O
tema deste ensaio pode parecer deslocado da filosofia, pois em
princípio esse é um tema para ser tratado pela ciência direcionada
à medicina, mas essa doença, que é uma forma de demência
degenerativa, também é uma doença intelectual, por isso a
filosofia tem o dever de estar atenta para essa insanidade, tanto
quanto deve estar atenta para qualquer outra insanidade ou debilidade
intelectual.
“A
doença de Alzheimer evolui de forma única em cada pessoa, embora
existam sintomas em comum; por exemplo, o sintoma inicial mais comum
é a perda de memória.
Muitas vezes, os primeiros sintomas da doença são confundidos com
os processos normais de envelhecimento ou stress. Quando se suspeita
de Alzheimer, o paciente é submetido a uma série de testes
cognitivos e radiológicos para confirmar o diagnóstico.”
(Wikipedia). Embora a Wikipedia não seja uma fonte acadêmica, ela
foi citada por apresentar um texto apropriado para o ensaio, e as
informações podem ser confirmadas em fontes acadêmicas.
A
característica dessa doença, que mais atrai minha atenção, é que
a perda de memória ocorre com a memória recente nos primeiros
estágios, enquanto que a memória de longo prazo só é afetada em
estágios mais avançados. Um tratamento que apresenta alguns efeitos
positivos, é o uso de medicamentos usados para tratar esquizofrenia.
Outro tratamento que está apresentando alguns resultados, é o
tratamento com antidepressivos, em especial os usados para tratar o
transtorno do pânico. Isso tudo sugere que os fatores intelectuais
podem ser mais significativos que os fatores fisiológicos.
No
caso da esquizofrenia, o paciente tem visões e/ou ouve vozes que
interferem na relação com a realidade, no caso da doença
Alzheimer, aparentemente, é a memória do passado que interfere na
relação com o presente. O transtorno do pânico, consiste
basicamente em não suportar o cotidiano, inclusive não suportando
mais sair de casa (agorafobia). O tratamento da doença do Alzheimer
com antidepressivos utilizados para tratar o transtorno do pânico,
indica a mesma direção que o tratamento com medicamentos para
esquizofrenia.
Aparentemente,
o indivíduo perde o interesse por aquilo que o presente tem para lhe
oferecer, e busca compensar o presente com sua memória de longo
prazo. Não é necessário fazer uma pesquisa muito profunda para
identificar situações onde as pessoas esquecem coisas simples por
não serem interessantes, mas não esquecem coisas fúteis pelas
quais sentem interesse. Sem pretender provocar as feministas, não
faltam situações onde a dona de casa esquece de fazer a janta, mas
não esquece de assistir a novela.
Evidentemente
que esquecer de fazer a janta e não esquecer de assistir a novela,
não é um sintoma da doença, mas é uma boa evidência de que a
memória sobrepõe àquilo que é mais interessante em relação
àquilo que é menos interessante, independentemente de ser, ou não,
mais necessário. Quando essa sobreposição se torna muito
frequente, é melhor ligar o alarme. Mas é necessário lembrar, que
essas mesmas características são encontradas em dependentes
químicos, porém os dependentes químicos são jovens e não possuem
uma memória de longo prazo para se sobrepor à memória de curto
prazo, é aí que entra o uso de drogas que os isolam do presente.
No
caso da doença Alzheimer, existe uma característica na sociedade
pós moderna que pode ter muita relação com a insanidade em
questão, ela é voltada para despertar o interesse dos jovens e o
máximo que oferece aos idosos é distração e entretenimento, nada
oferece para despertar nos idosos o interesse em permanecer
desenvolvendo o intelecto. Antes que alguém diga que estou me
rebelando contra a sociedade, vou lembrar aos leitores que a média
de vida no começo do século XX estava abaixo dos quarenta anos e só
ultrapassou os sessenta anos na segunda metade do século XX,
portanto, a necessidade despertar nos idosos, o interesse em
desenvolver o intelecto, é uma situação muito recente dentro do
contexto histórico.
Esta
pode ser a contribuição que a filosofia pode dar na questão da
doença Alzheimer, a busca pelo conhecimento como uma prática
constante pode ser também uma questão de sanidade intelectual. Mas
não parece razoável começar essa busca pelo conhecimento quando o
indivíduo se tornar idoso, pois se ele perdeu o interesse pelo
conhecimento quando jovem, não voltará a ter o interesse,
simplesmente por que a juventude acabou, e como foi sugerido no
ensaio, o interesse do indivíduo seria a chave do problema.
Em
resumo, a busca pelo conhecimento pode ser a chave para superar a
doença do Alzheimer e talvez a dependência química. Mas
é necessário entender que não deve ser confundido crença com
conhecimento, os fatos mostram justamente que as crenças nada podem
oferecer às pessoas com alguma insanidade intelectual.
(Milton
Valdameri, junho de 2017).
Concordo em parte com a conclusão que a busca pelo conhecimento ajuda a superar a doença do Alzheimer, mas não em ser isto a "chave da superação". Existem muitas causas bioquímicas em jogo, já que o cérebro dos portadores praticamente "desidratam" - acompanhei isso em tomografias da minha sogra -, e não creio que simples estímulos intelectuais possam resolver sozinhos.
ResponderExcluirUma outra coisa é a Síndrome do Pânico, descrita por você como em mal que "consiste basicamente em não suportar o cotidiano". Erradíssimo!, é justamente o contrário, já que o que os panicados menos suportam são as surpresas, a necessidade de se, de repente, ter que interromper uma rotina, como ir a um médico ou ter uma obrigação social como jantar fora.
Não cabe aqui um relato da minha vida, mas em 1978 tive a primeira crise grave (tive outras antes, não tão graves, mas que só associei ao pânico depois de conhecê-lo - e conhecer-me - bem) e isto durou 25 anos, até que em 2003 uma consulta a um psiquiatra especialista me receitou um medicamento, à época ultramoderno, pontual, que me livrou das crises e até mesmo do medo de ter crises. Durante um bom tempo desses 25 anos tornei-me um pesquisador obsessivo em busca das causas e de curas para o Pânico. Experimentei 13 diferentes "psicos", "neuros" e médicos, os mais diferentes medicamentos e terapias, sem nenhum resultado, até "achar" esse bendito psiquiatra.
Hoje não estou livre do Pânico e nunca estarei se não tomar o remedinho, mas há 14 anos não tenho mais crises e nem medo de tê-las, já que as minhas sinapses defeituosas que causam as crises estão reguladinhas pela droga.
Outra coisa: associar o pânico à depressão é a coisa mais irracional que pode existir. São opostos. Enquanto o panicado luta para viver o depressivo tende a tirar sua vida. Já me trataram com antidepressivos e o resultado foi péssimo.
Por ser um ensaio, nada do que é afirmado pode ser considerado como conclusão, mas não há necessidade de ficar retido a esses detalhes. A questão intelectual como chave para a superação do Alzheimer não está presente no texto, talvez eu não tenha conseguido me expressar adequadamente, mas a questão intelectual aparece no sentido de prevenção e não de superação.
ExcluirNo caso da sua sogra, que é mencionado como evidência, ele está relacionado com um mistério científico, denominado "efeito placebo". Meu entendimento do efeito placebo, é que, se ele existe num sentido, então deve existir no sentido contrário, ou seja, se ele pode reverter o progresso de uma doença ao ponto de extingui-la, então ele também pode causar a doença e fazê-la progredir. A questão intelectual, da maneira como exponho no ensaio, seria o placebo em questão.
Sobre sua experiência com o pânico, eu capturei sua postagem no TMU a tenho como uma das melhores referências para estudar essa questão. Mas tem outro detalhe muito importante, eu também desenvolvi o transtorno do pânico, só que de uma forma diferente da sua. No meu caso, começou apenas com depressão ocasional, se tem algo que não sou, é uma pessoa deprimida. Iniciei um tratamento com um neurologista, que apresentou um excelente resultado, já no primeiro mês. Por sinal, o medicamento prescrito é destinado ao pânico. Mas o neurologista queria que eu fizesse psicoterapia, eu disse que não aceitava, pois psicologia é crença. O "doutor", já na consulta de retorno à primeira consulta, simplesmente mudou o medicamento por outro que não apresentou nenhum resultado e a situação voltou à estaca zero. Desisti do "doutor".
Procurei outro neurologista no mesmo convênio (uma mulher), quando apresentei a situação para ela, ela se preocupou apenas em defender seu colega, apresentou uma argumentação sobre a atitude do "doutor" sobre a mudança do medicamento, que, quando cheguei em casa, consultei as bulas e as receitas e o medicamento que ela mencionou como medicamento que teria sido substituído, não era o medicamento que eu usei e apresentou bons resultados. Resumindo, a medicina no Brasil está refém da psicologia, não se propõe a atender o paciente, mas a satisfazer a psicologia.
No seu caso, o pânico incluía 'agorafobia", que não é o meu caso. Mas eu tenho motivos para considerar que, o que leva a pessoa a desenvolver o pânico, seja em grau maior onde ocorre "agorafobia", ou em grau menor, não é a possibilidade de surpresas, mas justamente um desânimo em relação aquilo que o indivíduo sabe que vai acontecer.
Mas ninguém pode dizer algo sobre esses temas de forma conclusiva, publiquei o ensaio justamente para apresentar hipóteses, não é possível solucionar problemas descartando hipóteses sem refutá-las. Por curiosidade, uma semana antes de apresentar a Teoria da Relatividade formalmente à comunidade acadêmica, Einstein percebeu que havia um erro na teoria, dedicou-se ferrenhamente em corrigir o erro e descobriu que a solução era justamente a hipótese que ele havia descartado no início do estudo.