quinta-feira, 28 de janeiro de 2021


Marx Não Leu Hegel!

A narrativa marxista afirma de modo peremptório que Marx foi um filósofo hegeliano, ou seja, seguidor das ideias de Hegel. Em minha pesquisa sobre a vida e obra de Marx, nunca encontrei evidência ou indício de que Marx tivesse lido as obras de Hegel, ao contrário, encontrei fortes indícios de que Marx não leu Hegel, ou, se leu não compreendeu. Neste artigo vou apresentar esses indícios.

Marx ingressou no curso de direito da Universidade de Bonn, seu medíocre desempenho levou seu pai a transferi-lo para a Universidade de Berlim, onde o ensino era mais rígido. Não obtendo rendimento razoável, foi necessário mudar para o curso de filosofia, supostamente mais fácil que o curso de direito. Mas mudar de curso não resolveu o problema, Marx não conseguiu se formar na Universidade de Berlim.

A narrativa marxista alegou, até 2018, que Marx entregou sua monografia na Universidade de Jena, onde recebeu o diploma de Doutor em Filosofia, no entanto, esse diploma equivaleria ao atual diploma de bacharel/licenciatura e não ao atual diploma de doutorado. Uma biografia publicada em 2018, por um escritor marxista, revelou que Marx jubilou no curso de filosofia da Universidade de Berlim, ou seja, o prazo para concluir o curso havia se esgotado e não havia mais como concluir o curso de filosofia em Berlim nem como ser transferido para outra universidade.

Nessa nova biografia, o diploma de Doutor em Filosofia é realmente de doutor, mas a maneira como Marx o conseguiu é tão estranha quanto a narrativa anterior. Segundo a nova narrativa, na época, era permitido obter um diploma de doutorado sem ter cursado o bacharelado, bastando apresentar uma tese e, obviamente, pagando um determinado valor. A narrativa diz que Marx poderia ter feito isso na Universidade de Berlim, mas preferiu fazer na Universidade de Jena porque nesta universidade não era necessário defender a tese perante uma banca, como era exigido na Universidade de Berlim.

A tese apresentada por Marx teria o seguinte título: Onde Demócrito e Epicuro Discordavam Sobre a Filosofia da Natureza. O título da suposta tese serve apenas para lista de divergências, jamais poderia ser considerado uma monografia e muito menos uma tese de doutorado. Quanto à possibilidade de ser permitido fazer doutorado sem bacharelado, deixo por conta do leitor decidir se é ou não plausível, uma vez que não se tem conhecimento de nenhum outro caso de doutorado sem bacharelado na história. Mas a nova narrativa deixou bem claro uma questão, o diploma de Marx foi comprado.

A narrativa marxista diz que Marx trocou o curso de direito pelo curso de filosofia porque estava extremamente influenciado pelas ideias de Hegel, mas o desempenho medíocre refuta essa narrativa. Também alegam os prosélitos marxistas que, após obter o diploma, Marx não conseguiu emprego como professor universitário porque as universidades não estavam mais aceitando professores simpatizantes de Hegel, mas a ausência de formação em bacharelado/licenciatura e o diploma comprado refutam essa narrativa.

A narrativa marxista não menciona nenhum fato que indique a relação de Marx com Hegel até 1843, quando Marx escreve, mas não publica, a primeira crítica ao Hegel. A narrativa marxista alega que foi por influência de Feuerbach que Marx escreveu a primeira crítica, mas também não menciona algum fato que indique Marx sendo influenciado por Feuerbach, apenas supõe que Feuerbach influenciou Marx da mesma forma como influenciou muito estudiosos alemães.

Na primeira crítica a Hegel, que não foi publicada, Marx não aponta nenhum encaminhamento e nenhuma conclusão. Mas em julho de 1844 Marx publicou uma segunda crítica a Hegel, Crítica a Filosofia do Direito, onde o entendimento que Marx apresenta das ideias de Hegel estão explicitamente influenciados pelas ideias de Feuerbach. No entanto, isso não significa que Marx tenha lido Hegel ou Feuerbach, apenas indica que Marx teve acesso às ideias de Feuerbach que contestam Hegel.

Em 1843, Marx mudou-se para Paris, onde se aproximou de Karl Grünn, professor alemão que estava exilado em Paris e era um dos maiores peritos na obra de Feruerbach. Foi através de Karl Grünn que Marx conheceu Proudhon e foi no apartamento de Proudhon que Marx conheceu Bakunin, este sim um estudioso de Hegel. Ressalte-se que a crítica ao Hegel não encontrou nenhum respaldo jundo aos simpatizantes de Feuerbach, em verdade, Karl Grünn se tornou um desafeto de Marx e através de uma carta, Marx tentou colocar Proudhon contra Karl Grünn, mas não teve êxito.

Em 1845, ano em que foi expulso da França, Marx escreveu uma crítica ao Feuerbach, Teses de Feuerbach, que só foi publicada em 1888 por Engels. Depois de ter usado Feuerbach para criticar (depreciar) Hegel, Marx usou Hegel para depreciar Feuerbach. Em 1846, Proudhon publicou a magnífica obra, A Filosofia da Miséria e Marx tornou-se desafeto de Proudhon publicando a obra A Miséria da Filosofia, destilando ódio contra Proudhon. Marx também tentou comprometer a divulgação do livro de Proudhon na Prússia (atual Alemanha), mas foi justamente na Prússia onde Proudhon obteve maior público.

Teria Marx lido Hegel para produzir uma crítica ao Feuerbach? A resposta para esta pergunta está em uma carta de Marx para Engels (1858), onde Marx menciona que foleou o livro A Ciência da Lógica, de Hegel e isso teria sido de grande ajuda para o projeto que ele estava executando. O projeto em questão é O Capital, ou Crítica à Política Econômica. Na carta Marx menciona que o livro pertencia ao Bakunin e chegou às suas mãos através de um amigo em comum. O amigo é ninguém menos que Proudhon, que Marx tinha atacado ferozmente em seu livro A Miséria da Filosofia. Marx publicou O Capital em 1866 e demonstraria sua gratidão ao Bakunin expulsando-o da Internacional Socialista em 1872.

Os leitores podem ficar à vontade para apresentarem indícios ou evidências de que Marx leu Hegel em algum momento de sua vida, eu terei prazer em reconhecer que errei, mas narrativas marxistas e suposições não são indícios nem evidências.

(Milton Valdameri, janeiro de 2021).


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