Devido à existência de muitos vídeos e textos produzidos por
mistificadores e enganadores de várias espécies, que circulam na
internet com grande quantidade de visualização e repercussão,
torna-se indispensável iniciar este ensaio explicando o verdadeiro
significado da expressão nova ordem mundial. A ideia de sociedades
secretas conspirando para implantar uma nova ordem mundial, inclusive
conspirando umas contra as outras, é ridícula por vários motivos,
mas o principal motivo é, sem dúvida, o fato de que, se essas
sociedades secretas existem, então elas não podem ser secretas,
pois são mais famosas na internet que as empresas que fazem
publicidade e seus atos e objetivos são mais conhecidos que qualquer
outra instituição. Este será um ensaio muito longo.
Pela própria natureza do mundo, sempre existiu uma ordem vigente,
que mais dias ou menos dias, acabam sendo substituídas por uma nova
ordem, foi assim com a conquista do fogo, com invenção de armas e
ferramentas, com o surgimento da agricultura e da domesticação de
animais, mudanças climáticas como o fim da era glacial, todas essas
coisas estabeleceram novas ordens mundiais. É possível dizer com
grande segurança, que a base da ordem mundial vigente é a vitória
de Roma sobre Cartago, desse evento histórico emergiu o Império
Romano, sendo a base principal de influência para a ordem mundial
vigente atualmente, inclusive a globalização econômica e cultural.
Alguns eventos históricos são especialmente determinantes para
entender a ordem mundial vigente na atualidade, são eles: 1) O
cristianismo se tornar religião oficial de Roma; 2) O Império Huno
dominar a maior parte da Europa; 3) A colaboração dos Godos com o
Império Romano, inclusive recuperando a Itália e a península
Ibérica do domínio da colisão de bárbaros que derrubaram o
império romano do oriente; 4) O domínio da península Ibérica
pelos árabes, que por sinal é responsável pelo uso dos algarismos
hindus pelos ocidentais (costumam dizer que são arábicos, mas não
são) e reintroduziu na Europa o conhecimento sobre os filósofos
gregos, além de construírem muitas bibliotecas, ao mesmo tempo em
que o cristianismo tinha destruído todo o modelo de conhecimento
secular; 5) O surgimento do mercantilismo, a revolução industrial e
a teoria do livre mercado de Adam Smith; 6) O padrão ouro como moeda
global; 7) O surgimento da URSS, criada por Stálin, Lênin criou a
República Soviética e isso não tem muita relevância para a ordem
mundial vigente hoje; 8) A segunda guerra mundial; 9) A guerra fria
entre o bloco ocidental liberalista e o bloco oriental marxista; 10)
A derrota da URSS na corrida armamentista; 11) A revolução dos
Aiatolás no Irã; 12) O fim da URSS; 13) O ataque aos EUA em
11/09/2001; 13) A guerra ao terrorismo; 14) O surgimento do Estado
Islâmico; 15) A derrota do Estado Islâmico.
Evidentemente que o desenvolvimento da tecnologia é um fator muito
importante para a ordem mundial vigente, mas isso não pode ser
identificado em momentos históricos, é algo que ocorre
constantemente, inclusive porque as invenções mais significativas
demoram em influenciar a ordem vigente, então não é viável
incluir o desenvolvimento da tecnologia neste ensaio. A ordem mundial
vigente, assim como a ordem mundial que se mostra mais evidente como
nova ordem mundial, podem ser entendida com razoável
profundidade, entendendo a conjuntura a partir da guerra fria e o
desenrolar desse confronto.
A guerra fria era baseada em duas disputas, uma era a disputa pela
hegemonia do modelo econômico liberal, baseado no livre mercado e
praticado pela Europa ocidental, EUA e seus aliados, contra a
hegemonia do modelo marxista de economia planificada, praticada pela
URSS, por países dominados pela URSS na Europa oriental e alguns
países da Ásia, como por exemplo a China. O bloco do modelo de
economia liberal era denominado de primeiro mundo e o bloco do modelo
de economia marxista era denominado de segundo mundo, os países que
não se enquadravam em nenhum desses modelos eram denominados de
terceiro mundo, sendo que alguns eram considerados subdesenvolvidos e
outros em desenvolvimento (agora denominados emergentes). A outra
disputa era a corrida armamentista, onde EUA e URSS disputavam a
hegemonia do poder bélico no mundo.
A URSS tinha perdido a disputa do modelo econômico antes mesmo da
disputa começar, basta observar que Lênin, após o fim da guerra
civil na Rússia, abandonou o modelo econômico marxista e adotou o
modelo liberal, conseguindo proporcionar o maior desenvolvimento que
já existiu na história da Rússia. Se Lênin tivesse vivido por
mais dez anos, a história da humanidade seria totalmente diferente e
o marxismo teria desaparecido há décadas, mas o modelo adotado por
Lênin durou apenas seis anos e foi substituído pelo modelo marxista
dois anos após sua morte, por determinação de Stalin, que fundou a
URSS. Por esse motivo a Revolução Russa (revolução de outubro)
não pode ser considerada um fator determinante para a ordem mundial
vigente, ela abandonou o marxismo por conta própria.
Por aproximadamente sessenta anos, a URSS viveu com um modelo
econômico fictício, embora a Rússia fosse (e ainda é) riquíssima
em minério, inclusive petróleo, jamais conseguiu proporcionar
desenvolvimento para sua população, no entanto conseguiu financiar
a Alemanha nazista na segunda guerra mundial (até ser atacada por
Hitler) e desenvolver poder bélico para rivalizar com os EUA. Quando
Stálin morreu, seu substituto, Nikita Khrushchev revelou ao mundo os
crimes de Stálin, causando fraturas nos partidos comunistas do
mundo, mas também revelou que a URSS estava quebrada desde sempre.
Portanto a derrota do modelo econômico marxista foi admitida em
1954, com a posse de Nikita Khrushchev.
A principal missão do sucessor de Stálin era resolver os problemas
da economia, mas a oligarquia política da URSS não cogitava mudar o
modelo econômico, evidentemente Nikita Khrushchev fracassou em fazer
o modelo marxista funcionar e foi substituído por
Leonid
Brejnev em 1964. Com o novo presidente, o modelo marxista continuou
sem apresentar algum resultado positivo, e a única opção para
vencer a disputa dos modelos de economia era um fracasso maior no
modelo liberal.
A
primeira crise do petróleo, em 1973, colocou o modelo liberal sob
provação. A versão oficial para a causa da crise é uma retaliação
da OPEP aos EUA, por ter
apoiado Israel na Guerra
do Yom Kippur,
quando Egito e Síria romperam o acordo de cessar fogo e atacaram
Israel no dia do feriado que deu nome à guerra. O apoio dado pelos
EUA a Israel foi apenas fornecendo petróleo, esse seria o motivo de
fazer uma retaliação aumentando o preço do petróleo.
Mas
existem questões obscuras em relação à essa versão oficial.
Países como Arábia Saudita, Iraque e Kwait tinham bom
relacionamento com os EUA, o Irã tinha inclusive bom relacionamento
com Israel, não faz sentido esses países iniciarem um conflito com
um aliado tão poderoso, principalmente porque esses países
dependiam dos EUA e de outros países aliados dos EUA para a maioria
dos produtos, que obviamente teriam seus preços aumentados como
consequência do aumento no preço do petróleo, é como atirar na
vidraça do vizinho para quebrar o vidro e ser atingido no próprio
pé, pelo ricochete do projétil.
O
único agente político que seria beneficiado com a crise do petróleo
seria a URSS, inclusive na economia, pois era grande produtora de
petróleo, abalaria a credibilidade do modelo liberal e como não
fazia parte da OPEP, abriria portas para vender seu petróleo,
inclusive mais barato. É importante lembrar que, com o fim da URSS,
vieram à tona vários documentos mostrando que a segunda guerra
mundial foi um projeto do Stálin, esse documentos mostram que
Hitler, o Nazismo e a Alemanha foram os instrumentos usados por
Stálin. Então não deveria ser difícil usar a Síria e o Egito,
que eram alinhados com a URSS, para provocar uma guerra com Israel e
provocar um crise no bloco da economia liberal. Mas também não
devemos esquecer que políticos são peritos em fazer besteiras, a
primeira guerra mundial só aconteceu devido a idiotice do imperador
alemão. Então, é aconselhável não descartar nenhuma das
hipóteses.
Independentemente de quem causou a primeira crise do petróleo, a
imagem apresentada para o mundo durante esse período era de um bloco
liberal em crise e de um bloco marxista estável, pois a crise no
bloco marxista sempre foi acobertada. Mas o modelo liberal saiu
vitorioso, o livre mercado superou a crise e os grandes prejudicados
foram os países do terceiro mundo, que não enfrentaram a crise com
o livre mercado, mas com intervenções do estado na economia, o
resultado foi um processo inflacionário que saiu do controle e levou
aproximadamente duas décadas para ser controlado.
Ao contrário do que a crise do petróleo poderia oferecer à URSS,
que seria a ruína do modelo liberal, a situação mostrou que o
modelo liberal tem grande capacidade de superar crises, mas o modelo
marxista não é capaz de sair da estagnação. A disputa entre os
modelos econômicos estava mais que decidia em favor do modelo
liberal, restava à URSS apenas a disputa na corrida armamentista.
Mas é necessário entender que as armas atômicas não tinham
relevância na corrida armamentista, por um motivo simples, os dois
lados possuíam armas atômicas suficientes para destruir o inimigo,
então, iniciar uma guerra com armas atômicas significava iniciar a
própria destruição, não importava quem seria destruído primeiro,
o outro lado sempre conseguiria reagir a tempo de destruir o lado que
atirou primeiro.
A guerra fria ficou restrita à corrida armamentista de armas
convencionais, mas durante o governo de Jimmy Carter (20/01/1977 à
20/01/1981), os EUA desenvolveram doze projetos militares que
estabeleceram a superioridade bélica em favor dos EUA, a corrida
armamentista também estava decidida em favor do bloco liberal. É
oportuno lembrar que, embora financiados pelo governo Carter, o
governo americano não tem a atribuição de desenvolver armas, essa
é uma atribuição das forças armadas, que são instituições de
estado e não instituições de governo, portanto não deve ser
entendido como um mérito do governo Carter, deve ser entendido
apenas como um fato acontecido durante seu governo.
Essa informação sobre a supremacia americana ter sido atingida
durante o governo Carter só foi tornada pública pelo filho de
Nikita Khrushchev no documentário “Comunismo Uma Ilusão”
e até hoje permanece desconhecida pela maioria das pessoas. No
entanto, existia um problema político, os EUA não podiam anunciar a
supremacia bélica, pois seria vista como mera estratégia política,
além do mais poderia ser interpretada pela URSS como uma provocação
e iniciar um conflito bélico. Por outro lado, a URSS não podia
anunciar sua inferioridade, pois perderia sua influência política e
o controle sobre os países que dominava ou estavam alinhados
politicamente com a URSS.
Oportunamente, em janeiro de 1978 ocorreu a revolução dos Aiatolás
no Irã, que acabou com a deposição do Xá
Reza
Pahlev. É
necessária lembrar que o Irã era um país alinhado com o modelo
liberal e tinha bom relacionamento até mesmo com Israel, mas não
havia sinais de descontentamento da população com a política
externa do país. O descontentamento da população estava
relacionado com a excessiva influência dos costumes ocidentais em
sua cultura, mas é questionável se esse descontentamento foi
espontâneo ou disseminado deliberadamente por motivos políticos.
Tentar descartar a ingerência política por parte da URSS é tapar o
sol com a peneira, pois o Xá
Reza
Pahlev concentrou sua reação justamente combatendo o comunismo,
porém o combate ao comunismo prendeu muitos adversários políticos
e fortaleceu a insatisfação do povo com o governo, fortalecendo
também o apoio aos Aiatolás. É possível dizer com segurança que
a revolução no Irã foi uma experiência bem-sucedida no sentido de
usar a religião como arma para destruir o liberalismo, os costumes
ocidentais e seculares.
A
revolução no Irã causou uma segunda crise do petróleo, mas a
resposta do governo Carter à ingerência da URSS no Irã foi um tapa
de luvas com o poder de uma martelada. Jimmy Carter reduziu
drasticamente o orçamento militar, fortalecendo as finanças
públicas e minimizando os efeitos inflacionários da segunda crise
do petróleo. Reduzir drasticamente o orçamento militar em plena
guerra fria significava apenas uma coisa, a URSS não representava
mais uma ameaça militar.
Em
novembro de 1979, nove meses após os aiatolás implantarem a
teocracia islâmica no Irã, a embaixada dos EUA foi invadida e 52
americanos foram feitos reféns. A invasão na embaixada dos EUA não
faz sentido para os interesses dos aiatolás, pois eles poderiam
simplesmente expulsá-los do país e romper relações diplomáticas.
Mais uma vez a única beneficiada pela crise política causada aos
EUA seria a URSS. Depois de seis meses de tentativas fracassadas nas
negociações para libertar os reféns, foi realizada uma operação
militar, que resultou num retumbante fracasso e agravou a crise.
O
fracasso da operação militar no resgate dos reféns foi amplamente
utilizado nas eleições americanas de 1980, pela campanha do
adversário de Jimmy Carter, o republicano Ronald Reagan, que atribui
o fracasso da operação militar ao governo Carter sem
responsabilizar os verdadeiros responsáveis pela operação, que
eram os próprios militares. A campanha de Reagan atribuiu o fracasso
da operação militar no Irã ao corte no orçamento das forças
armadas, mas os militares americanos nunca mostraram insatisfação
com o corte no orçamento, além do mais, uma operação militar
possui orçamento separado do orçamento padrão.
Reagan
venceu as eleições, um acordo com o Irã foi assinado na véspera
da posse e os reféns foram libertados poucos minutos após a posse
de Reagan. Precisa dizer mais? Entre as primeiras medidas adotadas
por Reagam, estava o aumento no orçamento militar, que resultou no
aumento imediato da inflação nos EUA, por desequilibrar o
orçamento. Mas a medida mais importante foi o anúncio do projeto
“Guerra
nas Estrelas”,
que consistia em satélites capazes de interceptar mísseis
intercontinentais com raio laser. Esse projeto serviu de pretexto
para a URSS admitir a supremacia bélica dos EUA e iniciar reformas
estruturais como a glasnost
e perestroika,
que resultariam no fim da URSS, decretando oficialmente o fim da
Guerra Fria.
Ocorre
que o projeto “Guerra
nas Estrelas”
é inexequível, ou seja, uma farsa que relacionou o fim da URSS com
a corrida armamentista de armas atômicas e não com a corrida
armamentista de armas convencionais. No entanto, a Rússia nunca
deixou de ter capacidade de destruir os EUA com armas atômicas,
tampouco a Rússia adotou um modelo democrático para a política ou
um modelo ocidental para a economia, muito pelo contrário, a Rússia
sempre combateu a globalização do modelo econômico ocidental.
Para
aqueles que consideram absurdo dizer que o projeto “Gerra
nas Estrelas”
foi uma farsa, eu pergunto apenas o seguinte: por que ele não está
sendo executado agora que a Coreia do Norte representa uma ameaça
iminente de ataque atômico? Mas quero deixar claro que a farsa do
projeto “Guerra
nas Estrelas”
não deve ser considerada uma conspiração contra o mundo ou contra
os EUA, foi uma solução diplomática bilateral que evitou o
prolongamento e um possível agravamento da Guerra Fria.
Mas
no
meu entendimento, a Guerra Fria só acabou no papel, o combate ao
modelo econômico ocidental continuou sendo praticado, porém com
novas armas, a religião e o conservadorismo.
Mas é necessário entender a diferença entre conservadorismo
e pensamento
conservador.
A democracia é baseada em duas linhas de pensamento, o conservador e
o liberal, que são divergentes nas ideias, mas não são inimigos
que desejam destruir um ao outro, inclusive as duas linhas de
pensamento possuem divergências internas que resultam em
convergências externas.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, parte do Partido Republicano e parte do
Partido Democrata eram contra a entrada na guerra, enquanto que as
outras partes de ambos os partidos eram a favor. No Partido
Democrata, John Kennedy era a favor da entrada na guerra, mas seu pai
era contra. Outro exemplo significativo de convergência entre as
duas linhas de pensamento é o atual governo de Donald Trump, onde em
determinadas ocasiões o próprio partido manifesta oposição. No
caso do governo Trump aconteceu uma situação inédita, pela
primeira vez uma chefe de governo conservadora do Reino Unido se
manifestou contra um chefe de governo conservador dos EUA.
O
conservadorismo
não possui relação com a democracia, é baseado em autoritarismo
com estreita relação entre estado e religião, como acontece nos
países islâmicos, o exemplo mais significativo de conservadorismo
relacionado com o cristianismo vem justamente da Rússia com o regime
czarista, que por sinal não era muito diferente do regime
stalinista. É oportuno lembrar que a Igreja Ortodoxa Russa sempre
foi uma instituição controlada pelo Estado, tanto no período
czarista como no período stalinista, e o serviço da igreja ao
Estado permanece até hoje.
Coincidentemente,
mas eu não diria que foi por mera coincidência, na década de 1980
começou uma monstruosa proliferação de denominações de igrejas
cristãs, a estimativa atual é de mais de 50 mil denominações
diferentes de igrejas cristãs. A maioria dessas denominações são
explicitamente inimigas dos valores ocidentais seculares e da
ciência, mas também são explicitamente inimigas da igreja católica
e das igrejas protestantes tradicionais. Não há como negar a
semelhança entre a revolução no Irã e a influência dessas novas
igrejas na política dos
países ocidentais.
Uma
palestra apresentada em 1983, na Summit
University de Los Angeles (aqui),
um suposto desertor da KGB mostrou como a URSS praticava a subversão
nos países inimigos e também mostrou como se proteger dessa
subversão. Segundo o suposto desertor, a base da defesa contra a
subversão é promover a religião, mas também é necessário
restringir liberdades, restringir direitos civis e controlar os meios
de comunicação, ou seja, rasgar a constituição americana.
O suposto desertor apresentou os meios de comunicação como
subversivos com base no fato de que os jornalistas não são eleitos,
mas não usou o mesmo critério para considerar a religião
subversiva, por acaso os aiatolás, os pastores evangélicos, os
padres, os bispos e os cardeais são eleitos por alguém? O papa é
eleito, mas quem o elege são os cardeais que não são eleitos por
ninguém, em verdade, são nomeados pelo papa anterior e seguem o
viés de eleger o próximo papa para prosseguir com o pensamento do
papa anterior, embora isso nem sempre aconteça.
A palestra do suposto desertor necessita de uma análise criteriosa,
que não pode ser apresentada integralmente neste ensaio, mas resta
algo que não posso deixar de mencionar. Em nenhum momento o suposto
desertor menciona a revolução no Irã, pois seria um exemplo
contundente de uma situação onde a religião derrubou um governo e
transformou o aliado dos EUA em aliado da URSS, no entanto, foi
citada a guerra civil no Líbano, dizendo de forma subliminar que a
guerra civil no Líbano foi consequência da subversão praticada
pela URSS promovendo liberdades civis como o feminismo e direitos aos
homossexuais, que ele havia mencionado anteriormente como liberdades
a serem restringidas. Ocorre que a guera civil no Líbano foi mais
uma revolução promovida através da religião e que derrubou outro
governo alinhado com os EUA e se tornou alinhado com a URSS.
Outra questão de extrema relevância é a guerra no Afeganistão,
que acabou sendo apresentada ao público como o Vietnã da URSS. Mas
existe um final muito peculiar com a derrota da URSS no Afeganistão,
o governo do Afeganistão ficou nas mãos do Talibã, que colocou o
Afeganistão como base territorial para a Al-Qaeda treinar
terroristas. A parte mais interessante é que o Osama Bin Laden foi
arregimentado pelos EUA para liderar um grupo treinado pela CIA para
combater os soviéticos no Afeganistão, foi exatamente esse grupo o
responsável pelo surgimento da Al-Qaeda, que se transformou no
principal inimigo dos EUA após o fim da URSS. Concluindo, o suposto
desertor mostrou em sua palestra em 1983 o modelo que corresponde ao
adotado pela Rússia após o fim da URSS.
Embora existam outros eventos históricos que podem ser mencionados,
não vou mencioná-los pois o ensaio já está muito longo e
considero que os eventos mencionados são suficientes para a
construção do raciocínio. Então vou pular uma parte da história
e ir diretamente para o ponto central deste ensaio, que é o fim do
Estado Islâmico e a Nova Ordem Mundial. Mas antes é oportuno
lembrar que, em julho de 2016, publiquei um ensaio sobre o Estado
Islâmico (aqui)
onde disse que ele já estava derrotado mas a guerra não tinha
acabado e não havia previsão de quanto tempo duraria. Posso dizer
com segurança que acertei plenamente em minha análise sobre a
derrota do do Estado Islâmico, inclusive com a guerra terminando
antes do que eu imaginava.
Também devo mencionar que publiquei em abril de 2017, um ensaio
sobre o bombardeio dos EUA à Síria (aqui),
destruindo uma pista da força aérea síria, devido ao uso de armas
químicas contra os rebeldes sírios. Nesse ensaio eu mencionei a
possibilidade de um acordo entre Trump e Pútin, no sentido de
derrubarem o governo da Síria e saírem os dois como vencedores, o
Trump por derrubar o governo da Síria e o Pútin por conseguir a
simpatia dos americanos e europeus. Desta vez errei feio e o Trump se
mostrou mais serviçal do Pútin do que nunca.
Num encontro entre Trump e Pútin, ocorrido na Rússia, o resultado
diplomático foi o seguinte: concessões feitas por Trump, TODAS;
concessões feitas por Pútin, NENHUMA. Os EUA pararam de apoiar os
rebeldes sírios e o governo que Trump disse que ia derrubar se
consolidou no poder. No entanto, Trump disparou pesado contra o Irã,
não com o uso de armas bélicas, mas armas diplomáticas. Trump
revogou o acordo como Irã sobre armas atômicas, colocando um fim na
reaproximação que o Irã estava fazendo com os EUA, contrariou a
ONU e todos seus aliados tradicionais que apoiavam o acordo, com
exceção de Israel, que atualmente possui o pior governo de sua
breve existência.
O atual governo do Irã conta com grande apoio da população, mas
grande oposição do fundamentalismo religioso, a reaproximação com
os EUA e o ocidente significava um enfraquecimento da influência da
Rússia no Oriente Médio, mas também significava um enfraquecimento
do fundamentalismo islâmico e do terrorismo. Agora o governo do Irã
ficou isolado e terá que fortalecer novamente seu relacionamento com
a Rússia, a possibilidade de ser derrubado e substituído por um
governo fundamentalista é significativa.
Outro país que estava se aproximando veladamente da Rússia há
algum tempo é a Turquia, com a política externa do Trump essa
aproximação ficou explícita e está se consolidando cada vez mais.
Mas as consequências não param aqui, com a derrota do Estado
Islâmico a Arábia Saudita também se aproximou da Rússia,
inclusive comprando armas, porém o mais impressionante foi a
aproximação de Israel com a Rússia. Esse é o saldo no Oriente
Médio após um ano de governo Trump, não derrubou o governo da
Síria, não trouxe o Irã para o seu lado, perdeu a Turquia e os
dois principais aliados se aproximaram da Rússia, Arábia Saudita e
Israel.
Não posso deixar de mencionar que há poucos dias, Donald Trump
decidiu transferir a embaixada dos EUA de Telaviv para Jerusalém,
como demostração do reconhecimento de Jerusalém como capital de
Israel. Essa decisão foi tomada sem nenhum pedido por parte de
Israel, foi recebida pela ONU e pela comunidade internacional como
uma afronta, mas para os países islâmicos foi recebida como uma
agressão. Trump conseguiu se afasta muito mais do Oriente Médio e
acendeu as brasas de uma fogueira que estava latente.
Não encontrei nenhuma manifestação de Israel sobre o ocorrido, se
alguém tem informações sobre isso, por favor apresente nos
comentários. É muito difícil entender o que se passa na cabeça do
Trump, é possível que ele próprio não saiba, mas os indícios
mostram que Trump não desejava agradar Israel, mas os
fundamentalistas cristãos que entendem que com o reconhecimento de
Jerusalém como capital de Israel, será construído o terceiro
tempo, condição necessária para a vinda de Jesus, para que os
fanáticos cristãos sejam arrebatados aos paraíso e o resto do
mundo mandado para o quinto dos infernos.
Para não ferir a honestidade intelectual, indico três vídeos
(aqui,
aqui
e aqui)
que apresentam outra análise sobre a situação da Rússia. No
terceiro vídeo fica explícita a ingerência da Rússia na OPEP, mas
os dois primeiros podem ser considerados como contrapontos ao ensaio.
Mas no meu entendimento, a Nova Ordem Mundial se caracteriza pelo
domínio do Oriente Médio, pelo controle do mercado de Petróleo
pela Rússia e o conflito religioso será a arma de desestruturação
da cultura secular ocidental. É oportuno lembrar que o conflito de
religião já foi usada pelo Nazismo e que a Segunda Guerra Mundial
foi uma estratégia do Stálin para dominar a Europa. Se desta vez a
cultura secular ocidental será derrotada, vai depender da própria
população que deseja continuar vivendo de acordo com essa cultura.
Como ficará a situação da Europa e do continente americano ao sul
dos EUA é algo ainda indefinido, mas é necessário observar que
Trump retirou os EUA do Tratado do Pacífico, que tinha uma cláusula
de permitir a participação da China justamente para satisfazer os
EUA, com a saída do tratado, a cláusula perdeu sentido e o espaço
ficou vago para a participação da China. No caso da Europa, a
aproximação comercial com a China está em pleno andamento e cada
vez mais consolidada, a possibilidade de a China servir de canal
entre a Europa e o Tratado do Pacífico é significativa. Mas por
enquanto é apenas especulativo.
Para finalizar, é importante dizer que a velha luta de classes não
foi substituída pelo conflito de religiões, embora a luta de
classes não funcione mais em países desenvolvidos, ela continua
sendo eficiente em países subdesenvolvidos como o Brasil, a
Venezuela é o exemplo mais contundente da eficiência da luta de
classes na atualidade. Mas é legítimo dizer que a luta de religiões
se tornou a principal estratégia do marxismo, mesmo onde a luta de
classes ainda está sendo usada. Não deve ser esquecido que um dos
aforismos centrais do marxismo é “a religião é o ópio do povo”,
nada melhor do que o ópio para destruir uma sociedade, não é
mesmo?
Milton Valdameri, dezembro de 2017.
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