Escrevo este artigo por
consequência do que estou vendo nas redes sociais e também no
jornalismo. Em resumo, vejo uma campanha contra o atual Procurador
Geral da República, Rodrigo Janot, cujo mandato está encerrando e o
nome de sua substituição já foi anunciada. O significado dessa
campanha deve ser analisado criteriosamente, pois poderá influenciar
no rumo do país.
O Procurador do Mensalão,
Roberto Gurgel, em nenhum momento colocou o Lula sob investigação e
as condenações mais severas foram para o publicitário Marcos
Valério e a ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo. Tirando os
quatro procuradores mencionados, os restantes são lembrados como
“engavetadores”. Trocando em miúdos, por pior que tenha sido o
Janot, ele foi o melhor Procurador Geral da República que o Brasil
já teve, simplesmente por ter denunciado o presidente em exercício.
Michel
Temer, por sua vez, foi a principal liderança do PMDB nos acordos
com o PT. Foi um acordo entre PMDB e PT que salvou Lula de um pedido
de impeachment no escândalo do mensalão, foi esse acordo que deu
início ao petrolão e foi Temer quem liderou a oficialização do
PMDB como parte do segundo governo do Lula, conquistando também a
vaga de vice da Dilma. Tentar separar Temer e o PMDB da corrupção
do Lula e do PT, é simplesmente insanidade intelectual.
Diante do exposto, já é
possível perceber que a campanha contra o Janot significa a falência
intelectual dos brasileiros, mas o objetivo deste artigo é mostrar o
grande risco que isso representa para o Brasil. Não há dúvidas que
a campanha contra o Janot está sendo financiada pelo governo Temer e
a parte mais ilustre de sua base aliada. Evidentemente isso tudo não
está sendo financiado dentro dos padrões republicanos e o custo
dessa campanha pode jamais ser conhecido.
Para entender as consequências
dessa campanha, é necessário lembrar de uma campanha anterior,
direcionada contra a Operação Carne Fraca. Naquela campanha, a
operação foi desqualifica na imprensa e nenhuma atitude para
melhorar a fiscalização nos frigoríficos foi tomada, o resultado
foi uma investigação no exterior, que interrompeu a importação de
carne bovina nos EUA e restrições também na Europa. Os bestas que
combateram a Operação Carne Fraca, sob o pretexto de defender
empregos, agora podem comemorar o resultado, mas parecem que estão
comemorando em silêncio.
Essa campanha contra o Janot
segue na mesma direção, ou seja, vai ajudar a manter o problema
usando uma desculpa esfarrapada, porém a desculpa desta vez não é
o emprego, mas a volta do Lula. Ocorre que o que mais beneficia o
Lula, eleitoralmente, é justamente a impunidade do Temer. Para
melhorar a situação do Lula, Temer já nomeou uma pessoa de
confiança para substituir Janot, o que significa que a operação
Lava Jato será significativamente enfraquecida em Brasília, ficando
restrita aos trabalhos feitos pela equipe de Curitiba.
Então vejamos, por mais que
Lula apareça em primeiro lugar nas pesquisas para o primeiro turno,
ele não aparece em condições de vencer no segundo turno, portanto
o discurso de “diretas já” é apenas um discurso para ser
apresentado em 2018, como o candidato que defendeu “as diretas”
enfrentando os que defenderam as “indiretas”, se as eleições
realmente acontecessem ele sabe muito bem que sairia derrotado.
Mas a parte mais interessante,
é o direcionamento do foco das atenções para o desejo de prisão
do Joesley Batista, da J&F (JBS/Friboi). O motivo desse
direcionamento é simples, Joesley será o Marcos Valério da vez, ou
seja, desejam que Joesley seja condenado severamente, enquanto que os
políticos receberão penas amenas, como aconteceu no mensalão,
Temer será apenas o “não sabia” da vez e, como aconteceu com o
mensalão, a corrupção não vai diminuir, muito pelo contrário,
vai se remodelar e provavelmente se fortalecer.
Para encerrar, vale a pena
lembrar que Marcos Valério tentou fazer um acordo de colaboração,
mas o procurador da época não aceitou. Se tivessem feito acordo com
Marcos Valério, como fizeram com Joesley Batista, todo o esquema
teria aparecido muito antes da Lava Jato. Por hoje é só, mas não
ficarei surpreso se essa tal direita começar a gritar “Eduardo
Cunha, guerreiro do povo brasileiro”.
(Milton
Valdameri, julho
de 2017).
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