas classes econômicas mais baixas. Donald redirecionou as atividades para construções de luxo, mas foi construindo cassinos que ficou bilionário. Trump construiu quatro cassinos, com empréstimos astronômicos. Os empréstimos pagaram a construtora, cujo proprietário era ele mesmo, depois os cassinos foram vendidos para investidores. Todos os cassinos faliram, Trump ficou com o dinheiro e os investidores com o prejuízo.

No Brasil, Trump também tem empreendimentos fracassados, envolvendo inclusive fraudes nos fundos de pensões. Essa parte da vida do Trump simplesmente não foi explorada na campanha por seus adversários, mas não pode ser ignorada na hora de analisar o que um governo Trump pode ou não fazer. O segundo ponto a ser observado, é a trajetória do candidato. Trump disputou as prévias do Partido Republicano, iniciando com boa aceitação nos meios de comunicação, conforme foi avançando na conquista de delegados do partido, também foi criando conflito com a imprensa.

Iniciada a campanha à presidência, Trump adotou a estratégia de gerar conflitos de forma muito mais severa, dividiu o próprio partido e alimentou rancores na população e nos órgãos de comunicação, não apenas nos EUA, mas no mundo inteiro. Depois de eleito, simulou a intenção de apaziguar os ânimos, unir as pessoas e administrar os conflitos, mas a estratégia de gerar conflitos prosseguiu de todas as formas. O único país que ficou imune aos conflitos gerados por Trump, durante o tempo todo, foi a Rússia, esse é o ponto determinante para entender o que será o governo Trump.

Esse relacionamento pacífico e harmonioso com a Rússia, não é por acaso, Trump tem elevados investimentos na Rússia. Se ainda existe alguma dúvida sobre os interesses do governo russo estarem diretamente relacionados com o governo Trump, basta verificar quem foi indicado para ser o Secretário de Estado dos EUA, o presidente da maior companhia de petróleo americana, que é um dos maiores investidores na Rússia. O Presidente dos EUA não tem nenhuma experiência política, o Secretário de Estado dos EUA não tem nenhuma experiência política, mas ambos estão diretamente ligados aos interesses da Rússia.

Como nenhum dos dois responsáveis pela política de estado possui experiência política, fica óbvio que eles precisarão de um modelo para seguir. Como Trump sempre atacou frontalmente as políticas de estado dos governos anteriores, tanto democratas como republicanos, fica óbvio que o modelo a ser seguido será de um governo não americano, sendo também óbvio que o governo em questão é o da Rússia. Portanto, basta conhecer a política de estado da Rússia, para saber como será a política de estado que governo Trump pretende implantar nos EUA.

A Rússia abandonou o modelo soviético, mas nunca adotou o modelo ocidental, muito pelo contrário, sempre tentou impedir os países que foram dominados pela URSS de adotarem o modelo ocidental. A política de estado da Rússia é constituída de dois projetos, um denominado Eurasiano e outro denominado Conservadorismo. O projeto Eurasiano consiste no domínio político direto da Europa pela Rússia, enquanto que o Conservadorismo consiste no domínio político indireto do mundo. Na prática, são os projetos de Stalin, com nomes diferentes e fantasiados de não marxistas. O vídeo a seguir mostra como são esses projetos, por quem mais entende do assunto, o idealizador político dos projetos, Alecsander Dugin.


Resumindo, a política de estado do governo Trump será voltada para a destruição do modelo político econômico ocidental. As três medidas principais, para a efetivação dessa política, já foram anunciadas. A primeira, é o descumprimento de acordos comerciais feitos por governos anteriores, isso causará problemas em todo o modelo atual, em âmbito mundial. A segunda, é reativar os instrumentos que causaram a crise de 2008, isso afetará apenas a economia interna dos EUA, uma vez que os outros países não deverão repetir o mesmo erro.

A terceira, é o subsídio às empresas americanas, evitando que fechem unidades nos EUA para abrirem em outros países. Junto com o subsídio, haverá retaliações às empresas americanas que se instalaram em outros países, fechando unidades nos EUA. Isso vai tirar competitividade das empresas americanas, perderão qualidade, mas produzirão produtos baratos para uma economia em especial, a Rússia.

É desta forma, que o modelo russo será beneficiado, aparecendo como o modelo que prosperou, enquanto que o modelo ocidental fracassava. Mas não será tão fácil, o Partido Republicano tem a maioria no congresso, mas Trump não tem a maioria no Partido Republicano. O que Trump tentará fazer já não é segredo, resta saber até aonde ele conseguirá ir. Eu não apostaria nesse cavalo, com o perdão do trocadilho.

As últimas notícias sobre o futuro governo Donald Trump não são muito diferentes. Embora Trump tenha mostrado uma posição firme contra a China, o embaixador indicado para a China é, nada mais nada menos que, um americano com enormes relações financeiras com o governo chinês. Outra notícia que não pode deixar de ser mencionada, é a nomeação do embaixador em Israel. Logo após a ONU rejeitar o pedido de Israel em ampliar os assentamentos na Cisjordânica, Trump divulgou que o embaixador em Israel será um advogado que sempre defendeu a ampliação dos assentamentos.

O presidente dos EUA tem menos autonomia para fazer mudanças internas como imaginam seus deslumbrados simpatizantes brasileiros, mesmo sendo do partido com maioria no congresso, substituir políticas de estado por políticas de governo não recebe apoio, a não ser que hajam argumentos muito consistentes para que o projeto seja transformado em política de estado,, ou seja, a identidade do país é defendida pelos dois partidos majoritários com a mesma veemência, ambos estão a serviço do país e não do governo.

Mas na política externa, o presidente dos EUA tem muito mais independência, é nesse ponto que a América torna-se vulnerável. O presidente eleito não tem compromisso com a política de estado, o Secretário de Estado não tem compromisso com a política de estado, o embaixador da China não tem compromisso com a política de estado, o embaixador de Israel não tem compromisso com a política de estado. Todos eles estão comprometidos com interesses financeiros e/ou políticos pessoais.

Falar do governo Donald Trump (futuro), não é falar do governo dos EUA, é falar do governo do mundo, Trump não age como alguém que assumiu a presidência de um país, mas como alguém que assumiu a o governo do mundo, o país onde ele foi eleito é apenas o lugar onde fica o trono. As consequências, sejam elas quais forem, custarão muito caro para o mundo, o quanto será doloroso e para quem será doloroso, é algo que vamos descobrir, queiramos ou não.

Milton Valdameri (janeiro de 2017).

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