Em 04/04/2017 (terça-feira),
foram usadas armas químicas no conflito da Síria, em 07/04/2017
(sexta-feira), os EUA bombardearam uma base aérea na Siria, por
ordem do presidente Donald Trump. A repercussão desses eventos foi
insignificante, diante do significado que eles podem ter, mas
principalmente diante do evento que teve a maior repercussão nos
noticiários do mundo inteiro, o sinal de ruptura entre Donald Trump
e o governo russo de Vladimir Pútin.
O governo da Rússia se
manifestou dizendo que a arma química foi usada pelos rebeldes
opositores do governo sírio, condenando o bombardeio e dizendo que
Trump deveria ter esperado pelas respostas das investigações
internacionais. Isso simplesmente reforçou o sinal de ruptura. É
evidente que Trump deveria esperar uma investigação internacional
antes de tomar qualquer decisão, mas isso não teria o significado
de ruptura com o governo da Rússia.
Mas por que o sinal de ruptura
é tão importante para o Trump? Muito simples, ele está sendo
investigado por sua relação com o governo da Rússia e corre o
risco de ser acusado de traição. O bombardeio não encerra a
investigação, mas tira a investigação do centro dos noticiários
e substitui pela tal ruptura. Ou seja, mesmo que seja comprovado o
apoio da Rússia na eleição do Trump, ele terá mostrado que não
exitará em se colocar contra a Rússia, desmontando a tese de
traição.
Mas considerando a hipótese
de que Trump é um traidor aliado ao presidente Putin, da Rússia, o
que a aliança Putin-Trump teria a ganhar com esse episódio trágico
pastelão? A resposta desta pergunta pode estar por trás do uso da
arma química, por isso é necessário observar, com cautela, algumas
informações que mostram um cenário futuro preocupante, para não
dizer aterrorizante.
O
ex-presidente dos EUA, Barack Obama, tinha estabelecido ao governo da
Síria, um limite que foi denominado de “linha
vermelha”
(red line), onde o uso de armas químicas seriam respondidos com
ataques militares. Uma semana antes do bombardeio, o governo Trump
divulgou informações de que o governo da Síria não representava
uma prioridade, que a prioridade na Siria era combater o Estado
Islâmico.
De
certa forma, Trump revogou o limite estabelecido por Obama e uma
semana depois fez aquilo que o limite do Obama estabelecia, mais que
isso, Trump deixou de ter como prioridade o Estado Islâmico e passou
a ter como prioridade o fim do governo de Bashar
al-Assad
na
Síria. Mas a revogação do Trump não explica o uso de arma química
pelo governo da Síria, os rebeldes estão sob controle e o conflito
está praticamente decidido em favor do governo sírio, não há
motivos para usar arma química e colocar a comunidade internacional
contra a Síria. Inclusive é nisso que a Rússia se baseia para
dizer que foram os rebeldes que usaram a arma química.
O
resultado disso tudo é uma grande névoa, onde os personagens se
tornam vultos igualmente suspeitos e igualmente sujeitos a cometer
erros. Na mesma declaração do governo russo, condenando o
bombardeio, foi declarado que a Rússia teria agido da mesma forma,
se estivesse no lugar dos EUA, ou seja, reconheceu o direito de
cometer erros. Trocando em miúdos, o que isso significa?
Uma
investigação internacional vai determinar se o governo da Síria é
culpado ou inocente, ou seja, a névoa será dissipada. Se o governo
da Síria for inocente, o Trump já era, envergonharia
os EUA,
sofreria
uma derrota para o Pútin, e passaria de aliado do Pútin a capacho
do Pútin. Mas se o governo da Síria sair como culpado, Pútin não
será visto como derrotado, será
visto como
traído pelo governo da Síria. É necessário lembrar que a Rússia
possui bases militares instaladas na Síria, com a permissão e por
pedido do governo sírio.
Basta
estabelecer a culpa do governo da Síria, para que Pútin e Trump se
unam para implantar um novo governo na Síria e combaterem juntos o
Estado Islâmico. Trump sai vitorioso sem que Pútin saia derrotado,
os dois se tornam aliados oficialmente, perante a comunidade
internacional, a ONU vira uma barraca de informações turísticas e
o mundo terá o tão sonhado fim da guerra fria. Nenhum país será
aliado dos EUA sem ser aliado da Rússia e vice-versa.
O
que há de aterrorizante nisso tudo? Uma questão que não será
mostrada ao público: qual a possibilidade do governo da Síria usar
arma química sem a anuência da Rússia, e qual a possibilidade da
Rússia usar arma química sem a anuência do governo Sírio? Seja
como for, é apenas uma questão de tempo para saber se o rompimento
do noivado resultará na consumação do casamento. Mas se a
investigação determinar que houve envolvimento da Rússia no uso da
arma química, aí tudo pode acontecer, inclusive nada.
(Milton
Valdameri, abril de
2017).
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