quarta-feira, 5 de abril de 2017

Sobre Humanos e Robôs

A humanidade começou a desenvolver medo das máquinas a partir da revolução industrial, no final do século XVIII, quando surgiu o medo de que as máquinas tirassem os empregos das pessoas. No século XX, com a eletrônica produzindo máquinas cada vez mais impressionantes, como o computador, o medo também foi se adaptando aos novos tempos. Hollywood se encarregou de mostrar em seus filmes qual máquina deveria ser mais temida, o robô. Este é mais um resumo de um ensaio que se tornou grande demais para ser publicado no blog e o ensaio integral só será publicado quando houver espaço em algum livro.

Isaac Asimov criou as leis da robótica que evitariam que os robôs se voltassem contra os humanos, essas leis não serão analisadas aqui para não deixar o ensaio grande demais. Stephen Hawking considerou que, as máquinas se tornarem mais inteligentes que o homem, é uma das três maiores ameaças para a humanidade. Este ensaio pretende analisar o que diferencia os humanos dos robôs e até aonde os robôs representam uma ameaça. Afinal de contas, sou um programador brincando de filosofia, ou talvez eu seja um filósofo que brincou de programador.

Em princípio, as pessoas temem que os robôs, se ficarem muito inteligentes, possam desenvolver sentimentos, isso faria com que se voltassem contra os humanos. Sendo mais inteligentes e mais fortes, os robôs extinguiriam a humanidade. Algumas pessoas temem que os robôs poderiam escravizar os humanos, mas vamos ser sinceros, que utilidade um humano teria para um robô?

Então vamos ver como os humanos se diferenciam dos robôs. Humanos são constituídos de corpo, cérebro e mente. Algumas pessoas podem argumentar que cérebro e mente são a mesma coisa, mas neste ensaio são coisas distintas em seus significados técnicos. Robôs são constituídos de hardware (corpo), processador (cérebro) e software (mente). Desta forma, fica estabelecido que humanos e robôs possuem a mesma constituição técnica, inclusive distinguindo devidamente a diferença entre cérebro e mente. Portanto, a partir deste ponto, será usada a constituição robótica para se referir tanto aos robôs como aos humanos, ou seja, hardware (corpo), processador (cérebro) e software (mente).

A inteligência é o conjunto da capacidade do processador e do software, portanto um processador poderoso com um software débil, resultará em uma inteligência abaixo daquela que seria possível, mas um processador débil jamais poderia hospedar um software poderoso e a inteligência jamais poderá estar acima da capacidade do processador. No entanto, um software débil pode consumir mais capacidade do processador que um software poderoso, sendo possível ocorrer que dois processadores iguais hospedem softwares de potenciais diferentes. Isso é fácil de entender como funciona em um computador (robô), pois as pessoas estão acostumadas a atualizarem a versão do Windows, do editor de textos e muitos dos softwares usados em seus computadores, mas como funciona o software nos humanos?

O software nos humanos é produzido pelo ambiente em que vive, isso faz com que um indivíduo que passou a vida isolado na floresta amazônica, mas com um cérebro muito mais poderoso que o do Einstein, jamais seja tão inteligente quanto o gênio da física. É oportuno lembrar que o próprio Einstein disse, “não se deve avaliar a inteligência de um peixe por sua capacidade de subir em árvores”, mas no caso do nosso indivíduo da amazônia, estamos avaliando dois indivíduos com capacidades humanas.

Os humanos nascem com o processador praticamente zerado, o software só tem capacidade para fazer chorar, comer, dormir e sujar as fraldas, seu software vai se desenvolvendo conforme tem contato com o ambiente em que vive. O robô que pode se tornar mais inteligente que os humanos, precisará passar pelo mesmo processo que passa um humano, pelo menos em sua primeira fase, depois será possível implantar anos de aprendizado de um robô em outros robôs recém-fabricados e assim sucessivamente, mas é questionável se esse procedimento resultaria realmente em robôs mais inteligentes, porém isso não é objeto deste ensaio, então devemos nos concentrar nos robôs que começam a desenvolver o software da mesma forma que os humanos.

Robôs com capacidade de aprender já foram desenvolvidos, embora de forma ainda incipiente, pelo menos para o conhecimento do público, pois a tecnologia que o público conhece está no mínimo dez anos atrasada em relação à tecnologia efetivamente desenvolvida. Robôs que aprenderiam como humanos, mas evidentemente de forma muito mais rápida, fabricados de forma idêntica, iriam se tornar robôs diferentes uns dos outros, tanto em comportamento como em inteligência. O robô de um cristão brasileiro seria diferente de um robô de um ateu brasileiro, e um robô de um muçulmano da Arábia Saudita seria diferente dos dois primeiros. Se o leitor perguntou se um robô desse tipo poderia se tornar um terrorista islâmico, a resposta é SIM.

É importante observar que o robô em questão se torna terrorista sem desenvolver sentimentos, no entanto, muitas pessoas que são dotadas de sentimentos por natureza se tornam terroristas. Portanto não são os sentimentos nem a inteligência que diferenciam os humanos dos robôs. Em verdade é muito fácil produzir robôs com sentimentos, mas isso não será abordado aqui para não deixar o ensaio muito longo, é abordado no ensaio original. O próximo passo, também conhecido como parágrafo, poderá deixar o leitor chocado, mas é aconselhável que não interrompa a leitura, pois a parte chocante será esclarecida.

Agora eu pergunto, que diferença faz para o leitor, mas principalmente para a vítima do atentado, se o terrorista que se explodiu em Israel ou na França, é um robô ou um humano? Porém a parte contundente está justamente no fato de que o terrorista tem sentimentos, e o sentimento que o leva a cometer o ato terrorista é o AMOR. O leitor pode argumentar que isso não é amor, mas ocorre que o amor é um sentimento abstrato, onde o próprio indivíduo não é totalmente capaz de dizer se o que está sentindo é ou não é amor. As pessoas estão acostumadas a ver o amor pelos olhos dos poetas, mas esquecem que o amor à pátria leva exércitos para a guerra, onde em ambos os lados existem pessoas matando outras pessoas unicamente pelo amor à pátria.

Este ensaio, que é um resumo, já ficou um tanto longo, mas antes de encerrar é necessário mostrar o que diferencia o humano do robô, pois esse é o ponto principal do ensaio. O que diferencia o humano do robô é a dúvida, ou melhor dizendo, a incerteza. Um humano escreve um texto, depois lê o texto que ele mesmo escreveu e encontra maneiras de escrevê-lo melhor, as vezes encontra erros no texto original. Mas isso não aconteceria com um robô, o robô só mudaria algo no texto se for incluída em seu banco de dados, a memória do humano, uma nova informação.

Um robô não teria motivo para ler um texto que ele escreveu, para conferir se ficou bom, pois ele não tem dúvidas sobre o que faz ou deixa de fazer. A outra situação que mostra muito bem essa diferença, é quando um humano escreve um texto, e pouco tempo depois escreve novamente sobre a mesma coisa, um humano, por mais que tente lembrar o que escreveu pouco tempo atrás, escreverá o novo texto de maneira diferente, mas o robô escreverá sempre igual, exatamente igual. Isso é a incerteza que existe nos humanos, mas não é possível fazê-la existir em robôs.

Para encerrar, espero que eu tenha conseguido mostrar que os robôs não representam perigo para a humanidade, muito pelo contrário, o perigo está no ser humano que se transforma em robô e passa agir sem considerar a possibilidade de estar errado, sem questionar a si mesmo e às suas crenças, sem questionar seus sentimentos e seus ideais.



Milton Valdameri (abril de 2017).

3 comentários:

  1. Esplêndido! Você conseguiu transmitir o essencial entre estes dois mundos - o amor, a incerteza, que afinal de contas ainda não se chegou à perfeição nas máquinas feitas pelo homem. Quanto a nós como máquinas criadas pelo "SER" desconhecido ainda que tão imperfeitos, é perfeita pelo mero detalhe de através do amor transformar-se, transmutar-se a todo momento.

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