Em 26/03/2017, um domingo ensolarado, muitas pessoas ouviram um estrondo em Salvador (BA), Brasil, por volta das 7 horas, também houve testemunhos de tremores. Até aqui, não há nada de mais, existem muitos fenômenos que podem causar estrondos e tremores, porém nesse caso, em um mesmo quarteirão, ou num mesmo edifício, algumas pessoas ouviram, outras não, algumas pessoas relataram tremores, outras não. O estrondo foi ouvido deste a ilha de Itaparica até Lauro de Freitas, mas em alguns bairros que ficam nesse trajeto, não houve registro de nenhuma pessoa que tenha ouvido o estrondo ou sentido tremores.
O tema surgiu de forma periférica na postagem de um amigo no Facebook no último domingo (02/04/2017), os comentários feitos de forma desinteressada, meramente especulativa, resultaram na apresentação de uma hipótese, pelo autor da postagem que iniciou a conversa e também ouviu o misterioso estrondo. O autor da hipótese baseou-se em um curso, feito há muito tempo, onde foi mencionado que um certo evento causa um fenômeno idêntico ao relatado pelas pessoas de Salvador. Isso ativou meus interesses e conhecimentos em física, fazendo com que eu encontrasse uma explicação para o fenômeno, que será apresentada aqui.
Em resumo, os relatos falam em tremores e estrondos que duraram alguns segundos, sendo que em um mesmo edifício, pessoas ouviram e outras não ouviram o estrondo, em um apartamento houve tremor, mas no apartamento ao lado não. É importante lembrar que o estrondo de uma explosão, ou de um impacto, dura uma fração de segundo, mas nesse caso durou alguns segundos, alguns relatos mencionam minutos, mas isso e apenas sensação, 3 segundos de barulho de um estrondo pode parecer uma eternidade. Isso pode ser explicado por uma sequência de ondas de impacto, originadas no alto por um objeto subindo em sentido perpendicular.
Ondas de impacto são causadas por explosões, e obviamente, por impactos. São as ondas de impacto produzidas por terremotos que geram os tsunamis, quando a onda que está se movendo pelo oceano encontra a praia, não tendo mais o meio necessário para prosseguir, a energia se concentra e empurra a água para a terra, antes desse momento a onda não empurrava a água e nem mesmo podia ser sentida. É uma onda de energia cinética que faz o chicote estalar, a onda é produzida pelo movimento do cabo, fazendo a onda se movimentar em direção à ponta do chicote, quando o chicote termina, a onda não tem como continuar e causa o estalo.
É necessário entender que ondas de impacto são produzidas o tempo todo, porém a potência está abaixo do necessário para que sejam sentidas ou causem algum barulho. No entanto, quando duas ondas se encontram em uma mesma direção, a potência no ponto de encontro é a soma da potência de cada onda, desta forma, duas ondas imperceptíveis podem se tornar perceptíveis no ponto de encontro. Para que um objeto produza duas ondas que se encontram, é necessário que ele esteja em movimento horizontal ou perpendicular, se ele estiver parado ou em movimento vertical, a segunda onda jamais alcançara a primeira, elas nunca vão se encontrar, a não ser que o objeto esteja numa velocidade superior à velocidade das ondas que está produzindo, mas nesse caso as ondas vão se encontrar em sentidos contrários e uma anulará a outra.
Para entender como funciona, basta desenhar dois círculos de raios iguais, colocando o centro do círculo da direita um pouco acima do centro do círculo da esquerda. Depois desenhe mais círculos a partir dos centros dos círculos já desenhados, sempre com raios iguais, porém um pouco maior, isso mostrará a expansão das ondas e os pontos de encontro. Desenhe uma cidade em baixo dos círculos e veja onde haverá encontros das ondas na cidade desenhada, nesses pontos as pessoas ouvirão o estrondo, se o ponto de encontro estiver dentro ou próximo a um edifício, nesse ponto será sentido o tremor.
Agora é necessário identificar qual objeto poderia causar uma sequência de explosões e consequentemente uma sequência de ondas de impacto. Esse objeto é um foguete de estágios, como aqueles usados no projeto Apolo ou no lançamento do ônibus espacial. A mudança de estágio de um foguete não ocorre com explosão única, mas com uma sequência de explosões, inclusive porque se fosse explosão única o foguete “já era”. Além dos relatos de estrondos e tremores, também houve relatos de um clarão no céu, surfistas na praia do Flamengo relataram uma luz subindo. Tudo indica um foguete mudando de estágio.
Mas qual foi a hipótese do amigo Marconi de Souza Reis? Exatamente essa, de uma nave lançada para o espaço. Nave terrestre, que fique bem claro. Como não existe confirmação de um foguete mudando de estágio naquela região, temos apenas uma hipótese plausível, mas não um fato confirmado. Assim termina a sessão mistério de hoje.
Milton Valdameri (abril de 2017).
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