Fiquem calmos, não se trata de
uma previsão catastrófica sobre um colapso financeiro global. Porém
existem fortes indicativos mostrando que o dinheiro deverá de
existir devido ao desenvolvimento da tecnologia, mas isso não será
um problema, não acontecerá (se acontecer) de forma repentina e
também existem indicadores mostrando que a sociedade já se prepara
para essa situação. Para a sociedade atual, é muito difícil
conceber um mundo sem dinheiro, mas considerando que a humanidade tem
pelo menos cem mil anos e o dinheiro existe há cinco mil anos, o
dinheiro não foi necessário durante noventa por cento da existência
da humanidade.
Para
entender este ensaio, é necessário recordar brevemente a história
do dinheiro. O surgimento do dinheiro, foi uma consequência do
desenvolvimento das relações humanas, sua função inicial foi
facilitar a operação de troca de mercadorias. Em síntese, o
dinheiro representa uma mercadoria, que seria denominada de
“mercadoria
dinheiro”,
mas até hoje não existe uma representação realmente eficiente, ou
seja, não existe uma moeda realmente eficiente. Já foram usadas
conchas, sementes e o sal, como mercadoria
moeda,
mas conforme o mercado (sistema de troca de mercadorias) se
desenvolvia, o conceito de mercadoria moeda também ia se
desenvolvendo, como consequência, as mercadorias
moedas
iam sendo substituídas.
A
última mercadoria
dinheiro
foi o ouro, esse modelo passou por uma grave crise durante a primeira
guerra mundial, voltou a funcionar de forma satisfatória, mas foi
definitivamente abandonado em 1971. De certa forma, o fim do padrão
ouro já é uma forma de extinção do dinheiro, principalmente
porque ninguém entende o que é dinheiro. Um livro que explica o que
é dinheiro, publicado nos EUA, possui quinhentas páginas, portanto,
a possibilidade de ser compreendido pela maioria das pessoas é
mínima, para não dizer nula.
A melhor maneira de entender o
dinheiro atualmente, é fazendo uma analogia com as ações de uma
empresa, mas não resolve muita coisa, pois ninguém entende o
mercado de ações, se forem ações de uma empresa do Eike Baptista,
aí ferrou de vez. Mas para a população em geral não sente a menor
necessidade de entender o que é dinheiro, ela trabalha para receber
dinheiro e o que importa é a quantidade de mercadorias que ele pode
comprar com o dinheiro que recebe.
É nesse ponto que reside o
problema, as pessoas não conseguem conceber alguém trabalhando sem
receber dinheiro, ou alguém trabalhando sem a necessidade do
dinheiro. Mas um homem da pré-história jamais entenderia a troca de
uma vaca por algumas moedas de ouro.
Mas agora a coisa vai ficar
interessante. Independente do modelo em vigência, dinheiro sempre
representou riqueza e segundo a forma mais ortodoxa da teoria de Adam
Smith, a riqueza é produzida pelo trabalho. Logo, o dinheiro deve
ser usado para remunerar o trabalho que produziu a riqueza, é
exatamente isso que o Adam Smith diz. Mas estamos vivendo um momento
inusitado na história da humanidade, a quantidade de pessoas que
produzem riqueza, em percentual, está constantemente diminuindo, ao
mesmo tempo em que a produção de riquezas está constantemente
aumentando. Quem está produzindo essa riqueza? A resposta é bem
conhecida, as máquinas.
Agora é que vem a cereja do
bolo. O mais novo debate no mundo da economia, é se os robôs devem
pagar impostos. Bill Gates já se manifestou a favor de robôs
pagarem impostos, o mesmo Bill Gates que, quando a IBM lançou o
PC-XT, com 640 Kbytes de memória RAM, disse que ninguém precisaria
de memória maior em seus computadores. O editor de textos usado para
escrever este ensaio, usa mais memória que isso, felizmente Bill
Gates tem outras contribuições para a humanidade, além de suas
previsões futurísticas.
Em primeiro lugar, os robôs já
pagam impostos, ou melhor, já são cobrados os impostos quando uma
empresa, ou mesmo um indivíduo compra um robô, da mesma forma como
são cobrados os impostos quando a produção do robô é vendida.
Então por que querem tributar novamente a produção do robô? A
única justificativa é distribuir o dinheiro do imposto pago pelo
robô às pessoas que perderam o emprego para o robô.
Agora façamos um raciocínio
simples: o que um robô faz com a riqueza que produz? A resposta é
simples, nada, pois robôs não precisam de riquezas, remuneração
ou dinheiro, portanto ele pode distribuir a riqueza que produz
gratuitamente. Ou estou errado? A produção do robô precisa ser
vendida, apenas para repor o dinheiro investido, mas por que é
necessário pagar pelo robô, se ele produzirá riqueza? Isso não
faz o menor sentido, significa cobrar pela produção, em vez de
remunerar a produção. Essa é a chave do problema, o dinheiro
poderá deixar de ter a capacidade de remunerar a produção,
portanto não haverá motivo para existir.
O desenvolvimento da tecnologia
resolveu o problema da produção de riquezas, o problema agora é,
como produzir consumidores dessa riqueza. Mas produzir consumidores
não implica em produzir apenas pessoas, são necessárias pessoas
com dinheiro, para ter dinheiro é necessário ter emprego e não
haverá emprego na produção de riquezas. Para o dinheiro continuar
existindo, precisará ser reinventado, pois não representará mais
mercadoria ou riqueza, terá que representar serviço, e mesmo assim,
muitos serviços serão prestados por robôs. Além do mais, as
pessoas não prestarão serviço para quem produz a riqueza, não
prestarão serviços aos robôs.
Mas reinventar o dinheiro poderá
não fazer diferença, o dinheiro terá que ser distribuído de graça
para que as pessoas possam comprar aquilo que as máquinas produzem,
portanto fica a seguinte pergunta: por que distribuir dinheiro em vez
de distribuir a produção diretamente?
Para encerar, quero deixar claro
que nada neste ensaio está ligado com idealismo político, trata-se
pura e simplesmente de consequências do desenvolvimento da
sociedade. Para as pessoas da sociedade atual, viver sem dinheiro é
tão inimaginável, quanto seria para uma pessoa da pré-história
imaginar a troca de uma vaca por algumas moedas de ouro, no entanto o
inimaginável já aconteceu uma vez.
(Milton Valdameri, fevereiro de
2017).
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